Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

“Cristianismo” é lançado em São Paulo com noite de autógrafos na Livraria Cultura

10/12/2011

Notícias

Moacir Beggo

São Paulo (SP) – Não era para ser diferente. O teólogo Leonardo Boff lotou o teatro da Livraria Cultura (av. Paulista) para o lançamento do seu livro “Cristianismo”, nesta sexta-feira (9/12), às 19 horas, em São Paulo. Foi a terceira grande promoção do novo livro com a presença do autor. No dia 5 de dezembro, no Instituto Humanitas Unicap de Recife, 600 pessoas estiveram presentes e, nesta sexta, cerca de 500 pessoas foram prestigiar o novo lançamento da Editora Vozes, que foi fundada há 110 anos pelos frades franciscanos desta Província. Ainda no último dia 2, o lançamento do livro aconteceu em Belo Horizonte.

Esbanjando simpatia e humor, Leonardo Boff chegou um pouco antes do horário previsto (19 horas). Ao seu lado, Boff teve como mediador o teólogo e professor da PUC, Fernando Altemeyer Júnior, e o jornalista Ricardo Kotscho. Boff falou durante vinte minutos do seu novo projeto e das motivações que o levaram a escrever “Cristianismo” e, em seguida, Kotscho o entrevistou. Na sequência, o público pode se manifestar fazendo perguntas e o evento terminou com uma concorrida sessão de autógrafos.

Bem à vontade, Altemeyer apresentou Leonardo Boff provocando risos no público. Contou que o verdadeiro Leonardo se chama Genésio e que esse nome o ‘salvou’ de ser preso dentro de um avião na Argentina porque procuravam um tal de Genésio. Segundo o professor da PUC, Boff tem 73 anos e vai fazer aniversário no dia 14 de dezembro, em companhia da presidente Dilma Roussef e Santa Teresa D´Avila.

“Boff escreveu 82 livros e este era para ser publicado pós-mortem (risos). Mas diante da insistência dos leitores, o livro acabou saindo antes. Falando nisso, uma vez perguntaram para D. Paulo, o seu mestre: ‘O Senhor já está se preparando para a morte?’ D. Paulo respondeu: ‘Preparado estou, mas não tenho pressa nenhuma!’ (mais risos)”, disse Altemeyer, ao mesmo tempo que brincou com a barba branca e cabelos de Boff: “Ele está parecendo um papai-noel”.

Boff agradeceu a presença do público e dos amigos e explicou que o livro “Cristianismo”, na verdade, nasceu como uma espécie de balanço. “Esse livro nem era para ser publicado. Depois de 50 anos de teologia – e é isso que eu estou celebrando – e 50 anos do livro “Jesus Cristo Libertador”, perguntei-me o que sobrou desses 50 anos e do cristianismo. Uma espécie de leitura de cego que só capta o que é relevante. O subtítulo diz tudo: o mínimo do mínimo. Porque o cristianismo virou uma realidade extremamente complexa, cheia de doutrinas, dogmas e terminações hierárquicas. Fica difícil até para um teólogo saber o que significa o cristianismo”, reconheceu.

Segundo Boff, o livro é pequeno, mas por trás dele está todo um trabalho de pesquisa que usou nos livros sobre cristologia que escreveu. “Eu procuro entender o cristianismo não como uma fonte de águas mortas, mas como uma fonte de águas vivas. Não como um navio que está ancorado num porto, seguro e tranquilo. O navio não foi construído para ficar no porto, mas para enfrentar as águas do mar”, observou, lembrando que Jesus não veio criar igrejas.

A essência da mensagem de Jesus, segundo Boff, está na oração do “Pai Nosso”. “Por que acho que o ‘Pai Nosso’ é a intenção originária de Jesus? Porque aí está tudo aquilo que é importante para Jesus e não é importante para a Igreja. O Pai Nosso não fala de Jesus, não fala de Igreja, não fala de eucaristia, não fala de papas e bispos, não fala nada disso. Tudo isso é fundamental para a Igreja, mas não é para Jesus. Para Jesus, duas coisas são fundamentais: o Pai Nosso e o Pão Nosso. O Pai Nosso é o impulso do ser humano para cima e o pão nosso é aquele necessário, sem qual não podemos viver, do perdão e da superação de todo o mal que nos estigmatiza. A fome é individual mas a construção do pão é coletiva. A gente só consegue dizer ‘Amém” se mantivermos unidos Pai Nosso e Pão Nosso. Então, nós temos duas tentações: aqueles que só dizem Pai Nosso e dançam, fazem a aeróbica de Deus, gritam e cantam, porque é a alegria do Pai etc. Mas nunca falam de pão. Nunca dizem que a cidade de São Paulo tem 730 mil desempregados passando necessidades. Há outros que só falam do Pão Nosso. Nós, da Libertação, somos acusados de que só falamos do Pão Nosso. Acho injusto porque nós sempre lembramos do Pai. Como diz Gustavo Gutierrez, estamos celebrando 40 anos da Teologia da Libertação e ela nasceu de uma profunda experiência espiritual, de encontrar o Crucificado nos crucificados da história. Nos povos do mundo. Então, a reflexão começa ali no silêncio, depois, sim, nos unimos para criar o pão”, questionou Boff.

“O ser humano não está aí apenas para Deus. Está também para si mesmo e para o outro. É Deus que assim quis. Ele não quis que só amássemos a Ele; quis que nosso amor se espraiasse em todas as direções e amássemos sua criação, os seres todos e cada pessoa concreta”, emendou.

Para o teólogo da Libertação, no mundo de hoje, a gente tem que viver essa dimensão radical do amor incondicional, fundada na experiência de Deus que Jesus trouxe e deu a todos os seres humanos: a dignidade de sentirem-se filhos e filhas de Deus. “São Paulo diz ‘somos filhos e filhas no Filho’ e somos todos irmãos, somos todos iguais. A base da democracia está aí. Todos somos cidadãos irmãos e irmãs e devemos estar preocupados com o mundo. Unindo essas duas coisas, ajudamos humanizar o mundo, sendo fiéis ao legado de Jesus e podendo, então, dizer ‘Amém’.”, completou sua apresentação. Em seguida, o jornalista Kotscho fez perguntas e o debate foi aberto ao público.