Mensagem do Ministro Provincial para o Ano Novo
26/12/2025

Caros irmãos e irmãs,
o Senhor vos dê a paz!
O final de mais um ano nos oferece oportunidade para considerações acerca dos passos dados e nos convida a projetar direções que apontem para o futuro. Ao computar conquistas, recordamos as barreiras superadas, as inseguranças suplantadas, os medos vencidos. Da mesma maneira, quando nos dispomos à revisão de vida, podemos destacar que a clareza das opções foi preservada, a confiança revigorada, a capacidade de recomeçar robustecida.
Ao considerar as metas alcançadas, não devemos tê-las como resultado, tão somente, dos nossos próprios esforços, por mais méritos e qualidades que possamos ter. Para além do envolvimento e dedicação pessoais, sabemos que foi a colaboração de tanta gente que favoreceu para que aquilo que era planejamento se transformasse em realização, o que era semente se convertesse em fruto colhido. Embora nesses nossos tempos, vozes, cada vez mais altissonantes, insistam em exaltar o subjetivismo e enaltecer a supremacia daquelas conquistas alcançadas no singular, sabemos que a solidariedade e o cuidado, a fraternidade e a partilha é que, de fato, sustentam o sucesso. Os projetos construídos por um maior número de pessoas tendem a ser mais exitosos. Assim, o olhar retrospectivo é tomado de gratidão e reconhecimento a todos que nos aceitaram como irmãos de caminhada, a todos que não nos deixaram à beira do caminho e tiveram a paciência para aguardar que nossos pés alcançassem a mesma marcha dos que já estavam na trilha há mais tempo. Os laços de amizade e fraternidade, a consciência de que temos a mesma origem e rumamos para o mesmo destino fortalecem e justificam nossos bons propósitos. Não estamos sozinhos e, nesta ciranda que costumamos dar o nome de vida, ninguém deve soltar a mão de ninguém; esta convicção segue sendo o terreno fértil que fará bem-aventurada nossa existência. A experiência da fraternidade, do mútuo cuidado e da solidariedade dão vigor à nossa disposição para seguir perseguindo o frescor das férteis alvoradas.
Por inspiração de São Paulo VI, há quase 60 anos, o primeiro dia de um novo ano é considerado o “Dia Mundial da Paz”. A expectativa de que cada recomeço possa abrir espaço para o revigoramento dos bons desejos, motivou o papa a convidar as pessoas de boa vontade, espalhadas pelos quatro cantos da terra, a se comprometer com a fraternidade e com o respeito entre os povos. Tal convite não perdeu sua atualidade e, hoje, se veste de urgência. Os conflitos entre países, contados a dezenas; as guerras fratricidas; a multiplicação de grupos milicianos; a exposição de crianças e jovens às diversas situações de violência e morte; o desterro de milhões de pessoas forçadas à migração; a manipulação das consciências pelos algoritmos a serviço do poder; a intolerância e o descaso; a degradação das diferentes formas de vida do planeta; o empobrecimento e a fome… não nos permitem fugir da luta por um mundo que conheça e promova a paz; paz que é fruto da justiça e da fraternidade. A partir dessa inapelável missão, é necessário recordar o que diz o Artigo 68 das Constituições Gerais da Ordem dos Frades Menores: “Os irmãos vivam neste mundo como promotores da justiça e como arautos e artífices da paz, vencendo o mal pela prática do bem. Os irmãos anunciem a paz com a palavra; porém, tenham-na mais profundamente arraigada no coração, de sorte que ninguém seja provocado à ira e ao escândalo, mas todos sejam por eles atraídos à paz, à mansidão e à benignidade”.
O empenho criativo de todos, a certeza de que o Senhor caminha ao nosso lado e não nos abandona têm o condão de revigorar nossa esperança. Aliás, a certeza de que “a esperança não decepciona” (Rm 5,5) deu formas aos dias do ano que finda. O horizonte de renovação, perdão e reconciliação nos atraiu e ofereceu oportunidade para o desabrochar de um tempo novo. Não é difícil perceber que os campos do mundo, das nossas cidades, das nossas casas, muitas vezes, comportam realidades que assaltam a porção de esperança que cabe em nosso coração e em nosso entendimento. Nestas horas, o desespero, o sem sentido, o desânimo insiste em avizinhar-se de nós. Exatamente por não ser só nossa, por ser dádiva do alto, por brotar da cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo, a esperança criativa, teimosa, profética, sempre nos oferece o bálsamo e a cura, a sombra e o descanso, a saciedade e até a fome para revigorar em nós o desejo de seguir como peregrinos de esperança em direção ao Reino Definitivo.
O tempo novo que auguramos nascerá sob o signo da paz e da esperança, dons de Deus e compromissos de todos e de cada um de nós. Portanto, em fraternidade, a partir da solidariedade e do cuidado que nos unem, vamos juntos construir um Feliz Ano Novo.
Paz e Bem.
Frei Paulo Roberto Pereira, OFM
Ministro Provincial


