Paróquia do Sagrado, em Petrópolis, celebra o Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação
08/09/2025

No dia 4 de setembro, a Igreja do Sagrado de Jesus celebrou, em comunhão com a Conferência dos Ministros Provinciais do Brasil e do Cone Sul, a Santa Missa pelo Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, que também marcou a abertura do Tempo da Criação, estendendo-se até o dia 4 de outubro. A celebração, animada pelo Coral dos frades, foi presidida pelo Frei João Carlos Karling, OFM, da Província São Francisco de Assis (RS), e concelebrada pelo Frei Gilberto da Silva, OFM, Definidor Provincial.
No início da Missa, Frei João Carlos recordou as palavras do Papa Francisco: “Deus nos livre de toda pretensão absoluta”. Já na homilia, Frei Gilberto destacou a beleza do Cântico das Criaturas, lembrando que, ao contemplar a obra criada, “Deus viu que tudo era bom”. A liturgia fez ainda memória ao Dia da Amazônia (05/09), sublinhando a atenção constante do Papa Francisco ao cuidado da Casa Comum.
Frei Gilberto alertou para a urgência de repensar estilos de vida que continuam a favorecer o desmatamento e a busca do lucro acima da vida. Reforçou que a salvação em Cristo é dom oferecido a todos, porque somos criaturas amadas por Deus, e lançou o convite a uma verdadeira conversão ecológica, traduzida em gestos concretos de cuidado da criação.

A celebração motivou a comunidade a voltar o coração para Deus Pai Criador e para Jesus Cristo, seu Filho, recordando que a fé se expressa também na forma como nos relacionamos com o mundo, com proximidade, afeto e responsabilidade.
Após a comunhão, Frei Lauro Matheus Costa dos Santos, OFM, da Custódia São Benedito da Amazônia, auxiliou na reflexão sobre a importância da região, em nome de todos os confrades amazônidas, seja por nascimento ou pertencimento: Frei Diogo Henrique da Silva Siqueira Oliveira, OFM, também da Custódia São Benedito; Frei Matiel de Oliveira Bernabé, OFM, natural de Rondônia e residente na Custódia das Sete Alegrias de Nossa Senhora, da região de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul; e Frei Cândido Gean Akay, OFM, indígena, originário da terra sagrada amazônica e frade da Custódia São Benedito.
“Ao encerrarmos esta missa dedicada à criação, somos chamados a voltar nossos olhos e nossos corações para a Amazônia. Muitas vezes, para nós que estamos aqui em Petrópolis, ela parece distante, como se fosse apenas um lugar no mapa. Mas a Amazônia é floresta, são os rios, mas é muito mais. Ela é um cosmos vivo, onde ‘tudo está interligado’, onde a vida se sustenta mutuamente e onde o sagrado se manifesta de forma grandiosa”, salientou o frade.

Frei Lauro recordou ainda a importância da região com sua riquíssima cultura e religiosidade: “A Amazônia é muito mais. Ela é também cultura, celebração, religiosidade. E nada expressa melhor isso do que o Círio de Nazaré, em Belém. Todos os anos, milhões de pessoas se reúnem para acompanhar a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, em uma das maiores procissões de fé do mundo. O povo caminha pelas ruas, navega pelas águas, puxa a corda da berlinda, canta, chora, agradece, suplica. É a fé que se mistura com a cultura, com a festa, com a vida da Amazônia. Ali se mostra que a Amazônia não é apenas floresta, mas é também espiritualidade, comunidade, partilha”.
Ao final da celebração, a assembleia uniu-se em oração, pedindo que Deus continue a iluminar cada pessoa, fortalecendo o anseio e o compromisso de cuidar da vida e da criação.
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Leia abaixo, na íntegra, o texto partilhado pelo Frei Lauro durante a celebração
Irmãs e irmãos,
“É uma grande responsabilidade falar da nossa “Querida Amazônia” diante de vós, dos meus irmãos de fraternidade, de modo especial, diante dos meus irmãos amazônidas – Frei Diogo, Frei Matiel e Frei Gean (indígena e originário da terra sagrada amazônica). Então, espero responder a essa responsabilidade”.
Ao encerrarmos esta missa dedicada à criação, somos chamados a voltar nossos olhos e nossos corações para a Amazônia. Muitas vezes, para nós que estamos aqui em Petrópolis, ela parece distante, como se fosse apenas um lugar no mapa. Mas a Amazônia é floresta, são os rios, mas é muito mais. Ela é um cosmos vivo, onde “tudo está interligado”, onde a vida se sustenta mutuamente, e onde o sagrado se manifesta de forma grandiosa.
Na Amazônia, os rios não cortam a terra, eles a abraçam. Alimentam a floresta, que por sua vez devolve em oxigênio, em sombra, em frutos, em umidade que chega até nós. É uma grande dança da criação, onde cada ser tem seu lugar, sua função, sua beleza. É o coração verde do Brasil, sim, mas não só: é um coração que acolhe, que interage, que sustenta e que ensina.
A Amazônia é casa de uma diversidade que impressiona o mundo: milhares de espécies de plantas e animais, muitas que só existem ali. Mas é também a casa de mais de 300 povos indígenas, que falam cerca de 240 línguas (aqui representado pelo nosso irmão Frei Cândido Gean Akay Munduruku). Cada língua é um universo de sabedoria, uma forma de se relacionar com a terra, com o sagrado, com os ciclos da vida. Cada povo é um cântico diferente que, junto com os outros, compõe a grande sinfonia da floresta.
A Amazônia é um lugar real (Fr. Diogo e Fr. Gean) em nossa terra brasileira, mas, se quisermos imaginar a Amazônia como templo, ela é uma catedral ou um santuário natural: as árvores são colunas vivas, os rios são corredores de água, os cantos dos pássaros e os sons dos povos são orações que sobem ao Criador. Ali tudo fala de Deus.
E nossos poetas nos ajudam a sentir isso. Na canção do Boi Bumbá Garantido, cantávamos em 2003:
Amazônia, santuário esmeralda
Pôr-do-sol beija tuas águas
Pátria verde florescida pelas lágrimas divinas
A grinalda do luar vem te abençoar
Templos de rios, florestas lagos e cachoeiras
Encontro das águas das cores da natureza
Teus santuários ecológicos
Teus sublimes mananciais
(terra amazônica dos)
Anavilhanas, Jaú, Janauari
Macuricanã, Mamirauá
Macuxi, Parintintin e Munduruku
É a própria Amazônia que canta nesses versos a diversidade, suas mais belas riquezas e sua vida viva no ceio do solo brasileiro.
E a Amazônia é muito mais. Ela é também cultura, celebração, religiosidade. E nada expressa melhor isso do que o Círio de Nazaré, em Belém. Todos os anos, milhões de pessoas se reúnem para acompanhar a imagem de Nossa Senhora de Nazaré, em uma das maiores procissões de fé do mundo. O povo caminha pelas ruas, navega pelas águas, puxa a corda da berlinda, canta, chora, agradece, súplica. É a fé que se mistura com a cultura, com a festa, com a vida da Amazônia. Ali se mostra que a Amazônia não é apenas floresta, mas é também espiritualidade, comunidade, partilha.
Essa riqueza cultural, espiritual, natural, é do Brasil inteiro. A Amazônia não é de fora, não é distante: ela é parte da nossa identidade nacional. Está em nossa música, em nossa poesia, em nossa fé. Está em nossa água, em nossa comida, em nosso clima. A Amazônia está dentro do Brasil, e o Brasil está dentro da Amazônia.
E na música, Nilson Chaves canta a Amazônia com toda a sua alma:
“Tenho o cheiro do patchouli
E o gosto do taperebá
Eu sou açaí e cobra grande
O Curupira sim saiu de mim
Sei cantar o tar do carimbó
Do siriá e do dundu
O caboclo lá de Cametá
E o índio do Xingu
Tenho a força do muiraquitã
Sou pipira das manhãs
Sou o boto, igarapé
Sou rio Negro e Tocantins
Samaúma da floresta, peixe-boi e jabuti
Mururé, filho da selva
A Boiuna está em mim
Sim, eu tenho a cara do Pará
O calor do tarubá
Um uirapuru que sonha
Sou muito mais
Eu sou
Amazônia
E, no entanto, tantas vezes tratamos esse santuário como mercadoria. A floresta é derrubada, os rios são poluídos, os povos são ameaçados. Esquecemos que essa terra é sagrada, que não está à venda, que não é apenas fonte de riqueza para grandes indústrias. A verdadeira riqueza da Amazônia é a sua diversidade, a sua cultura, a sua espiritualidade. É o que ela nos ensina sobre viver em comunhão com a criação.
Por isso, irmãos e irmãs, hoje somos chamados a olhar para a Amazônia não como algo distante, mas como parte de nós. Cuidar da Amazônia é cuidar de nós mesmos. É cuidar da nossa casa comum. É reconhecer que Deus nos confiou (brasileiros) essa terra como um presente, não como um objeto de exploração.
Convido-os a ouvir os clamores e os sonhos do Papa Francisco na sua exortação “Querida Amazônia”:
“Sonho com uma Amazônia que lute pelos direitos dos mais pobres, dos povos nativos, dos últimos, de modo que a sua voz seja escutada e que sua dignidade seja promovida.
Sonho com uma Amazônia que preserve a riqueza cultural que a caracteriza e na qual brilha de maneira tão variada a beleza humana.
Sonho com uma Amazônia que guarda zelosamente a sedutora beleza natural que a adorna, a vida transbordante que enche os seus rios e as suas florestas.
Sonho com comunidades cristãs capazes de se devotar e de se encarnar na Amazônia, a tal ponto que deem à Igreja rostos novos com traços amazônicos.” (nº 7)
Portanto, que essa Missa dedicada à criação nos ajude a valorizar a Amazônia como um santuário vivo, como expressão do sagrado no coração do Brasil. E que possamos, neste momento, elevar uma oração pela Amazônia: pelos seus rios e florestas, pelos seus povos, pelas suas culturas e por nós, para que aprendamos a cuidar, proteger e amar a criação como irmãos e irmãs.
Penso que o melhor será concluir voltando o nosso olhar a Maria e pedirmos a sua intercessão com a palavras do Papa Francisco: (peço que repitam)
Mãe da vida,
No vosso seio materno formou-se Jesus,
Que é o Senhor de tudo o que existe.
Ressuscitado, Ele transformou-vos com a sua luz
E fez-vos Rainha de toda a criação.
Por isso vos pedimos que reines, Maria,
No coração palpitante da Amazônia.
Mostrai-vos como mãe de todas as criaturas,
Na beleza das flores, dos rios,
Do grande rio que atravessa
E de tudo o que vibra nas suas florestas.
Protegei, com o vosso carinho, aquela explosão de beleza.
Em vós confiamos, Mãe da vida! Amém!
Por: Frei Herculano José Nuñgulo/ Fotos: Rafael Xarão


