Corais dos Canarinhos e Orquestra Sinfônica da UFRJ realizam Concertos Espirituais de Finados
04/11/2024
No ano em que completa 100 anos de história, a Orquestra Sinfônica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) realizou, em parceria com o Instituto dos Meninos Cantores de Petrópolis, dois Concertos Espirituais de Finados. A mais antiga Escola de Música do Brasil e o também mais antigo Coral de Meninos do país escolheram como repertório para essas apresentações a icônica Missa de Requiem do músico austríaco Wolfgang Amadeus Mozart. Esta foi a última composição do músico, que permaneceu inacabada em razão de sua morte prematura, ocorrida em 5 de dezembro de 1791, quando ele vivia um período intenso de composições.
A esposa de Mozart conseguiu que Franz Süssmayr completasse o Requiem posteriormente. O mesmo é considerado um dos seus trabalhos mais populares e atravessou mais de dois séculos como um primor da arte e da cultura clássica e sacra.
No dia 31 de outubro, mais de oitenta vozes dos Corais dos Canarinhos e mais de trinta músicos da Orquestra Sinfônica da UFRJ, regidos pelo Maestro Marco Aurélio Lischt realizaram a primeira apresentação deste Concerto Espiritual de Finados, na Igreja de São Francisco de Paula, no centro da cidade do Rio de Janeiro (RJ).
A magnífica Igreja, que é cuidada pela Venerável Ordem Terceira dos Mínimos de São Francisco de Paula, ficou pequena para acompanhar as profundas melodias que emocionaram os presentes. O corredor central, os corredores laterais e as escadarias da Igreja foram tomadas por um atento e concentrado público. Um detalhe observado foi um grande número de jovens e crianças que, inclusive, sentaram-se bem na frente da nave da Igreja e demonstraram uma profunda atenção com os movimentos e as partes da obra.
O Maestro Thiago Santos refletiu em suas redes sociais sobre a grandiosidade desta apresentação. Ele ficou admirado com a lotação da Igreja, com a excelente performance dos Corais e da Orquestra e com o clima de atenção e meditação dos presentes. Em suas palavras ele afirmou: “A beleza atrai, não podemos resistir por muito tempo à beleza, ela nos convoca! Embora a ideia de beleza possa ser repensada, há algo de sólido que a atravessa. Foi admirável em um dia de semana, no centro do Rio de Janeiro, observar uma tamanha audiência, realmente algo notável. Muitas vezes o senso comum gosta de vender a ideia de que a música clássica está envelhecida ou, até mesmo, de que está morrendo. Mas, o que vimos nesta apresentação foi algo totalmente diferente. Muitos jovens, adolescente e crianças. Os meus parabéns a todos por esta magnífica noite! ”, finalizou.
Inspiração divina
A Missa de Requiem é assim chamada devido às primeiras palavras da Antífona de Entrada desta celebração que assim diz: Requiem aeternam dona eis, Domine, que poderia ser traduzido por: Dai-lhe, Senhor, o descanso eterno. A obra é composta por oito partes: I – Introitus; II – Kyrie; III – Sequentia; IV – Offertorium; V – Sanctus; VI – Benedictus; VII – Agnus Dei e VIII – Communio: Lux Aeterna. A parte mais extensa e talvez a mais bela é a Sequência, conhecida como Dies Irae, um belo poema medieval que fala desse “Dia da Ira”, mas não como uma terrível condenação, mas, sim do triunfo da misericórdia de Deus que alcança todos os seus filhos e filhas. Este belo poema é atribuído a um franciscano, Frei Tomás de Celano, o também primeiro biógrafo de São Francisco. Na reforma litúrgica promovida pelo Concílio Vaticano II esta Sequência foi abolida do rito da Celebração dos Fiéis Defuntos, mas segue viva na história das grandes composições das Missas de Requiem que os mestres da música empreenderam, assim como fez Mozart.
Na casa dos Canarinhos
No sábado, 2 de novembro, Dia de Finados, a segunda apresentação ocorreu na Casa Mãe dos Corais dos Canarinhos, a Igreja do Sagrado Coração de Jesus, no centro da cidade Imperial. Mais uma vez, observou-se uma Igreja totalmente lotada para este Concerto Espiritual de Finados. Mais de quinhentas pessoas prestigiaram os Corais Anfitriões da Casa e a Orquestra Sinfônica da UFRJ. O presidente do Instituto dos Meninos Cantores de Petrópolis, Frei Marcos Antônio de Andrade, fez a acolhida dos presentes. O frade expressou a imensa alegria e honra dos coralistas poderem, tão jovens, já desempenharem uma tão complexa obra como o Requiem de Mozart. Parabenizou a Orquestra Sinfônica da UFRJ pelo seu centenário completados em 2024 e agradeceu a todos os seus membros pela parceria e amizade nesta empreitada, em especial, um agradecimento ao Maestro André Cardoso! Frei Marcos acolheu, alegremente, o Bispo Diocesano de Petrópolis (RJ), Dom Joel Portella Amado, que veio brindar a todos com sua fraterna presença.
Mais uma vez, o Requiem foi desempenhado com maestria e grandiosidade pelo Coro e pela Orquestra. Um profundo silêncio reinou entre o público e muitas pessoas que não conseguiram entrar na Igreja permaneceram concentradas como que meditando as profundas melodias desta obra tão incrível na parte externa da Igreja e nos jardins do Convento Franciscano. Ao final da apresentação, os presentes, em êxtase depois daquilo que puderam testemunhar, aplaudiram efusivamente os coralistas e os músicos. Os aplausos, demorados e acalorados, foram a forma com que o público pôde homenagear a todos os envolvidos neste tão rico Concerto Espiritual.
O programa da Obra conta, além de Coro e Orquestra, com Quatro Solistas que cantam algumas partes do Requiem, em especial, na Sequência e no Benedictus. Os Solistas para o Concerto foram selecionados da Escola de Música da UFRJ. Quatro cantaram na apresentação no Rio de Janeiro e quatro em Petrópolis. No Rio de Janeiro, os solistas foram: Bárbara Carvalho (soprano), Julia Riera (mezzo), Marcos Vinícius Lima (tenor) e David Monteiro (baixo). Já em Petrópolis, os solistas foram: Carolina Morel (soprano), Esther Santiago (mezzo), Rodrigo Barcelos (tenor) e Iago Cirino (baixo).
Essas apresentações lembram-nos de que há algo na arte, em especial na música, da norma do irrepetível e indômito na vida. Há mais de 200 anos, Corais e Orquestras de todo o mundo debruçam-se nesta obra singular de Mozart. Mas será que elas são todas as mesmas? O mesmo Requiem? Há algo de único em cada apresentação, em cada performance! A norma misteriosa de uma emoção única e inexplicável.
A vibração silenciosa do público presente nessas apresentações expressa a grandeza da arte e da cultura como formas nobres e elevadas de nos transportarem para esse vislumbre do belo e do divino. Se há uma partitura que nos garante as formalidades das notas e sinais musicais, existe também algo de mágico em cada apresentação de uma obra como a ocorrida nesses dias. É por esta razão que há um Requiem único e só nosso!
Nos dias 31 de outubro e 02 de novembro do ano da graça de 2024 demos a nossa contribuição para o irrepetível e singular à arte e à música. Os Corais dos Canarinhos e a Orquestra Sinfônica da UFRJ ofereceram ao tempo e à história o seu Requiem de Mozart!
Frei João Manoel Zechinatto