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A Missão do jovem presidente da FIMDA

20/10/2019

Entrevistas

Eleito o mais jovem presidente da Fundação Imaculada Mãe de Deus de Angola (FIMDA), no IV Capítulo da entidade, no final de maio último, Frei Antônio Boaventura Zovo Baza foi eleito presidente pela maioria dos 44 capitulares, para o próximo triênio. Tranquilo, em viagem a São Paulo na semana de 7 a 15 de setembro, quando participou da profissão solene de dois confrades da FIMDA em Petrópolis, Frei Antônio falou nesta entrevista sobre os desafios da Missão que está prestes a comemorar 30 anos e fez um pelo para que mais frades sejam missionários neste trabalho evangelizador da Província da Imaculada.

Filho de Maria Tereza Zovo e Eduardo Baza, Frei Antônio é natural de Cabinda, onde nasceu em 25 de setembro de 1976. Foi ordenado presbítero no dia 15 de janeiro de 2012, na Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, em Subantando. Ele é o segundo frade a fazer a Profissão Solene na Missão de Angola. O primeiro foi Frei Afonso Katchekele Quessongo. Os frades chegaram a Angola em 1990 e os dois frutos foram colhidos só depois de 21 anos. Hoje, a Fundação vive uma primavera vocacional e, por paradoxal que pareça, esse florescimento causa preocupação porque não há estrutura física e humana para acolher tantos candidatos, como diz Frei Antônio neste entrevista.

Hoje, a Fundação tem dez frades professos solenes, cinco sacerdotes e um diácono. No total, a Fundação tem hoje 44 frades, incluindo os noviços. No Postulantado, 29 jovens se preparam para ingressar no Noviciado em 2020. Em Angola, a Ordem Franciscana está presente com os Frades Menores e os Frades Capuchinhos. Os Conventuais já estiveram presentes em Angola até 1995.

Frei Antônio é presidente de uma Fundação que está presente em Malange, a primeira casa da Ordem dos Frades Menores em terras angolanas. Capital da Província de mesmo nome, localizada na região Centro-Norte do país, com população aproximada de 968 mil habitantes, (segundo o Censo de 2014) sendo que 486 mil pessoas vivem na região da capital. Em Malange, a presença dos frades se localiza no bairro chamado Katepa, onde estão duas fraternidades: São Damião e Seminário Monte Alverne. Sob os cuidados da Fraternidade São Damião, estão a Paróquia dos Santos Mártires de Uganda, a Missão em Kangandala e a assistência às Irmãs Clarissas.

Em Kibala (323 km de Luanda) está hoje a Casa de Noviciado. Foi a segunda presença franciscana em Angola, que foi interrompida pela guerra, de 1998 a 2009. Mesmo sendo uma casa de formação, os frades têm um envolvimento pastoral bastante intenso, com atuação efetiva na Missão Nossa Senhora das Dores e na Capela Santo Antônio.

A sede da Fundação está em Luanda, onde reside Frei Antônio na Fraternidade São Francisco de Assis. Nesta Fraternidade, os frades se dedicam ao atendimento da Paróquia São Lucas, ao acompanhamento dos frades professos temporários, ao atendimento do Santuário Quimbo São Francisco, às Irmãs Clarissas e ao projeto Nossos Miúdos. Em Palanca fica a residência que acolhe os frades estudantes do tempo de Filosofia. Na Fraternidade de Viana fica o Postulantado e Aspirantado da Fundação. Viana é a Fraternidade mais jovem da Missão e é município da Província de Luanda. Os frades dão atendimento à Paróquia Nossa Senhora de Fátima.

ACOMPANHE A ENTREVISTA

Site Franciscanos – Como o sr. recebeu a eleição de seus confrades para este serviço?

Frei Antônio – A princípio foi uma surpresa. Embora eu tivesse o nome entre os possíveis candidatos, não esperava ser eleito. Até mesmo antes do Capítulo, na visita canônica, falei para o Frei César Külkamp, o Ministro Provincial, de uma certa insegurança de ter meu nome nas lista de candidatos. Depois, diante da confiança dos confrades, não tinha como dizer não, ainda mais quando tive na primeira votação a maioria absoluta. Foi um sinal da grande confiança dos confrades. Além do mais, não trabalhamos sozinhos, mas somos uma fraternidade. Quando há boa colaboração, o trabalho vai bem. Se Deus quis assim, estou aí para trabalhar pelo Reino dos Céus.

Site Franciscanos – O sr. chegou a temer no momento da eleição? Deu aquele “friozinho” na barriga?

Frei Antônio – No início fiquei em “choque”, mas como Jesus diz no Evangelho “quem coloca a mão no arado não olha para trás”. Os desafios existem para serem enfrentados e, na caminhada, vamos superando aquilo que não é bom. A gente nunca nasce perfeito, mas vamos aprendendo no caminhar até conseguirmos acertar. As decisões não dependem somente do presidente da FIMDA mas há um Conselho para ser ouvido nas grandes decisões, porque se a gente decide sozinho, acaba estragando tudo. O ideal é analisar certos assuntos tendo a opinião da grande maioria.

Site Franciscanos – Quase 30 anos depois, como o sr. vê a Fundação Imaculada Mãe de Deus?

Frei Antônio – A Fundação cresceu muito, basta olhar nossa realidade hoje. Temos cinco casas ou Fraternidades: duas em Luanda, duas em Malange, uma em Kibala, além de um terreno em Lubango, onde pensamos ser a sede da futura casa do Noviciado, porque lá está a maioria das casas de noviciados das congregações em toda Angola. Essa integração com outras congregações é muito boa e não podemos perder aquele espaço. A gente percebe que a Fundação ganhou vida e precisamos louvar a Deus por aqueles que tiveram a iniciativa de abrir a Missão em Angola. Sabemos que não é fácil. Em 30 anos, temos 5 sacerdotes, 1 diáconos e 10 professos solenes. Isso é motivo de grande alegria. Para se ter uma ideia, conhecemos congregações que, em 30 anos, não têm nem dois religiosos.

Claro, nem tudo são alegrias. Olhando um pouco a nossa realidade, podemos dizer que foi feito aquilo que devia ser feito, mas de algumas coisas se descuidou no início da Fundação, e hoje é um desafio para nós: buscar a auto-sustentabilidade. Com o crescimento, vem a questão: como sustentar tantos frades que chegam? O importante é que temos o Governo e o Definitório Provincial muito engajados no trabalho evangelizador de Angola. Aos poucos vamos encontrando caminhos para isso.

Site Franciscanos – Quais os desafios para o novo conselho da FIMDA?

Frei Antônio – Além da sustentabilidade, temos outros desafios. A questão da legalização de nossos espaços é um deles, mas a vida formativa é o grande desafio, pois precisamos de mais formadores. Preocupa bastante quando a gente olha, em Malange, 49 aspirantes e apenas dois formadores. E não só. Mesmo no campo da evangelização, nas Paróquias, precisamos de mais frades para que o trabalho flua melhor. Quando um frade assume três, quatro, cinco funções, vai acabar deixando alguma coisa para os outros.

Site Franciscanos – Quando a Fundação terá condições de se tornar uma Custódia?

Frei Antônio – Podemos falar pela própria resposta dada pelo Ministro Geral, Frei Michael Perry. Somos apenas 10 professos solenes e precisamos de 15 para nos tornarmos Custódia. Acredito que daqui a uns quatro ou cinco anos haverá condições para isso. Não temos pressa porque somos da Província da Imaculada e nos sentimos bem. Aquilo que Deus nos proporcionar nos próximos, anos vamos acolher.

Site Franciscanos – Que significado tem para Angola celebrar 30 anos de Missão Franciscana?

Frei Antônio – A princípio, podemos dizer que são 30 anos de uma vitória da Província da Imaculada, porque quando se começa um projeto, esperam-se sempre frutos. E esses frutos estão aparecendo, como nós estamos aqui. São frutos da evangelização da Província da Imaculada em Angola. Para o povo, é motivo de grande alegria desde quando a Província da Imaculada teve a iniciativa de abrir uma casa em Angola. Para nós, mesmo quando estivermos um dia independentes, nunca esqueceremos esse grande feito da Província da Imaculada.
Para a Igreja de Angola e para a Família Franciscana, incluindo a proximidade que temos com as Irmãs Clarissas, também é motivo de grande alegria. Nas visitas pastorais dos nosos bispos, vemos a alegria deles com a presença franciscana nos lugares onde estamos. Eles sempre nos encorajam! E isso é um ganho para todos e para a Igreja.

Site Franciscanos – Qual a importância dos missionários nesse trabalho evangelizador?

Frei Antônio – Em primeiro lugar, o próprio testemunho de vida revela muita coisa. Por mais que peguemos a Bíblia e saiamos por ai pregando o que está escrito na Sagrada Escritura, o testemunho de cada missionário vai falar mais alto. O testemunho cristão e franciscano fala mais alto do que a própria palavra.
Por isso, louvo e agradeço a Deus o testemunho de quem está e esteve na Missão de Angola. Se não fossem os testemunhos desses frades, não sei se teríamos os frades angolanos. Então, é com base nos testemunhos deles que também nós somos missionários na nossa própria casa.

Site Franciscanos – Como o sr. vê o Mês Missionário Extraordinário instituído pelo Papa Francisco?

Frei Antônio – O Papa Francisco, cada vez mais, vai surpreendendo o mundo com seu jeito muito fraterno e próximo do povo. Ou como ele diz: “O cristão é missionário da esperança”.

Site Franciscanos – O sr. e Frei Afonso foram as primeiras vocações da Missão. Como foi a “solitária caminhada” de vocês por um bom tempo até surgirem novas vocações?

Frei Antônio – Não diria solitários, porque mesmo ao longo da caminhada apareceram outras turmas, que aos poucos também foram desistindo ou escolheram outros caminhos para sua vida. Nós fomos caminhando serenamente, confiantes que um dia chegaríamos à Profissão Solene, momento que sonhavámos como frades.

Site Franciscanos – Como o sr. vê agora o grande número de vocações na FIMDA e mesmo na África?

Frei Antônio – Realmente é motivo de grande alegria. É sinal de que nosso testemunho está acontecendo. O que nos preocupa é o número de formadores. De que adianta receber 50 ou 60 candidatos e não dar uma formação adequada? A presença de tantos candidatos sempre é bem-vinda mas a grande dor é constatar que não temos condições de receber todos. Aliás, mesmo em se falando de espaços e acomodações. Este ano, não definimos quanto teremos condições de receber. É preciso ter um número que a gente consegue acompanhar. É difícil dizer isso para um candidato, que está ansioso por entrar, que não pode ser acolhido.

Site Franciscanos – Como o religioso Frei António se define? Quem é António Baza?

Frei Antônio – Diria que é homem simples, capaz de compreender a situação de cada um, apesar de não ser um exercício fácil. Mas sou um homem fácil de conviver. Cada um de nós tem a sua personalidade. Suas ideias e costumes. Reconheço que sou até teimoso em algumas posições, mas, na medida do possível, procura-se chegar a um consenso. Facilmente faço amizade. Quem me vê à primeira vista pensa que sou fechado. Sisudo. Tem um provérbio lá na minha terra que diz “tungané” (viva com ele para o conhecer). Muitos que se tornaram meus amigos, me disseram isso. Nunca podemos julgar o livro pela capa.

Site Franciscanos – Como se deu o seu discernimento vocacional e sua escolha pelos franciscanos?

Frei Antônio – A princípio, não queria ser franciscano. Me enamorei pela forma de vida dos Pobres Servos da Divina Providência. Em Cabinda, não existiam franciscanos e nunca tinha visto um frade de hábito. Mas, em contato com as Irmãs Catequistas Franciscanas, que nos davam formação, fiquei conhecendo os franciscanos. Num dos encontros vocacionais, a Ir. Maria Ramos da Cruz, da Congregação de São José, mostrou-me fotos de frades em uma revista – até hoje ando triste porque nunca mais vi essa revista – e eu não tive dúvida e disse para ela: “Irmã, eu gostaria de ser como esses frades!”. A maioria dos candidatos queria ser diocesano. Eu e mais um queríamos ser frades. Mas não sabíamos distinguir o que era Frade Menor e Capuchinho. Através das Irmãs Catequistas, cheguei aos Frades Menores. O outro candidato foi para os Capuchinhos. Fui recebido antes em Luanda por Frei Samuel Ferreira de Lima, onde conheci o saudoso Frei Hermenegildo Pereira, de feliz memória. Em Malange, encontramos o guardião da Fraternidade, Frei Genildo Provin, e Frei Odorico Decker. Tive como orientador Frei Antônio Mazzucco.

Site Franciscanos – Como é a sua família?

Frei Antônio – Sou o segundo filho de Eduardo Baza e Maria Teresa Zovo. Somos em oito: dois rapazes e seis moças. Mas tenho outros irmãos por parte de pai, com os quais me dou muito bem. Minha família recebeu bem a minha decisão de ingressar no seminário. Desde pequeno sempre alimentei essa paixão. Brincava e fazia o papel de padre, cortando a banana em rodelas para imitar a hóstia. Me vestia, como diziam, como seminarista. Gostava de ternos. Um costume que vem de casa. Depois, cheguei a mudar um pouco esse meu hábito, que para alguns frades, não era bem visto. Mas é um costume e eu gosto de me vestir assim. Mas não é a veste que faz o monge. O vestir depende de cada um. O importante está no coração.

Site Franciscanos – Que mensagem o sr. tem para os brasileiros que querem ser missionários na África?

Frei Antônio – Digo aos nossos confrades brasileiros, que desejam ser missionários, que as nossas portas estão abertas. Hoje estamos sobrecarregados de trabalhos e precisamos desse apoio. Faço apelo para que os frades não desistam de sair em missão para Angola. Quero encorajar aqueles que sentem medo de guerras ou ouviram algumas histórias que eram trazidas para cá, que façam uma experiência lá. Hoje, Angola mudou muito. Àqueles que quiserem escrever o nome no livro da Fundação como missionários, estamos abertos. Sabemos que a Província também está precisando, mas, com certeza, o Definitório, vendo que dois ou mais estão querendo ir para Angola, vai ajudar.
Espero que os confrades brasileiros sintam aquela vontade de servir àquela parcela da Igreja, em Angola.


Moacir Beggo