Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Anselm Grün ensina a reconciliar-se com Deus

06/09/2014

Notícias

Moacir Beggo

São Paulo (SP) – O monge beneditino Anselm Grün traçou um itinerário para se reconciliar com Deus em palestra proferida neste sábado, 6 de setembro, em São Paulo: Curar as feridas, recuperar a imagem positiva de Deus e exercitar o perdão. O evento, realizado pela Editora Vozes, Paulus e Paulinas, lotou o auditório da Fapcom, na Vila Mariana, e foi aberto, às 15 horas, pelo provincial dos Paulinos, Pe. Valdir José de Castro, que deu as boas vindas e falou da alegria de sediar um encontro como esse exatamente no ano do centenário de fundação dos Paulinos.

anselm_3Com mais de cem títulos traduzidos no Brasil e mais de 2 milhões de exemplares vendidos, Anselm Grün termina em São Paulo sua ‘turnê’ pelo Brasil proferindo palestras e fazendo o lançamento simultâneo de três livros: “Reconciliar-se com Deus – Curando as feriadas da alma”, “O poder da decisão – Na vida, nos relacionamentos, no trabalho e no cotidiano”, e “Vinho – Um presente do Céu e da Terra”. Acessível e esbanjando simpatia, o monge beneditino não economizou em atenção aos seus leitores: abraçou, fez ‘selfies’ sem parar, abençoou e autografou suas obras.

O ‘best-seller’ da Editora Vozes, com 14 milhões de livros traduzidos em 30 idiomas no mundo, publicou o primeiro livro em 1998, quando ‘explodiu’ com “O Céu começa em você”. “O Brasil é um país onde se traduziu a maior parte de meus livros e isso mostra, de certa forma, que temos um parentesco espiritual”, elogiou o alemão. Desta vez, Grün falou durante duas horas sobre como podemos lidar com as imagens e representações doentias de Deus que se encravaram profundamente em nossa alma.

Anselm teve ao seu lado o diretor da Vozes, Frei Volney Berkenbrock, que fez a tradução do alemão. “A imagem de Deus que temos sempre corresponde à nossa própria imagem. As imagens foram inculcadas em nós e as carregamos conosco”, disse. “Muitas pessoas, em suas histórias de vida, tiveram imagens negativas de Deus e, sobretudo, uma imagem de Deus controlador e castigador”, reforçou. Para fugirem das feridas, muitas pessoas preferiram se afastar totalmente de Deus como uma forma de se libertarem daquelas imagens dolorosas que os feriram.

Um exemplo disso é imagem de Deus que muitos pais passam para os seus filhos com o pretenso objetivo de educar. “Muitos pais não conseguem controlar os filhos e passam a imagem de que Deus controla tudo, até os pensamentos mais íntimos da criança. E esse Deus que tudo enxerga, controla e castiga causou muito medo às pessoas”, lamentou.

anselm_2Grün citou que, na década de 70, na Alemanha, o psicoterapeuta Tilmann Moser escreveu um livro com o título “O envenenamento de Deus”, criticando duramente sua educação evangélica. Segundo Grün, ele dizia que Deus foi envenenado através de imagens ruins. “Deus é encarado como um patriarca violento e sem misericórdia”, contou.

“Deus está por toda a parte, e vê tudo. Do Deus todo-poderoso e onipotente a criança não pode escapar. Deus sempre tem as crianças em suas mãos. Uma imagem de Deus desse tipo conduz ao envenenamento”, lamentou. Outro “envenenamento” é o da decepção que muitas pessoas têm com a Igreja: “Deus é tão fraco a ponto de não poder mais preencher com seu Espírito a sua Igreja? A gente rezou durante anos e foi fielmente à missa. Apesar disso, parece que Deus não nos deu atenção”, analisa o monge.

Outra imagem que afasta de Deus é a que transmite o sentimento de culpa. “Ou seja, o sentimento de que somos culpados. Muitas pessoas interiorizaram isso na infância: eu sou uma pessoa ruim, um pecador, sou uma pessoa negativa”, disse. Segundo ele, é uma ilusão achar que o ser humano pode viver sem culpa e que a culpa é uma emoção humana primária a todos nós. “A questão é como eu lido com a culpa e com o sentimento de culpa. Eu não posso lidar com isso sem perder a minha autoestima”, destacou, lembrando que muitos cristãos infundiram-se sentimentos profundos de culpa.

anselm_1Mas, segundo Anselm, a imagem central da salvação e da absolvição da culpa é a imagem da cruz. “Nela não devemos ver tanto uma imagem dos pecados, mas antes uma imagem do amor de Jesus Cristo com o qual Ele nos amou perfeitamente”.

O religioso alemão lembrou que há correntes que tratam a espiritualidade de forma fanática e fundamentalista. Segundo ele, fundamentalismo não é o mesmo que fanatismo. “No fundamentalismo, a fé é construída sobre uma fundação firme. Isso é muito bom. Mas, infelizmente, os fundamentalistas se atêm tão firmemente à sua fundação, que se tornam rígidos. Eles confundem Deus com os dogmas sobre Deus”, explicou. “Já no fanatismo – a palavra vem do latim fanum (lugar sagrado) – as pessoas são tomadas profundamente por Deus e caem em êxtase. O problema é que quem foi transportado para um entusiasmo arrebatador é cego para a realidade. Negligencia todas as leis e mandamentos e as necessidades das pessoas. Os fanáticos precisam refugiar-se em fantasias de grandeza para encobrir a sua pequenez”, diagnosticou o monge.

Segundo Anselm, todos somos chamados à tarefa de tornar Deus perceptível às pessoas, de modo que o anseio espiritual delas seja atendido. “Somente através de uma descoberta honesta, as nossas imagens podem ser transformadas e nós podemos nos conciliar conosco e com Deus”, frisou o monge.

O perdão e “a despedida do papel de vítima” estão no caminho desta reconciliação. E um passo para se livrar dessa condição, segundo Grün, é abençoar a quem causou a ferida. “Ao abençoar, saio da condição de vítima para um papel ativo, em que transmito força para o outro”, ensinou.

No final da palestra, Grün lembrou que uma das formas de se enxergar Deus de forma positiva é através da beleza, percebendo esse valor no ser humano, na arte, na liturgia. “Às vezes nos esquecemos de fazer a teologia do belo. Pela beleza, conseguimos perceber Deus”, disse o escritor. Segundo ele, a tradição cristã tem muitas imagens positivas de Deus, mas não se deve tomá-las como absolutas, pois são janelas para percebê-lo. “Ele permanece como mistério”, completou.

Depois da palestra, ele respondeu algumas perguntas que foram selecionadas e fez um momento de oração que emocionou as pessoas, citando as feridas que marcaram e marcam a nossa vida.