Alegria de servir: a Festa de Santo Antônio no Largo da Carioca
13/06/2019
Moacir Beggo
Rio de Janeiro (RJ) – D. Eunice de Lima Arouca era uma jovem de 20 anos quando começou a subir o Morro de Santo Antônio para alimentar uma devoção que tinha desde criança a Santo Antônio. Aos 81 anos, ela continua firme e forte nesta devoção ao Padroeiro do tradicional Convento do Largo da Carioca, que se divide na capela durante as celebrações e no trabalho para os festejos externos, que começam bem antes. “No começo de maio eu já estou aqui para limpar a canjica e deixá-la pronta para a Trezena”, conta D. Eunice, que representa, por sua dedicação e voluntariado, todo um grupo de cerca de 80 pessoas que se dedica e se doa para que o santo franciscano seja celebrado, no 13 de junho, como merece.
Para D. Eunice, estes momentos fortes da comunidade são únicos na vida e merecem serem feitos com alegria, disponibilidade e desejo de servir. Para ela, a festa do Padroeiro renova a fé dos devotos e mantém viva essa comunidade de fé há 411 anos no centro da Cidade Maravilhosa.
Segundo D. Eunice, esse grupo de senhoras tem como fundamento a Pia União de Santo Antônio, uma irmandade que foi criada no Convento em 1910. Hoje, já não é mais tão ativa a entidade, mas suas representantes estão sempre prontas para ajudar o Convento na Festa e nas terças-feiras dedicadas ao santo. A Pia União foi criada com o compromisso de enaltecer a devoção ao Padroeiro. Sua principal função é a distribuição dos pãezinhos de Santo Antônio nas missas das terças-feiras, quando são abençoados.
Mãe de três filhos – uma é minha sobrinha que criei desde os 3 anos -, D. Eunice passou a morar com a filha no centro do Rio depois do falecimento de seu esposo, ficando mais próxima do Convento. “Temos um bom grupo de senhoras que ajudam aqui, mas o desafio é encontrar pessoas mais jovens para continuar fazendo este trabalho”, avalia D. Eunice, para quem servir na festa é uma obrigação: “Santo Antônio faz parte da minha vida”. Essa devoção está marcada no nome que escolheu para o único filho: Antônio, que hoje reside nos Estados Unidos.
Essas cerca de 80 pessoas estão trabalhando na Festa, dividem-se nas barracas de canjica, cachorro quente, pastel, sopa, refrigerantes, pãozinho e água benta, artigos religiosos e lembrancinhas. “Tem voluntárias que trabalham o ano todo fazendo lembrancinhas para vender no dia da festa”, recorda D. Eunice.
Já D. Maria José está há mais de 20 anos na Pia União de Santo Antônio mas é devota de Santo Antônio desde que festejou seus 15 anos no Convento Santo Antônio. Em agosto, ela completará 95 anos. “Eu era professora e, quando eu me aposentei, passei a servir aqui todas as terças-feiras e durante as Trezenas”, conta, informando que a devoção a Santo Antônio vem da família de origem portuguesa. Ela, contudo, casou com um espanhol e teve uma filha. Depois de participar da Missa, D. Maria José foi trabalhar na barraca do Bolo de Santo Antônio. Para ela, o mundo mudou muito e, infelizmente, tem pouco o que comemorar. “Hoje, com quase 100 anos de vida, a gente tem que ter uma tolerância muito grande porque senão não vive de jeito nenhum”, avalia.
Outra devota é a paraense Isabel Maria Fonseca Fernandes, que frequenta o Convento há 41 anos. “Quando cheguei de Belém, fiquei angustiada porque não encontrei igrejas abertas no centro do Rio. Mas aí encontrei o Convento e aqui estou”, contou D. Isabel, mãe de duas filhas. “Venho de uma família religiosa. Meu tio é padre e nós fizemos parte de um grupo chamado Emaús que recolhia doações nas ruas. Para mim é uma grande bênção estar aqui”, revelou D. Isabel, enquanto garantia os pastéis para os devotos.
Além dos voluntários, o Convento conta com 16 colaboradores para a manutenção dos serviços gerais. Deles, Francisco de Assis Felizardo é o mais antigo com 58 anos. Dos 411 anos deste marco franciscano na cidade do Rio de Janeiro, ele viveu 41 anos e 7 meses (veja a matéria).
O guardião Frei José Pereira não economiza em agradecimentos a todos os devotos, benfeitores, voluntários e colaboradores do Convento Santo Antônio. “Sentimo-nos fortalecidos e confortados quando realizamos o bem. É isso que se vê durante a Trezena e a Festa de Santo Antônio, quando nos deparamos com um grupo de pessoas que doam parte de sua vida por uma causa e se revestem da gratuidade e da arte de servir. Lembra-nos o Papa Francisco que ‘cada pessoa é uma missão no mundo!’ Todos aqui têm essa missão: ser anunciadores do Amor de Deus no mundo. Que Deus retribua tanta generosidade, gratuidade e doação!”, desejou Frei José.
Segundo Frei José, não há como negar que o trabalho é desgastante durante os 13 dias da Trezena e o dia do Padroeiro. “Mas é muito confortador perceber que todos vêm formar uma família franciscana na alegria e não se sentindo obrigados, muito menos demonstrando cansaço. Há pouco, ouvi de devotos que fecham o escritório de trabalho para se dedicarem a Santo Antônio. E todos dizem que é gratificante poder colaborar!”, avalia Frei José.
Segundo Frei José, com a intercessão de Santo Antônio, caminharemos como discípulos missionários de Jesus, atentos à sua Palavra.