Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Abertura do Centenário do Cântico das Criaturas

10/01/2025

Notícias

Neste sábado, 11 de janeiro, a Ordem do Frades Menores inicia oficialmente as celebrações do VIII Centenário da composição do Cântico das Criaturas.

Na primavera de 1225, poucos meses após a experiência em La Verna, Francisco de Assis decidiu passar um período de cinquenta dias no mosteiro de São Damião, onde viviam Clara e as primeiras irmãs pobres.

Durante sua estadia em São Damião, após uma noite difícil devido às dores causadas por suas enfermidades, mas também marcada pela visita do Senhor, que lhe confirmou Seu amor e salvação, Francisco compôs um hino de louvor e ação de graças a Deus, conhecido pelos frades franciscanos.

Quase cego, sozinho numa cabana de palha, em estado febril e atormentado pelos ratos, deixou para a humanidade este canto de amor ao Pai de toda a criação.

A penúltima estrofe, que exalta o perdão e a paz, foi composta em julho de 1226, no palácio episcopal de Assis, para pôr fim a uma desavença entre o bispo e o prefeito da cidade. Estes poucos versos bastaram para impedir a guerra civil. A última estrofe, que acolhe a morte, foi composta no começo de outubro de 1226.

A oração do santo diante do crucifixo de São Damião e o Cântico do Sol são as únicas obras de São Francisco escritas em italiano antigo e, por isso, são dos mais importantes documentos literários da linguagem popular. Foi nesta língua que ele certamente ditou a maioria de seus escritos, antes que os irmãos versados em letras os traduzissem para a língua comum da época, o latim.

De acordo com o site da Ordem dos Frades Menores, na Itália, a Santa Missa que marca o início das celebrações começará às 10, no Santuário de São Damião, em Assis. Depois continuará no Santuário de Despojamento, também localizada na cidade berço franciscano, onde será encerrada no final da manhã.

O objetivo da Ordem é partir do lugar onde Francisco compôs a maior parte do Cântico e louvou a Deus por todas as criaturas e concluir onde ressoou o verso do perdão, para cantar ao lado dele e com ele: “Laudato si’ mi Senhor, para quem perdoa pelo seu amor…”.

Leonardo Boff, no livro “Francisco de Assis: A Força da Pobreza”, diz que:

“Na tradição ocidental Francisco de Assis é visto como uma figura exemplar de grande irradiação. Com fina percepção sentia o laço de fraternidade e de sororidade que nos une a todos os seres. Ternamente chama a todos de irmãos e irmãs: o sol, a lua, as formigas e o lobo de Gubbio. As coisas têm coração. Ele sentia seu pulsar e nutria veneração e respeito por todo ser, por menor que fosse. Nas hortas, também as ervas daninhas tinham o seu lugar, pois do seu jeito elas louvam o Criador. O coração de Francisco significa um estilo de vida, a expressão genial do cuidado, uma prática de confraternização e um renovado encantamento pelo mundo. Recriar esse coração nas pessoas e resgatar a cordialidade nas relações poderá suscitar no mundo atual o mesmo fascínio pela sinfonia do universo e o mesmo cuidado com irmã e mãe Terra como foi paradigamaticamente vivido por São Francisco”.

Na Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, as atividades celebrativas do Cântico das Criaturas começaram a ser destacadas no final de 2024. Mas, neste sábado, as Fraternidades também estarão em sintonia com a sede da Ordem, como forma de relembrar a história do Santo Seráfico e reforçar o quanto São Francisco de Assis é um importante instrumento de Deus na propagação do Evangelho, do amor e da paz. Ele ultrapassou todas as barreiras do tempo e continua sendo atual na luta pela preservação da Casa Comum. Seus exemplos são como guias para àqueles que também acreditam num mundo de esperança, caridade, fraternidade e amor aos pobres.

A Ordem dos Frades Menores divulgou as Diretrizes para a celebração dos Cântico das Criaturas, com informações sobre o significado dessa criação de São Francisco e sua importância para o futuro da nossa Mãe e Irmã Terra.

Confira abaixo:

Diretrizes para Celebrar – o Cântico das Criaturas

1225-2025

Cântico das Criaturas (FF 263); Compilação de Assis 83 (FF 1614); Espelho da Perfeição 100-101 e 120 (FF 1799-1800 e 1820); 2 Celano 165 (FF 750); Legenda Maior 9, 1 (FF 1162).

São Francisco de Assis já estava quase completamente cego quando compôs o Cântico das Criaturas. No entanto, com um olhar de fé repleto de gratidão, ele contemplava as maravilhas da criação e percebia a presença do Criador, que dava sentido a todas elas. Todas as criaturas, reflexo das perfeições divinas, são irmãos e irmãs porque são obra e dom do mesmo Autor. Juntas, constituem o coro da criação, que contempla, louva e agradece ao Deus Criador, «aquele grande Benfeitor» que dá generosamente e com bondade (2 Celano 77, FF 665).

O Cântico é a expressão e a confissão final da vida do Pobrezinho, recapitulando todo o seu caminho de conformação a Cristo, o Filho amado. Sua fé na paternidade de Deus se transforma em um cântico de louvor que proclama a fraternidade de todas as criaturas e a sua beleza. De fato, «Francisco contemplava, nas coisas belas, o Belíssimo e, seguindo os rastros deixados nas criaturas, buscava em toda parte o Amado. De todas as coisas fazia uma escada para alcançar Aquele que é todo desejável» (Legenda Maior 9, 1, FF 1162).

Celebrar como Família Franciscana o centenário do Cântico das Criaturas nos conduz a uma mudança radical em nossa relação com a criação, substituindo o desejo de posse pelo cuidado com nossa casa comum. Cada um de nós deve responder sinceramente a estas perguntas: Como desejo viver minha relação com as outras criaturas? Como um dominador que se arroga o direito de fazer o que quiser com elas? Como um consumidor de recursos, que as vê apenas como oportunidades para obter vantagens? Ou como um irmão que se detém diante da criação, admira sua beleza e cuida da vida?

Estamos diante de um desafio antropológico e ecológico que determinará o nosso futuro, pois ele está conectado ao futuro da nossa Mãe e Irmã Terra. Somos chamados a propor novamente à sociedade contemporânea «a linguagem da fraternidade e da beleza em nossa relação com o mundo» (Laudato si’, 11).

A atual crise ecológica nos revela que «o ambiente humano e o ambiente natural se degradam juntos» (Laudato si’, 48). Essa percepção nos faz entender que o cuidado com o ambiente humano e o ambiente natural deve ser feito simultaneamente. Cuidar da casa comum sem cuidar da casa interior — nosso coração — não é o caminho correto: é necessária uma conversão que seja ecológica e integral ao mesmo tempo, pois «a crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior» (Laudato si’, 217).

De fato, a última estrofe do Cântico nos lembra que apenas aqueles que têm um coração livre, capaz de interromper a lógica do ódio e da vingança através do perdão, podem se tornar instrumentos de reconciliação e harmonia. Esses serão uma profecia de fraternidade, como o próprio Francisco, que viveu «em uma maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a natureza e consigo mesmo» (Laudato si’, 10).
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Nosso ser em Cristo

«Louvado sejas, meu Senhor, com todas as Tuas criaturas, especialmente o senhor irmão Sol, que é o dia e nos ilumina por ele. Ele é belo e radiante com grande esplendor: de Ti, Altíssimo, traz significação» (Cântico das Criaturas, 3-4, FF 263).

Objetivo:

Recuperar um olhar contemplativo que reconheça a presença e a beleza do Criador, que se revela em todas as criaturas.

Ações:

Dedicar frequentemente um tempo adequado à contemplação da criação, para perceber sua beleza e agradecer a Deus por ela.

Utilizar o Cântico das Criaturas como inspiração para a oração e meditação, ajudando-nos a perceber os vínculos que nos unem a todas as criaturas.

Estudar e colocar em prática, com responsabilidade, as propostas contidas na encíclica Laudato si’, utilizando os diversos materiais disponibilizados pelos Escritórios da Família Franciscana.

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Nosso ser irmãos e irmãs

«Tu és Trino e Uno… Tu és beleza» (Louvores de Deus Altíssimo, 3-4, FF 261).

Objetivo:

Redescobrir a importância da vocação à comunhão, inscrita em nosso ser criado à imagem e semelhança do Deus Trindade.

Ações:

Promover encontros com outros membros das famílias e fraternidades franciscanas para descobrir a beleza e as coisas positivas nelas, agradecendo a Deus por isso.

Identificar ações que contribuem para deteriorar nossos vínculos com a criação, agravando a crise ecológica atual, e superá-las com responsabilidade.

Iniciar um caminho decidido de conversão ecológica integral, que promova práticas sustentáveis em nossas famílias e fraternidades, como redução de resíduos, reutilização de materiais, reciclagem e uso responsável de recursos como a água.

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Nosso ser em comunhão

«A própria criação será libertada da escravidão da corrupção para entrar na liberdade da glória dos filhos de Deus» (Rm 8, 21).

Objetivo:

Tornar-nos conscientes de nossa responsabilidade eclesial em favorecer a restauração da relação entre o Criador e as criaturas, recuperando sua harmonia original.

Ações:

Ampliar a consciência de que compartilhamos a mesma casa e que, por isso, todos devemos cuidar dela.

Promover iniciativas voltadas para alcançar uma economia inclusiva, em conformidade com a doutrina social da Igreja, como resposta concreta às estruturas sociais que “descartam” pessoas não produtivas economicamente.

Dar maior visibilidade aos grupos eclesiais de Justiça, Paz e Integridade da Criação.

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Nosso ser no mundo

«Deus viu tudo o que havia feito, e era muito bom» (Gn 1, 31).

Objetivo:

Crescer na consciência de que o ambiente humano e o ambiente natural se cuidam e embelezam mutuamente.

Ações:

Colaborar com todas as pessoas de boa vontade para tornar a casa comum mais habitável.

Trabalhar em rede com diversas organizações sociais e religiosas que compartilham a preocupação em responder ao clamor da terra e dos pobres.

Promover uma cultura de diálogo e fraternidade indispensável para superar a lógica do lucro e do descarte, por meio de iniciativas que envolvam a todos, sem distinção de idioma, cultura, etnia ou religião.

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Cântico das Criaturas
(Tradução Leonardo Boff)

Altíssimo, onipotente, bom Senhor,

Teus são o louvor, a glória, a honra

E toda a benção.

Só a ti, Altíssimo, são devidos;

E homem algum é digno

De te mencionar.

 

Louvado sejas, meu Senhor,

Com todas as tuas criaturas,

Especialmente o Senhor Irmão Sol,

Que clareia o dia

E com sua luz nos alumia.

E ele é belo e radiante

Com grande esplendor:

De ti, Altíssimo é a imagem.

 

Louvado sejas, meu Senhor,

Pela irmã Lua e as Estrelas,

Que no céu formaste claras

E preciosas e belas.

Louvado sejas, meu Senhor,

Pelo irmão Vento,

Pelo ar, ou nublado

Ou sereno, e todo o tempo

Pela qual às tuas criaturas dás sustento.

 

Louvado sejas, meu Senhor,

Pela irmã Água,

Que é mui útil e humilde

E preciosa e casta.

 

Louvado sejas, meu Senhor,

Pelo irmão Fogo

Pelo qual iluminas a noite

E ele é belo e jucundo

E vigoroso e forte.

 

Louvado sejas, meu Senhor,

Por nossa irmã a mãe Terra

Que nos sustenta e governa,

E produz frutos diversos

E coloridas flores e ervas.

 

Louvado sejas, meu Senhor,

Pelos que perdoam por teu amor,

E suportam enfermidades e tribulações.

Bem aventurados os que sustentam a paz,

 

Que por ti, Altíssimo, serão coroados.

Louvado sejas, meu Senhor,

Por nossa irmã a Morte corporal,

Da qual homem algum pode escapar.

 

Ai dos que morrerem em pecado mortal!

Felizes os que ela achar

Conformes á tua santíssima vontade,

Porque a morte segunda não lhes fará mal!

Louvai e bendizei a meu Senhor,

E dai-lhe graças,

E servi-o com grande humildade.


Adriana Rabelo

Fonte: https://www.ofm.org/apertura-del-centenario-del-cantico-delle-creature.html