Kauser: novo Ministro Geral. Provocações e desafios do sexênio.
07/11/2014
Desafios e provocações do sexênio
Nos primeiros dias de novembro de 2014, os Franciscanos Seculares do mundo inteiro estiveram reunidos em Assis para realizarem mais um Capítulo Eletivo. A franciscana secular Encarnación del Pozzo, espanhola, foi sucedida por Tibor Kauser, húngaro, como Ministro Geral da OFS para o sexênio 2014-2020, escolhido logo no primeiro escrutínio. Ao mesmo tempo foram eleitos os outros integrantes do Conselho Internacional. Tibor Kauser sempre circulou com muita facilidade no mundo dos franciscanos seculares. Homem sereno, sobretudo atencioso e cavalheiro, se faz notar por presença discreta e inteligente e por um postura cristã madura. O Conselho Geral com seu Ministro têm diante dos olhos desafios e provocações.
1. Um primeiro desafio para a Ordem Franciscana Secular é certamente um empenho a ser feito no sentido de que os membros da Ordem assimilem o espírito da Regra de 1978, promulgada pelo papa Paulo VI.Todos são unânimes em reconhecer que se trata de um texto inspiracional atualizado que, se vivido com toda garra, forja um novo tipo de franciscano no meio do mundo. Não poucas fraternidades em todas as partes não conseguiram ainda fazer com que o texto passasse realmente a ser uma segunda natureza dos seculares, uma regra de vida e na vida. Não poderá deixar de haver esse empenho de levar a todos a que assimilem seu documento de vida.
2. Em tempos como os nossos, precisamente, desafio de monta é aquele da formação inicial e permanente. Não é necessário lembrar algumas marcas de nossos tempos: pluralismo, receio do definitivo, gosto pelo provisório, individualismo, mentalidade hedonista, tentação de se acomodar com o mínimo, desconfiança diante das instituições, falta de espírito crítico. O formador e sua equipe não são professores, mas pessoas que adquiriam uma visão prática da vida franciscana secular e que haverão de transmitir mais pela convivência, pelo estar com, do que pela erudição “professoral”. Desafio é, pois, o de formar formadores. Pensamos nas fraternidades já com anos de vidas e nessas tantas que emergem na Ásia e na África. As fraternidades mais antigas precisam abrir-se ao novo, esse novo que é apontado pelo Espírito. Nossas fraternidades necessitam ser laboratórios onde se ensaia o novo que Deus pede.
3. Desafio que enfrenta o formador é a própria pessoa do formando que, não poucas vezes, provém de famílias desestruturadas e ambientes que não respiravam a busca de Deus. Muitos de nossos formandos precisam se reestruturar antes de professarem a Regra da OFS. Trazem traumas colados à pele e feridas que custam a cicatrizar. Fundamental que os formandos experimentem de verdade a Deus, a vida fraterna e a convivência com os mais abandonados. Em outras palavras, busca do Bem e Sumo Bem, vivência fraterna e abertura aos mais abandonados (leprosos de hoje).
4. Desafio da OFS comum a todos os ramos da vida franciscana e de outras famílias religiosas é a questão da busca de novas vocações de um lado e uma motivação mais entusiasta para os que já estão. A Ordem está se difundindo mais e melhor fora do velho continente europeu. O que significa efetivamente fazer uma pastoral de busca de novas vocações franciscanas? Como motivar os irmãos que já professaram? Todos os ramos da família franciscana precisam viver mais próximos uns dos outros, cada um testemunhando a alegria de seguir o Evangelho à maneira de Francisco por meio de gestos eloquentes. As fraternidades já cansadas haverão de se retemperar por meio de retiros seculentos, de decidida volta às fontes. Nunca esquecer que a vocação é dom de Deus. O que nos cabe fazer é abrir caminhos para que ele possa aparecer e chamar. O carisma continua atual. Será que nos damos um testemunho tão eloquente que bastaria como propaganda vocacional.
5. Há uma questão que sempre volta à nossa mente: Até que ponto nossas fraternidades, nos diferentes níveis, estão formando um laicato maduro? Em não poucos lugares vemos um laicato franciscano em ação. De outro lado perdura ainda um certo espírito de devocionalismo que torna os franciscanos seculares muito presentes nas atividades do clero, nas tarefas internas da Igreja, frequentando muito as sacristias. Precisamos de leigos franciscanos no seio das famílias, homens e mulheres que vivam o casamento belamente no meio do mundo, que convivam com grupos de casados, que eduquem os filhos longe de uma mentalidade de consumismo demolidor, de competição desleal e pouco caridosa, de centralização nos pequenos interesses. Precisamos de leigos fortes que, no meio do mundo, não percam o espírito da santa oração e da devoção. Leigos franciscanos podem dar sua contribuição para que a Igreja tenha famílias novas. Necessário formar leigos que impregnem a educação, a medicina, as fábricas, o comércio com espírito evangélico-franciscano de simplicidade, parcimônia, fraternismo, alegria serena, busca da abundância das coisas necessárias e não cultivo tolo do supérfluo e do descartável.
6. Ainda uma última observação: necessitamos de assistentes espirituais que gostem da Ordem. Os Documentos da Ordem dos leigos e dos frades são claros; fundamental a presença do frade na vida das fraternidades. Ele é sinal de unidade. Sua presença não é decorativa, ocasião, facultativa. Não é dono de nada e não dirige a Ordem. Nos diferentes níveis a Ordem não conta com regular presença de frades devidamente preparados e que apreciem a Ordem dos Seculares. No tempo da formação inicial dos frades será fundamental que vejam despertar em sua vocação de frades o desejo de serem irmãos e assistentes dos seculares. Não basta que os Provinciais nomeiem frades. Estes deverão ser apaixonados pelo carisma tanto da Primeira como da Segunda e Terceira Ordens.
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Assistente Nacional pela OFM
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