Notícias - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Missão de Angola em festa pelos novos frades professos solenes

29/01/2024

Notícias

Malange, em Angola, amanheceu em clima de festa! Após muita preparação, chegou o dia de oito jovens frades celebrarem sua Profissão Solene na Ordem dos Frades Menores, fazendo sua promessa de vida religiosa franciscana que se estende por toda sua vida. A celebração ocorreu na Paróquia Santos Mártires de Uganda, às 9h, presidida pelo Ministro provincial, Frei Paulo Roberto Pereira.

Os oito frades professandos pertencem à Fundação Franciscana Imaculada Mãe de Deus de Angola (FIMDA), que faz parte a Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil. São eles: Frei David Vicente da Conceição Gaeita, Frei Elias Hebo Luís, Frei Fernando José Dange, Frei Herculano José Nuñgulo, Frei Inácio Filipe Puto, Frei Jerónimo Cheia Mário, Frei Valódia João Manuel Baptista e Frei Venâncio Canombelo Candundo. Com eles, somam-se 27 frades solenemente professos nascidos em Angola, um número que confirma o crescimento e enraizamento da Ordem Franciscana em terras angolanas.

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O Seminário Monte Alverne, em Malange, foi a principal referência para aqueles que vinham de outras partes de Angola, frades, religiosas, familiares e amigos, para participar da celebração. No sábado, dia 27, o Seminário já hospedava mais de uma centena de pessoas, desdobrando-se na acolhida. No jantar deste dia, os oito frades professandos manifestaram seu pedido à Fraternidade para serem acolhidos permanentemente na Ordem através da Profissão Solene.

Trata-se de um rito simples, mas fortemente simbólico. Como um frade, ao fazer sua profissão, ele entra para a grande fraternidade de sua Província e se torna um irmão para toda a Ordem, o pedido feito à Fraternidade onde ele fará a celebração, ouvido e acolhido pelo guardião – aquele que é responsável pela animação da vida de uma fraternidade –, é a representação concreta daquilo que será celebrado. Em Malange, Frei Canga Manuel Mazoa, guardião da Fraternidade do Seminário Monte Alverne, juntamente com Frei Mário Sampaio Pelu, Frei Ermelindo Francisco Bambi e Frei Gilberto da Silva, representando as demais Fraternidades onde os professandos estão vivendo atualmente, acolheu a manifestação do pedido, expressando a alegria de receber novos irmãos na mesma vocação que um dia, São Francisco de Assis recebeu por inspiração. Disse, ainda, que a adesão de oito novos jovens a este modelo de vida é comprovação da validade deste carisma em terras angolanas.

No dia seguinte, a nova Igreja Santos Mártires de Uganda se mostrou pequena para acolher todos aqueles que vieram para celebrar. Centenas de fiéis acorreram para participar deste momento importante na vida dos jovens frades professandos, assim como frades de todas as Fraternidades de Angola e alguns do Brasil, somando mais de 50 irmãos presentes.

Vale explicitar uma característica das celebrações eucarísticas em terras angolanas que pode parecer incompreensível à experiência de um fiel no Brasil. A celebração como um todo se estendeu por quatro horas e meia! Tempo que, para quem participava da celebração, passava numa fluência impressionante. O coral, formado por vocacionados e adolescentes da Paróquia contagiavam a assembleia com seus cantos ao ritmo de instrumentos de percussão e teclado, em língua portuguesa e outras da cultura nacional. Frei João Alberto Bunga foi o comentarista da celebração, mas também marcava os momentos próprios do rito com explicações ao povo e ou motivando a assembleia à participação através de efusivas palmas.

Os frades professandos entraram na igreja, acompanhados por seus familiares, em alegre procissão no início da Liturgia da Palavra. Frei João Bunga aproveitava o momento para apresentar à assembleia um breve histórico vocacional de cada um até aquele dia.

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Em sua homilia, Frei Paulo exortou aos frades professandos à fidelidade à vocação que eles abraçavam, agora de modo permanente e por toda a vida. Pontuou que a vida franciscana é sustentada por dois “pulmões” que a enchem de vida: a fraternidade e a minoridade.

O Ministro iniciou sua homilia rememorando a história da presença franciscana em terras angolanas. Fez menção aos Frades Capuchinhos ainda no tempo colonial e da chegada das Irmãs Clarissas em 1982, na cidade de Malange. Segundo as próprias irmãs, uma das exigências para que elas viessem para Angola era de que também houvessem frades franciscanos que pudessem lhes oferecer assistência espiritual e, juntos, pudessem formar uma presença mais completa do carisma. O pedido das irmãs seria atendido apenas em 1990, quando três frades viriam do Brasil para fixar presença na cidade. A partir dali, outras 4 cidades receberam a presença dos frades onde viram o carisma encontrar espaço no coração do povo e de jovens que iriam aderir à mesma vida e vocação.

Segundo Frei Paulo, é importante lembrar os inícios, simbolizados pela Sagrada Escritura como o barro e a terra da Criação. Ali já se encontra e a partir dali tudo vem a ser e crescer. Para o carisma franciscano, a fonte de tudo o que se é e vem se tornar é o desejo do Espírito do Senhor e de seu santo modo de operar. Isso é verdadeiro para nós, mas também é verdade para todo ser criado pelas mãos do único Deus. Assim ocorre com todas as pessoas, com cada elemento da Criação, inclusive as Quedas de Kalandula e as Pedras Negras de Pungo Andongo – dois pontos turísticos de Angola –, que enchem seus pulmões do hálito de Deus, passando a viver e entoar seu louvor de existência por toda a Criação.

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O Ministro voltou-se, então, para os “pulmões” da vida franciscana, iniciando pela fraternidade. Pela fraternidade reconhecemos que os outros são parte de minha família. Não uma família restrita à consanguinidade, mas uma família moldada pela graça. Uma família formada assim vê que seus vínculos são muito mais fortes que o sangue, visto que o sentido de cuidado e respeito um pelo outro provém não somente da outra pessoa, mas da própria opção de fé que os une. E estes vínculos são estendidos a toda humana criatura, pois sabemo-nos irmãos em humanidade apesar de nossas diferenças, pois estas serão sempre menores que nossa identidade fraternal por sermos filhos do mesmo Pai. Entender e assumir esta compreensão leva o frade menor à integração com tudo o que vive e existe na Criação, sabendo-se parte de um todo, habitando a mesma Casa Comum.

O Ministro seguiu, voltando-se para o “pulmão” da minoridade, provocando os irmãos a não se esquecerem desta característica que dá o tom de nossa vida fraterna e atuação evangelizadora. A minoridade conduz o frade à acolhida da natureza de sua missão: ser servidor de todos, inclusive os menores de cada tempo. Para Frei Paulo, estes menores não são uma figura genérica, ideal, mas possuem nome e história e podem ser encontrados e conhecidos se assim desejarmos. Este passo compromete o frade menor pois permite que o outro, seu irmão, seja compreendido em sua necessidade e, por empatia, sua dor seja experimentada. Entretanto, este compromisso também é libertador na medida em que percebemos que não estamos sozinhos em nossa própria dor e luta e que, por natureza, todos somos dependentes uns dos outros e podemos nos fazer comunhão e entreajuda, serviço e doação uns aos outros.

Após a homilia, o rito da profissão teve início. Os frades professandos apresentaram sua intenção e foram interrogados pelos Ministro provincial quanto ao seu querer, inquirindo-os quanto aos elementos da vida religiosa franciscana com os quais eles diziam querer se comprometer em fidelidade. Para todas as perguntas, os frades afirmavam desejar viver a vida franciscana tal como ela lhes fora apresentada.

Na sequência, os frades se prostraram diante do altar enquanto toda a assembleia reunida entoava a Ladainha de Todos os Santos, invocando a intercessão da Igreja Triunfante sobre a vida e missão que eles consagravam a Deus, concluída pela prece do Ministro provincial.

Por fim, o momento central da celebração: os frades professandos, um a um, ajoelharam-se diante do Ministro provincial e professaram em alta voz, para que todos pudessem testemunhar, os votos sagrados e a profissão de vida na Ordem dos Frades Menores. Eles o fizeram a partir da fórmula oficial de profissão, escrita de próprio punho e assinada por eles. Após cada profissão, o Ministro abraçava o irmão neoprofesso.

Na continuidade do rito, eles receberam a Regra de Vida dos Frades Menores que professaram, com tudo aquilo que prometeram observar pelo resto de suas vidas enriquecendo a Igreja através de sua consagração e a cada um dos irmãos e irmãs que dela fazem parte. Também receberam uma vela, símbolo da vida religiosa e que entregaram aos seus familiares como dom e gratidão por terem sido o berço fecundo de suas vidas que agora consagravam a Deus.

Concluindo o rito da profissão, o Ministro provincial, seguido por todos os demais frades, abraçaram os neoprofessos sob a alegres cantos da assembleia, manifestando a alegria de terem novos irmãos com quem compartilhar a vida e a missão.

Foi um dia de verdadeira festa e alegria. A multidão que somou seu coração e alma à grande intenção da celebração foi convidada à partilha do bolo e da kissangua – suco de milho típico de Angola. As cantorias e cumprimentos tomaram todo o ambiente numa festa que se estenderia para além da liturgia.


 

Frei Rodrigo da Silva Santos, Secretário provincial