“Esperemos que a palavra sínodo não se torne um slogan sem significado”, pede Ministro Geral
24/01/2023
São Paulo (SP) – “O caminho sinodal é para nós oportunidade de nunca se cansar de aperfeiçoar o carisma, em todas as suas dimensões”. A orientação partiu, nesta terça-feira, 24 de janeiro, do Ministro Geral, Frei Massimo Fusarelli, aos Ministros Provinciais e Custódios presentes na Assembleia Geral da União das Conferências Latino-americanas Franciscanas (UCLAF), em andamento no Convento São Francisco, no centro de São Paulo.
“No caminho sinodal, tendo em vista o Capítulo das Esteiras de 2025”, foi o tema desenvolvido pelo Ministro Geral.
Segundo Frei Massimo, o carisma não é um depósito abstrato e intocável, e nem sequer a soma de fatos e de obras. Não é possível fixá-lo definitivamente nos textos e nas constituições. “É um dinamismo mais profundo, que atinge a todos os envolvidos, e é tal que não pode ser domesticado. O carisma é fruto do Espírito e, por isso, não pode ser fixado e armazenado em um ninho, mas vive graças a uma transformação e conversão contínua, que nos enraíza sempre mais no essencial que é Cristo”, explicou o Ministro Geral.
“A questão fundamental hoje, para nós, é se percebemos o carisma como o horizonte e referência da nossa vida em missão e se esse é realmente e existencialmente compartilhado”, disse.
Para Frei Massimo, é vital perguntar-nos se estamos prontos para escutar a realidade, o carisma, a Palavra de Deus, a vida dos irmãos, a fim de discernir a quais características do carisma nos abrirmos hoje. “Assim como toda instituição, nós também tendemos a nos autoconservar, e as nossas estruturas, de todo tipo, frequentemente nos levam, de modo aparentemente inevitável, a esse movimento”, acrescentou.
Segundo ele, o caminho sinodal quer nos ajudar a crescer na comunhão, graças à qual todos aprendemos a participar no projeto comum de vocação em missão, sobretudo repensando, com modelos mais ágeis, em nossas estruturas de organização, de governo e de animação. “Pensamos, de modo particular, na realidade de não poucas Províncias históricas que estão morrendo ou que já chegaram a um ponto sem volta por causa dos números e da idade média. Como podemos, enquanto Fraternidade Internacional, não somente ‘tapar os buracos’, mas repensar os modelos com os quais nos organizamos, e repensar a rede de presenças, de modo que se viva mais autenticamente o estilo evangélico”, disse. “Acredito que o objetivo mais importante seja justamente aquele de saber olhar para o futuro com olhos novos, antecipando o que acontecerá e reconhecendo o que já somos chamados a repensar”, ensinou.
Este espírito não é fácil de cultivar e aprofundar, observou Frei Massimo. “Aliás, aquilo que é positivo e os pontos críticos que encontramos entre nós não dizem, quem sabe, que o carisma é o coração da nossa vida em missão, para ser vivida como irmãos? Isso é dito na vontade de fazê-lo e nas dificuldades de realizá-lo. Em primeiro lugar, penso no bem que continua a crescer entre nós, sobretudo graças aos irmãos que não desanimam e cultivam o ‘sonho’ franciscano, que buscam o Senhor, cuidam dos irmãos, permanecem junto dos pobres, alimentando a paixão pelo testemunho do Evangelho”, emendou.
Frei Massimo lembrou aos Ministros e Custódios que, vivendo na América Latina, eles têm uma vasta experiência no exercício da sinodalidade, sobretudo a partir do crescimento da renovação conciliar. “Vocês experimentaram de diferentes modos, em vários países, o crescimento da Igreja nas comunidades eclesiais de base, bem como o incremento da projetação participativa que leva a tomar decisões através de organismos de participação como os conselhos e as assembleias pastorais. Vocês têm a experiência de uma Igreja de “comunhão e participação”, realidade que continua, apesar do crescimento de diferentes correntes, não excluídos certos tradicionalismos de vários tipos também entre os católicos”, recordou.
Para ele, essa herança deve ser renovada, especialmente para as jovens gerações que não têm memória do evento conciliar e correm o risco de sentir nostalgia de um modelo de Igreja que nunca conheceram. “Penso também no confronto com as comunidades evangélicas e pentecostais de vários tipos, que agora constituem uma grande realidade e que nos interpela de várias maneiras”, disse.
Frei Massino destacou a ajuda dada pelo Sínodo da Amazônia, que alcançou uma ressonância internacional para toda a Igreja por causa de alguns de seus aspectos e também pelo surgimento de uma consciência planetária, que está nos ensinando a colocar em uma relação diferente aquilo que é geral com aquilo que é local; a acolher melhor a inter-relação das igrejas locais, junto a tantos outros fenômenos desta nossa época, como a crise ecológica, a interdependência dos mercados, da tecnociência, especialmente a robótica e a informática, bem como a estratégia militar, a política e a espiritualidade.
“Consequentemente, assumir o Projeto Amazônia como UCLAF, com um compromisso real por parte das entidades para continuar e fortalecer a presença franciscana na Amazônia brasileira, é algo que vai além de uma nova missão a ser assumida. Se disso somos plenamente conscientes, trata-se de empreender uma missão compartilhada a partir de uma escolha estratégica, que hoje se configura na Amazônia. Assumir uma região local, sem limites que seja, com todas as suas particularidades, significa reconhecer que ali há uma palavra para todos. Podemos dizer que a Amazônia transcende a Amazônia, por dois motivos: porque se apresenta como um novo tema para a questão ecológica e porque se converte em um novo paradigma, onde podemos aceitar aprender dos pequenos, como os povos nativos, e com eles viver uma relação harmoniosa das criaturas entre si e com o Criador”, enfatizou Frei Massimo.
“Esperemos que a palavra sínodo não se torne um slogan que acabe não significando mais nada. Vamos dar-lhe nós mesmos conteúdo e força, deixando ações e nova elaboração, para nos voltarmos a gestos mais verdadeiros e incisivos. Bom caminho, irmãos! Continuemos nossa busca comum!”, concluiu Frei Massimo.
A SERVIÇO DE DEUS
No segundo dia da Assembleia, na sua 27ª edição, os frades se reuniram na Capela do Convento para orar juntos durante as Laudes e, em seguida, celebrar fraternalmente a Eucaristia presidida por Frei Fredy Gálvez Angulo, presidente da Conferência de Santa Maria de Guadalupe, do México, Segundo ele, devemos cultivar a família do reino, que transcende a biológica, composta por homens e mulheres que cumprem a vontade de Deus. “Todos os fiéis, sem distinção e em virtude do batismo que receberam, são sacerdotes; a nossa função sacerdotal é oferecer a nossa vida ao serviço de Deus e dos nossos irmãos e irmãs. É este sacerdócio comum de todos que dá sentido ao ministério ordenado – bispos, presbíteros e diáconos – instituído por Jesus Cristo para estar ao serviço da comunidade”, disse.
Na Sala São Dâmaso, na primeira sessão do dia, moderada por Frei Nelson Tovar, Ministro da Província de São Paulo Apóstolo da Colômbia, cada presidente das Conferências deu um panorama das entidades que as compõem, iniciando pela Conferência do Santa Maria de Guadalupe, presidida por Frei Fredy Gálvez. Posteriormente se apresentaram a Conferência Brasil e o Cone Sul, presidida por Frei Daniel Fleitas, e a Conferência Franciscana Bolivariana, presidida por Frei José Alirio Rodríguez.
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Então, em um ambiente fraterno, os Ministros e Custódios foram convidados a preparar algumas perguntas para o Governo Geral e seu Definitório em torno da percepção de relatórios de Conferências, como por exemplo: qual é a visão do Ministro Geral e seu Definitório pela UCLAF? Como consolidar processos pastorais eficazes? Os Definidores e Frei Massimo ofereceram respostas concretas e próprias para os temas.
Depois da mensagem do Ministro Geral, os representantes das Conferências se reuniram em grupos para aprofundar essas reflexões e retornaram para um diálogo com Frei Massimo.
Equipe de Comunicação da Assembleia da UCLAF