Frei Gustavo Medella

Eu não entendo nada de armas ou de instruções de segurança para conflitos armados, mas já vi em filmes e em alguns programas de televisão que, em tiroteios, o melhor a se fazer é permanecer em casa e colocar-se deitado no chão. Ir à janela para espiar o que acontece, nem pensar! Quem fica de pé se expõe, e o risco de ser alvejado aumenta.

Algo semelhante acontece com o profeta, conforme se percebe na liturgia deste fim de semana. Ele não fica deitado no próprio comodismo, mas o Espírito do Senhor o coloca de pé (cf. Ez 2,2), não para “disparar” tiros que matam, mas para proferir Palavras de Vida, muitas vezes desagradáveis e incômodas para quem está acostumado a certas situações já estabelecidas – nem sempre as mais justas – com privilégio para poucos e sacrifícios para muitos.

Ao assumir sua missão de anúncio e denúncia, colocado de pé pelo Senhor, o profeta passa a ser alvo recorrente de quem não quer que as coisas mudem. E é com esta resistência que Jesus sofre. Incomodados pelos prodígios de vida e salvação operados pelo Filho de Deus, seus conterrâneos, aqueles que lhe são mais próximos e que teriam a chance de amá-lo e conhecê-lo em profundidade, preferem se desfazer do Filho de Deus, assumindo um “complexo de vira-latas”, segundo o qual, do meio daquele povo simples não seria concebível sair alguém que se destacasse tanto (Cf. . É o velho costume que muitos grupos têm de se nivelar por baixo.

Mas é assim mesmo… Pé que produz fruto é justamente aquele que leva pedrada. O mais importante é que não desanimemos do seguimento de Jesus Cristo, ainda que venham pedras, tiros, cobras e lagartos, afinal é o Senhor quem nos põe de pé. Tampouco percamos o senso de discernimento e a humildade, afinal, toda nossa força é dom de Deus, Aquele que se dispõe a agir em nossa fraqueza (Cf. 2Cor 12,9).