Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Início do ministério presbiteral de Frei José Raimundo

26/08/2018

Notícias

Moacir Beggo

Bauru (SP) – Apresentando suas primícias em oferenda, Frei José Raimundo de Souza presidiu pela primeira vez a Eucaristia neste domingo, 26 de agosto, depois de ordenado presbítero neste sábado (25) por Dom Caetano Ferrari. O novo presbítero teve a ajuda fraterna de Frei Alan Maia de França Victor para auxiliá-lo durante o rito.

A comunidade que se reuniu neste domingo na Paróquia Santa Clara de Assis, na Vila Industrial II, em Bauru (SP), parecia uma grande família, que fazia questão de mostrar o quanto estava feliz com a felicidade de Frei José. Parentes, amigos, os peregrinos que vieram de Colatina (ES) e Imbariê (RJ, confrades, colegas de turma, aspirantes… , todos queriam “partilhar este pão” com Frei José.

Por representar um importante papel em sua caminhada, Frei José convidou Frei Benedito Gonçalves, pároco da Paróquia Bom Jesus em Sorocaba (SP), para fazer a homilia de sua primeira Missa. Brincando com o neopresbítero, Frei Dito, como é mais conhecido, chamou o novo sacerdote de “Zezão” – ele é conhecido pela comunidade como Frei Zezinho – e revelou que estava feliz, assim como todos estavam, pela conclusão de uma grande e importante etapa de sua caminhada religiosa. “A vontade de Deus para nós é uma só: que a gente seja feliz! E nós nos alegramos com ele neste momento”, disse.

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Frei Dito foi o autor do desenho do convite para a ordenação presbiteral, tendo como lema “Dai-lhes vós mesmos de comer” (lc 9, 13). A explicação do desenho foi a sua mais bela homilia. Segundo Frei Dito, a ideia partiu do lema, mas lembrou que São Francisco e Santa Clara partilhavam o pão com aqueles que mais necessitavam. “E me veio na mente o encontro de Francisco com o leproso. Aliás, ontem uma pessoa falou assim para mim: ‘Quando vi esse desenho, ‘tava’ na cara que era do Frei Dito, porque tem peixinhos e idoso”. Não é toda vez que faço peixinhos e idoso”, disse, arrancando risos da assembleia.

missa_260818_2Então Frei Dito começou a pôr a ideia em prática, mas se deparou com um problema: a história não diz que Francisco partiu o pão com o leproso. Mesmo assim continuou desenvolvendo esta ideia e mais adiante tudo ficou mais claro: “Segundo o evangelista São João, Jesus diz para as pessoas que vêm atrás do pão material para que busquem o pão da vida eterna. São Francisco, de fato, não deu o pão para o leproso. Mas esse encontro marcou toda a sua vida. Quando ele estava perto do fim da sua vida, escreveu no Testamento, lembrando deste fato: ‘Aquilo que era amargo se tornou em doçura da alma’. Ou seja, São Francisco não deu o pão para o corpo, mas deu de si mesmo. O leproso era alguém considerado morto. Ele era declarado morto numa cerimônia que a própria Igreja presidia e o declarava excluído por toda a sociedade. Era obrigado viver fora dos muros da cidade. Ao descer do seu cavalo, ao deixar para trás as suas próprias vontades, ao abraçar aquele homem e beijá-lo, São Francisco deu o pão da vida eterna. Não deu o pão físico, mas deu o pão eterno. Fez com que aquele homem se sentisse gente de novo, se sentisse vivo de novo, porque alguém vivo veio visitá-lo e beijá-lo. Isso é pão da vida eterna”, explicou.

“A gente pode até dar o pão – e deve porque tem muita gente com fome -, mas é preciso que, como frade, como irmão que você é Frei José, dê o pão de si mesmo. Dê o pão da vida eterna, da Palavra do Senhor, que buscou ser feliz através dela. Agora, nesta missão concluída, é hora de partilhar essa felicidade que você encontrou na dura Palavra do Senhor”, ensinou o pregador.

Segundo o desenhista, Francisco e o leproso têm o pão nas mãos: “Porque aquele que dá o pão nunca sai de mão vazia”, adiantou Frei Dito. “Ao mesmo tempo que aquele homem se sentiu gente de novo e vivo, São Francisco também se curou do seu egoísmo e abandonou a sua maneira de pensar. Dali para frente, ele foi outra pessoa. Nunca mais ele deixou os leprosos. Em todo o lugar por onde ele ia, fazia questão de procurar os leprosos. Tratava de suas chagas, estava com eles, partilhava o pão da vida eterna. E ali ganhava novos irmãos”, acrescentou.

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Frei Dito explicou que partilhar o pão não é dar o pão. “É comer juntos. Aliás, eu gosto muito dessa palavra: companheiro. Aquele que parte conosco o pão. Então, São Francisco se tornou companheiro daqueles mais necessitados. Partilhava com eles o pão. Frei José escolheu para a sua vida, para o seu caminho, para a sua felicidade, escolheu ser companheiro dos pobres, dos pequenos nesse mundo. Isso é o que diz o lema que ele escolheu para a sua vida. Nunca abandone essa ideia de andar junto! Atrele a sua vida à Palavra do Senhor, que é dura, mas que traz vida eterna e felicidade. Entregue sua vida à inspiração constante de nosso Pai São Francisco”, exortou o neo-presbítero.

Frei Dito, bem ao seu estilo, terminou com uma história da vida de São Francisco:

Nos primórdios da Ordem Franciscana, os frades recebiam jovens e pessoas de qualquer idade. E São Francisco passou por um conventinho, muito pequeno e pobre. E por conta da pobreza, os frades dormiam dois a dois nas pequenas camas. Lá havia um garoto que ficou todo feliz quando São Francisco chegou lá. Encontrar São Francisco era um sonho da vida dele. E foi dormir na mesma cama de São Francisco. Queria conhecer o santo melhor, descobrir como era a sua vida, o que fazia… Por conta disso, ficou atento aos menores movimentos do santo, que logo adormeceu. O jovem, para não perder nada daquela experiência e temendo que pudesse dormir também, sem fazer barulho, amarrou o seu cordão no de São Francisco. E dormiu. Lá ‘pelas tantas’ da madrugada, São Francisco acordou para rezar como era seu costume. Viu que seu cordão estava amarrado e, com jeito, desamarrou, indo para o bosque rezar. O menino, então, acordou e viu que São Francisco não estava mais na cama. Desesperado, foi procurá-lo, achando-o no bosque. Ali viu uma luz bonita envolvendo São Francisco. Ele ficou tão maravilhado com aquilo e procurou se aproximar o máximo que pôde.  E viu que, no meio daquela luz, o próprio Cristo falava com São Francisco. De tão maravilhado, ele desmaiou. São Francisco terminou a sua experiência mística e estava voltando para o Conventinho quando tropeçou no menino desmaiado. Pegou-o nos braços e levou-o para a cama e adormeceu em seguida. No dia seguinte, São Francisco disse: “Não conte para ninguém o que viu até que eu morra!”. E a gente só sabe dessa história porque o menino cresceu e se tornou frade, morreu em fama de santidade e mais tarde contou essa história para os frades, fazendo a história chegar até nós.

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“O que eu quero dizer com isso, Frei José? É que assim como aquele menino, você também um dia foi um menino atrás de São Francisco. Então, amarre o seu cordão no cordão de São Francisco para sempre! Nunca deixe de andar com ele. Se acontecer de você desfalecer também, não tenha medo porque São Francisco o toma nos braços e o leva para junto dele!”, ensinou, confortou e iluminou Frei Dito.

Frei José disse que nunca esqueceu o que Frei Dito lhe disse uma vez: que tivesse de São Francisco nem que fosse a lasquinha de uma unha. “No Frei Dito que conheci e convivi,  eu vi muito mais do que uma lasquinha. Eu vi um exemplo de vida franciscana”, homenageou.

Frei José mais uma vez demonstrou todo o amor que sente pelos seus pais num abraço carinhoso e demorado ao entregarem o pão e o vinho a ele para a consagração. Do seu lado, duas dezenas de seus confrades ajudaram a tornar esse momento de ação de graças especial na vida da comunidade, de cada um presente e, de modo especial, de Frei José.

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Belisânea Nascimento

O pároco Frei Alessandro Nascimento agradeceu a presença de todos e, principalmente, a colaboração dos paroquianos para ajudarem na Semana Missionária. Agradeceu especialmente a Frei Diego Atalino de Melo, do Serviço Vocacional da Província, e lembrou que ele estava fazendo aniversário neste dia. Agradeceu ao Vigário Provincial, Frei César Külkamp, pela presença.

Belisânia Nascimento, paroquiana de Colatina, falou pelo grupo que veio de tão longe. “Viajamos 24 horas para viver esse momento especial com você, Frei José. Foi um longo caminho, mas valeu todo o esforço”, disse, pedindo a confirmação de seus 42 companheiros de viagem que vieram de Colatina.

Para ela, o testemunho de Frei José os fez melhores e com vontade de trabalhar mais e mais pelo reino de Deus. “Mais uma vez, obrigado pelos seus ensinamentos, mas principalmente por nos mostrar Jesus Cristo através da sua pessoa, sendo simplesmente Frei José, um homem de coração grande e de grande motivação. Um homem com o nome de apenas quatro letras, mas que, quando pronunciadas, vêm carregadas com o sentimento de estima, respeito e consideração. Saiba que pode contar com cada um de nós nesta caminhada. Obrigado por tudo. Permita lhe dizer: você não é nosso frei, mas você é nosso irmão!”, encerrou.

A festa da ordenação presbiteral terminou com um delicioso almoço servido pela comunidade. Frei José ficará em Bauru durante uma semana e celebrará nas comunidades das Paróquias de Santo Antônio e Santa Clara.