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Espírito do ensino: uma missão do professor na formação integral

15/10/2024

Notícias

As memórias da vida sempre estão entrelaçadas pela figura dos professores. Da infância à fase adulta, as marcas da relação entre o mestre e o aprendiz compõem a trajetória de todo indivíduo.

Muitos são os termos utilizados ao longo dos tempos para classificar um professor: estudioso, engajado, inteligente, conhecedor; no entanto, as relações entre aquele que cumpre o papel de auxiliar no processo de aprendizagem e o outro que precisava do estímulo para despertar suas potencialidades humanas e intelectuais.

O professor é uma ponte que conduz todo indivíduo para o caminho da amplitude do conhecimento. Ele é o mediador entre a sede de aprender e os diferentes caminhos para adquirir sabedoria: do lúdico ao técnico, do teórico ao reflexivo. É em companhia do professor que conseguimos unir nossas competências a diversas matizes que fazem de nós seres capazes de transformar a nossa realidade, da nossa comunidade e a do mundo.

Santo Agostinho, filósofo considerado um dos doutores da Igreja Católica, acreditava que a educação ia além da transmissão de conhecimento, pois está relacionada à formação integral do indivíduo, que também engloba o seu desenvolvimento espiritual e moral. Para ele, o conhecimento é fundamental para a busca da felicidade, e este só é verdadeiro se alcançado por meio da iluminação divina.

“A medida do espírito é, portanto, a sabedoria. Isso porque, não se pode negar, a sabedoria é contrária à estultícia (estupidez); a estultícia é a indigência, mas a indigência é contrária à plenitude. Mas, na plenitude, vige a medida. A medida para o espírito, portanto, está na sabedoria” (Santo Agostinho, Sobre uma Vida Feliz /Editora Vozes).

Quando falamos sobre o professor, da relação dessa figura com a história da Igreja, podemos elencar a presença de outros santos e santas e de Jesus Cristo, que também foi mestre de seus discípulos e ainda hoje transmite seus ensinamentos por meio do Evangelho para todos os filhos e filhas de Deus.

No seguimento de Jesus Cristo, Frei Francisco viu em Frei Antônio a grande capacidade para ensinar teologia aos frades; por isso, ele é considerado o primeiro professor da Ordem dos Frades Menores.

De acordo com Frei Fidêncio Vandboemmel, Santo Antônio foi o primeiro professor por uma espécie de nomeação de Frei Francisco, na carta que ele escreveu em 1223. Nela, Frei Francisco pede a Frei Antônio que ensine a Sagrada Teologia aos irmãos. Isso porque a Igreja começou a exigir mais preparação dos irmãos, dos frades, dos presbíteros para uma evangelização mais eficaz. Estando em comunhão com a Igreja, Frei Francisco escreve uma carta na qual diz:

Eu, Frei Francisco, [desejo] saúde a Frei Antônio, meu bispo. Apraz-me que ensines a Sagrada Teologia aos irmãos (frades), contanto que, nesse estudo, não extingas o espírito de oração e devoção, como está contido na Regra.

“Podemos dizer que Frei Antônio é, de fato, o primeiro professor de teologia dentro da ordem. Naquela época, os frades que já estavam na ordem sabiam ler, sabiam escrever; alguns tinham uma boa formação. Mas aqui se trata especificamente da formação teológica. Essa formação está baseada fundamentalmente na Sagrada Escritura, para que os frades conheçam melhor a Bíblia Sagrada e possam ser bons pregadores da Palavra de Deus”, explicou o frade.

Relacionando a importância do papel de Santo Antônio na formação dos frades e a figura do professor e do aprendiz, Frei Fidêncio disse que: “Quem estuda deve estar movido pelo espírito da oração e santa devoção. E quem ensina deve ensinar também no espírito da santa oração e devoção, que deve mover toda vida e existência. Quem for aprender e estudar não deve ter outras motivações interiores; buscar o saber pelo saber, para se sobrepor aos outros. Ele deve também ensinar no espírito. O estudo da Sagrada Teologia deve afervorar o coração do frade que vai estudar. Da mesma forma, o frade professor deve ter esse princípio em ensinar no espírito da oração e devoção, para que tenham espírito em vida”, explicou.

Frades franciscanos e a educação

Seguindo os passos de São Francisco de Assis, inspirados pelo dom de Santo Antônio, que propagou seu conhecimento, frades da Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil conduzem sua caminhada religiosa também pelas estradas da vida do magistério, sabendo que não estão sozinhos nesse caminho guiado pelo espírito.

É o caso de Frei Vitório Mazzuco, da Frente de Evangelização na Educação, palestrante e professor na Universidade São Francisco (USF). “Atuar na área da Educação é Evangelização. Evangelizar é tornar nova a humanidade através do conhecimento, aprendizado e ensinamento. Educação e evangelização são os dois melhores meios para uma conscientização. Educar é conduzir pelos caminhos do amor.  Para mim, servir a área da educação é definido pelo próprio plano da Província: ‘uma Frente de Evangelização na Educação’!”, afirmou.

Trazendo para a sociedade contemporânea, Frei Claudino Gilz, coordenador da Frente de Evangelização na Educação, disse que a pessoa do professor tem grande importância quando compreende que nenhum ser humano nasce pronto. “A educação confere a possibilidade da pessoa se desenvolver em todas as suas dimensões. E, nesse sentido, a figura do professor tem a missão de ajudar cada pessoa a encontrar o caminho e as condições pelas quais ele pode se desenvolver. Inclusive, do ponto de vista religioso, também pode ajudar a pessoa a realizar o devido discernimento da vontade de Deus em sua vida”, salientou.

O frade que é pesquisador, professor, pedagogo, mestre e doutor em educação afirmou que, seja no contexto da educação ou em ações junto à comunidade, o professor é aquele que desperta o ser humano para o conhecimento por meio de mecanismos e questionamentos que agucem a curiosidade, a vontade de aprender em seus alunos. “É alguém que faz junto com o aluno o caminho para que ele possa fazer novas descobertas, encontrar alegria estudando, aprendendo, tornando-se uma pessoa melhor”, concluiu.

Que, neste Dia dos Professores, Santo Antônio também seja fonte de inspiração para todos os profissionais que assumiram o chamado para serem facilitadores de saberes.


Adriana Rabelo