Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

V Dia Mundial dos Avós e dos Idosos: um convite à “revolução” da gratidão e do cuidado

25/07/2025

Notícias

Assim como todos os seres vivos e como parte de um ecossistema integrado, de uma ecologia integral, também temos o nosso tempo. Como nos diz o livro de Eclesiastes (3,1-8): “Para tudo há um tempo, para cada coisa há um momento debaixo dos céus”.
Partindo dessa premissa, voltamo-nos para o tempo do envelhecer, momento em que olhamos para nós e para o passado, como se estivéssemos diante de uma tela e observamos o quanto nossa caminhada fez mais sentido nos momentos em que tivemos a oportunidade de manifestar o nosso amor, a nossa compaixão e a nossa solidariedade.
Nessa grande tela da vida, que não tem limites, pois está em nosso campo da imaginação, também encontramos aqueles que foram fundamentais em nossa caminhada. Os avôs e avós de sangue ou de coração que trouxeram em suas bagagens a sabedoria que chegou até nós por meio de importantes ensinamentos, típicos de quem conhece a vida e quer, como um bálsamo, aliviar os tropeços inevitáveis que daremos.

Neste domingo, 27 de julho, a Igreja celebra o V Dia Mundial dos Avós e dos Idosos, instituído em 2021 pelo Papa Francisco. Desde então, a data, comemorada próximo à festa de Sant’Ana e São Joaquim, traz importantes reflexões sobre a presença dos idosos na sociedade.
No Ano Santo, quando celebramos o Jubileu da Esperança, o Papa Leão XIV, em sua primeira carta para a data, convida a Igreja e os cristãos católicos a olharem com mais profundidade para as questões que anulam e marginalizam os idosos, a partir do título: “Bem-aventurado aquele que não perdeu a esperança” (cf. Sir 14, 2).
A sociedade do consumo, na qual estamos inseridos, nos motiva a pensar que tudo o que é novo e “moderno” tem mais valor que algo que tem mais tempo de existência. Nesse ambiente volúvel de reposições aceleradas, o ser humano também é visto como um produto descartável e sem valor quando chega à velhice e, para muitos, perde o seu “prazo de validade”.
O Papa Leão XIV chama a atenção para o abandono e o descaso dos idosos em detrimento da soberba e da autossuficiência dos mais jovens e nos mostra o caminho da esperança, revelando os idosos como sinais de esperança e nos mostrando o caminho, por meio de uma vida em fraternidade, para que sejamos esperança para os mais velhos, pois, segundo ele, “abraçar um idoso ajuda-nos a entender que a história não se esgota no presente, nem em encontros rápidos e relações fragmentárias, mas se desenrola rumo ao futuro”.Quando de fato compreendemos que somos parte de um todo no ecossistema, de uma ecologia integral, podemos associar o sentido da nossa existência e do nosso envelhecimento à natureza, como disse Ailton Alves Lacerda Krenak, líder indígena, escritor e ambientalista, em entrevista à Revista Mais 60, do SENAC, em 2023:
“Vamos imaginar uma árvore na floresta, quanto mais antiga essa árvore na floresta, mais diversidade de vida ela expressa, porque, no seu crescimento, ela começa a abrigar muitos outros organismos e forma verdadeiros bosques em seu corpo. A gente não pode olhar a questão etária só como uma marcação no sentido temporal, a passagem do tempo na vida daquele sujeito, mas olhar a experiência da vida para aquela pessoa e como ela foi capaz de expressar, não só entregando trabalho, mas produzindo sentido”.
Seguindo a mesma linha de raciocínio e olhando para a mensagem do Papa Leão XIV, vemos que nossa principal “arma” para levar a esperança para os idosos é o amor. Por isso, o Pontífice salienta:
“Cada paróquia, associação ou grupo eclesial é chamado a tornar-se protagonista da ‘revolução’ da gratidão e do cuidado, a realizar-se através de visitas frequentes aos idosos, criando para eles e com eles redes de apoio e oração, tecendo relações que possam dar esperança e dignidade àqueles que se sentem esquecidos. A esperança cristã impele-nos continuamente a ousar mais, a pensar em grande, a não nos contentarmos com o status quo. Neste caso específico, a trabalhar por uma mudança que devolva aos idosos a estima e o afeto.”
Que neste V Dia Mundial dos Avós e dos Idosos sejamos o suporte necessário de esperança para as “árvores humanas” que geraram sementes, floresceram, cresceram e envelheceram no cumprimento da trajetória da vida, dando sentido à nossa existência.

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Leia abaixo a Mensagem do Santo Padre Leão XIV 

V Dia Mundial dos Avós e dos Idosos

“Bem-aventurado aquele que não perdeu a esperança” (cf. Sir 14, 2)

Queridos irmãos e irmãs,

O Jubileu que estamos a viver ajuda-nos a descobrir que a esperança é, em todas as idades, perene fonte de alegria. Além disso, quando é provada pelo fogo de uma longa existência, torna-se fonte de uma bem-aventurança plena.

A Sagrada Escritura apresenta vários casos de homens e mulheres já avançados em idade que o Senhor inclui nos seus desígnios de salvação. Pensemos em Abraão e Sara: já idosos, permanecem incrédulos diante da palavra de Deus, que lhes promete um filho. A impossibilidade de gerar parecia ter fechado o seu olhar de esperança para o futuro.

A reação de Zacarias ao anúncio do nascimento de João Batista não é diferente: «Como hei-de verificar isso, se estou velho e a minha esposa é de idade avançada?» (Lc 1, 18). A velhice, a esterilidade e a diminuição das forças parecem extinguir as esperanças de vida e fecundidade de todos esses homens e mulheres. E parece também puramente retórica a pergunta que Nicodemos faz a Jesus, quando o Mestre lhe fala de um “novo nascimento”: «Como pode um homem nascer, sendo velho? Porventura poderá entrar no ventre de sua mãe outra vez, e nascer?» (Jo 3, 4). Pois bem, em todas as ocasiões em que aparece uma resposta aparentemente óbvia, o Senhor surpreende os seus interlocutores com uma intervenção salvífica.

Os idosos, sinais de esperança

Na Bíblia, Deus mostra várias vezes a sua providência dirigindo-se a pessoas idosas. Foi o que aconteceu a Abraão, Sara, Zacarias, Isabel e também com Moisés, chamado a libertar o seu povo quando tinha oitenta anos (cf. Ex 7, 7). Com estas escolhas, Ele ensina-nos que, aos seus olhos, a velhice é um tempo de bênção e graça e que, para Ele, os idosos são as primeiras testemunhas da esperança. «O que é este tempo da velhice? – pergunta-se Santo Agostinho a este respeito, e continua – Deus responde-te assim: “Oh, que a tua força desapareça de verdade, para que em ti permaneça a minha força e possas dizer com o Apóstolo: quando sou fraco, então é que sou forte”» (Enarr. In Ps. 70, 11). Assim, a constatação de que hoje o número daqueles que estão avançados em idade aumenta cada vez mais torna-se, para nós, um sinal dos tempos que somos chamados a discernir, para ler bem a história que vivemos.

Com efeito, só se compreende a vida da Igreja e do mundo na sucessão das gerações. Por isso, abraçar um idoso ajuda-nos a entender que a história não se esgota no presente, nem em encontros rápidos e relações fragmentárias, mas se desenrola rumo ao futuro. No livro do Génesis, encontramos o comovente episódio da bênção dada por Jacó, já idoso, aos filhos de José, seus netos: as suas palavras os exortam a olhar com esperança para o futuro, como o tempo das promessas de Deus (cf. Gn 48, 8-20). Portanto, se é verdade que a fragilidade dos idosos precisa do vigor dos jovens, é igualmente verdade que a inexperiência dos jovens precisa do testemunho dos idosos para projetar o futuro com sabedoria. Quantas vezes os nossos avós foram para nós um exemplo de fé e devoção, de virtudes cívicas e compromisso social, de memória e perseverança nas provações! A nossa gratidão e coerência nunca serão suficientes para agradecer este bonito legado que nos foi deixado com tanta esperança e amor.

Sinais de esperança para os idosos

Desde as suas origens bíblicas, o Jubileu representou um tempo de libertação: os escravos eram libertados, as dívidas perdoadas, as terras devolvidas aos seus proprietários originais. Era um momento de restauração da ordem social desejada por Deus, em que se sanavam as desigualdades e as opressões acumuladas ao longo dos anos. Na sinagoga de Nazaré, Jesus renova estes eventos de libertação quando proclama a boa nova aos pobres, a visão aos cegos, a soltura dos prisioneiros e o retorno à liberdade para os oprimidos (cf. Lc 4, 16-21).

Olhando para os idosos nesta perspectiva jubilar, também nós somos chamados a viver com eles uma libertação, sobretudo da solidão e do abandono. Este ano é o momento propício para realizá-la: a fidelidade de Deus às suas promessas ensina-nos que há uma bem-aventurança na velhice, uma alegria autenticamente evangélica que nos convida a derrubar os muros da indiferença na qual os idosos estão frequentemente encerrados. Em todas as partes do mundo, as nossas sociedades estão a habituar-se, com demasiada frequência, a deixar que uma parte tão importante e rica do seu tecido social seja marginalizada e esquecida.

Perante esta situação, é necessária uma mudança de atitude, que testemunhe uma assunção de responsabilidade por parte de toda a Igreja. Cada paróquia, associação ou grupo eclesial é chamado a tornar-se protagonista da “revolução” da gratidão e do cuidado, a realizar-se através de visitas frequentes aos idosos, criando para eles e com eles redes de apoio e oração, tecendo relações que possam dar esperança e dignidade àqueles que se sentem esquecidos. A esperança cristã impele-nos continuamente a ousar mais, a pensar em grande, a não nos contentarmos com o status quo. Neste caso específico, a trabalhar por uma mudança que devolva aos idosos a estima e o afeto.

Por isso, o Papa Francisco quis que o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos fosse celebrado, em primeiro lugar, encontrando aqueles que estão sozinhos. E decidiu-se, pela mesma razão, que aqueles que não puderem vir a Roma neste ano em peregrinação podem «obter a Indulgência jubilar se se deslocarem para visitar por um côngruo período […] idosos em solidão […] quase fazendo uma peregrinação em direção a Cristo presente neles (cf. Mt 25, 34-36)» (Penitenciaria Apostólica, Normas sobre  a  Concessão da Indulgência Jubilar, III). Visitar um idoso é um modo de encontrar Jesus, que nos liberta da indiferença e da solidão.

Na velhice, pode-se ter esperança

O livro de Ben Sirá afirma que a bem-aventurança é daqueles que não perderam a esperança (cf. 14, 2), dando a entender que na nossa vida – especialmente se for longa – podem existir muitos motivos para sempre lançar o olhar para o passado, em vez de olhar para o futuro. No entanto, como escreveu o Papa Francisco durante a sua última internação no hospital, «o nosso físico é débil mas, mesmo assim, nada nos pode impedir de amar, de rezar, de nos doarmos, de sermos uns pelos outros, na fé, sinais luminosos de esperança» (Angelus, 16 de março de 2025). Possuímos uma liberdade que nenhuma dificuldade pode tirar-nos: a de amar e rezar. Todos, sempre, podemos amar e rezar.

O bem que desejamos às pessoas que nos são caras – ao cônjuge com quem compartilhamos grande parte da vida, aos filhos, aos netos que alegram os nossos dias – não desaparece quando as forças se esvaem. Pelo contrário, muitas vezes é justamente o carinho deles que desperta as nossas energias, trazendo-nos esperança e conforto.

Estes sinais de vitalidade do amor, que têm a sua raiz em Deus mesmo, dão-nos coragem e recordam-nos que «mesmo se, em nós, o homem exterior vai caminhando para a ruína, o homem interior renova-se, dia após dia» (2 Cor 4, 16). Por isso, sobretudo na velhice, perseveremos confiantes no Senhor. Deixemo-nos renovar todos os dias, na oração e na Santa Missa, pelo encontro com Ele. Transmitamos com amor a fé que vivemos na família e nos encontros quotidianos durante tantos anos: louvemos sempre a Deus pela sua benevolência, cultivemos a unidade com as pessoas que nos são caras, abramos o nosso coração aos que estão mais longe e, em particular, aos necessitados. Assim, seremos sinais de esperança, em todas as idades.

Vaticano, 26 de junho de 2025

LEÃO PP. XIV

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Adriana Rabelo Rodrigues