O carinho de Francisco às Irmãs e aos assistidos no Centro Belém, em Bratislava
13/09/2021
Emoção, alegria, familiaridade e solidariedade: depois do almoço e descanso na Nunciatura Apostólica, o Papa dirigiu-se à periferia de Bratislava, mais especificamente ao Centro Belém, distante 8 km, administrado pelas Missionárias da Caridade. Foi o próprio Francisco que expressou o desejo de visitar o local para encontrar os pobres ali assistidos e conhecer o apostolado das irmãs.
O Santo Padre foi recebido no pátio pela Superiora às 16h10 (hora local), sendo saudado pelas demais religiosas presentes, de quem recebeu uma guirlanda azul. Antes de conhecer a estrutura, não conseguindo esconder sua alegria, dirigiu algumas palavras de agradecimento e encorajamento aos presentes, dizendo estar contente pela visita:
“Boa tarde a todos vocês. Estou contente em visitá-los, de estar entre vocês. Estou muito contente! Obrigado por me receberem. Agradeço muito as irmãs, o trabalho que fazem, trabalho de acolhida, de ajuda, de acompanhamento. Muito obrigado. Mas também agradeço aos pais, às mães que estão aqui com os jovens e agradeço a todos os jovens aqui presentes neste momento. E também o Senhor está conosco. Quando estamos juntos, assim felizes, o Senhor está conosco. Ele também está conosco quando estamos em momento de provação. Nunca nos abandona. O Senhor sempre está próximo de nós. Podemos vê-lo, podemos não vê-lo, mas sempre nos acompanha no caminho da vida. Não se esqueçam disso, sobretudo nos momentos difíceis. Muito obrigado, muito obrigado!”
Enquanto do lado de fora uma pequena orquestra e coral das crianças animava a visita, guiado pela Superiora o Papa conheceu o Centro, onde encontrou cerca de 30 pessoas que viviam pelas ruas e agora são acolhidas pelas Missionárias da Caridade. Alguns estão doente ou têm algum tipo de deficiência. Ao assinar o Livro de Honra, Francisco deixou a seguinte mensagem:
“Agradeço de coração pelo seu testemunho. Agradeço as pessoas que colaboram. Rezo por vocês. Por favor, façam o mesmo por mim. Que o Senhor vos abençoe e Nossa Senhora vos proteja.”
O Papa saiu depois alguns minutos, quando então deu atenção a uma Missionária da Caridade cadeirante. E então, dos microfones instalados no pátio, convidou os presentes a rezar uma Ave Maria e concedeu a todos a sua Bênção. No pátio também estavam colaboradores leigos que ajudam as irmãs, sacerdotes que trabalham regularmente no centro, alguns franciscanos, cadeirantes e famílias pobres vindas de outros lugares.
Para marcar a visita, o Santo Padre entregou às Irmãs um quadro em porcelanato de Nossa Senhora com o Menino Jesus segurando um cacho de uvas e a seguir, em um momento de forte emoção, caminhou entre os presentes – enquanto o pequeno coral cantava “Paradiso” – saudando e abençoando as crianças, suas famílias e os doentes, sendo retribuído com sorrisos, carinho e muitos agradecimentos. Francisco deixou o Centro às 16h38, para dirigir-se à Praça Rybné námestie para o encontro com a Comunidade Judaica.
O Centro Belém
O Centro Belém das Missionárias da Caridade está localizado no distrito de Petržalka, o maior da Europa Central, com seus 120 mil habitantes. Construído pelos comunistas nos anos 70-80, passou a ser chamado nos anos 90 de Bronx Eslovaco, devido à grande circulação de drogas e à violência difusa. Hoje, no entanto, a situação mudou, e não obstante os grandes conglomerados e a quantidades de moradores com dificuldades, é bom lugar de se viver, afirmou ao Vatican News o padre Juraj Vittek.
Ali, há mais de vinte anos, a comunidade internacional das religiosas de Madre Teresa de Calcutá, entre os altos edifícios de moradia social, cuida dos sem-teto, dos desamparados, das pessoas necessitadas de ajuda e sobretudo dos enfermos. A estrutura, uma pequena construção de dois andares, que já foi um jardim de infância, oferece um leito para dormir, refeições quentes e banheiros. No térreo, são atendidas as necessidades essenciais e há espaço para pernoites breves; no andar superior, um quarto está reservado para internações prolongadas ou para enfermos graves e, ao lado, há uma capela dedicada ao Imaculado Coração de Maria.
Graças à generosidade do povo, as irmãs conseguem garantir assistência, roupas e bens essenciais a quem vive na rua e bate à sua porta. Perto do Centro está a Igreja paroquial da Sagrada Família, consagrada em 2005 após a visita de São João Paulo II, quando em 2003 beatificou dois mártires do comunismo: Irmã Zdenka Schelingova e o bispo greco-católico Vasil Hopko.
Feito porcelanato, no contexto da moderna manufatura italiana, a iconografia incomum desta muito delicada Bem-Aventurada Virgem Maria com o Menino segurando um cacho de uvas, deriva de uma conhecida pintura do famoso Pierre Mignard, agora preservada no Louvre em Paris, embora uma versão mais antiga possa ser encontrada no painel central do famoso Polittico de Pisa, que Masaccio criou em 1426 para a ‘Chiesa del Carmine’ naquela cidade.
Em ambas as pinturas, de fato, o simbolismo da uva é destacado como o sangue eucarístico da paixão de Cristo, embora no Antigo Testamento os cachos da videira já simbolizassem não só alegria e amizade, mas também Israel, que é o povo de Deus.
Da mesma forma, portanto, se no Novo Testamento a vinha é o Reino dos Céus e seu fruto é a Eucaristia, então o verdadeiro tronco da videira de Deus é seu filho Jesus, que de fato no Evangelho de João (15, 1-8) assim se proclama: “Eu sou a videira e vós os ramos; quem permanece em mim dá muito fruto”.
Mas se a uva na Bíblia (e também na arte) se tornou progressivamente o sinal distintivo do Messias e de todos aqueles que o reconhecem e seguem, eis que a Virgem Maria é a “videira” fecunda por excelência, visto que Ela é a Esposa que introduziu o Rei dos Reis no mundo.
Este é, portanto, o tema desenvolvido pelo raro sujeito iconográfico da “Madonna dell’uva” (Nossa Senhora da Uva). Um tema que toca a todos nós, visto que por meio desse cacho estamos indissociavelmente ligados àquela “Videira” que é Cristo, pois é precisamente pela fidelidade dos “Ramos” que o seu sangue pode chegar até ao último grão.
Aquele vinho que na mesa eucarística se torna o sangue do Redentor é, além disso, o fruto de tantas uvas colhidas por toda a parte e espremidas na “prensa da provação”. Um “vinho”, um “sangue de uvas” – assim se diz em hebraico – que fala da unidade da Igreja, selada numa aliança baseada na caridade de Cristo.
Fonte: Vatican News (texto de Jackson Erpen)
O Papa à Comunidade Judaica: “A vossa história é a nossa história”
Na tarde desta segunda-feira (13), segundo dia da Viagem Apostólica do Papa à Eslováquia, Francisco teve um encontro com a Comunidade Judaica na Praça Rybné Námestie. É uma praça muito significativa para a comunidade judaica, no seu discurso o Papa recordou que “durante vários séculos, fez parte do bairro judeu; aqui trabalhou o célebre rabino Chatam Sofer. Aqui havia uma sinagoga, mesmo junto da Catedral da Coroação. Diz-se que a arquitetura exprimia a convivência pacífica das duas comunidades, símbolo raro e altamente sugestivo, sinal estupendo de unidade no nome do Deus de nossos pais. Aqui sinto também eu, como tantos outros, a necessidade de ‘descalçar as sandálias’, porque me encontro num lugar abençoado pela fraternidade entre os homens no nome do Altíssimo”, afirmou o Papa.
Usar o nome de Deus
“Porém”, continuou, “o nome de Deus foi desonrado: na loucura do ódio, durante a II Guerra Mundial, foram mortos mais de cem mil judeus eslovacos”. E Francisco reitera aos presentes: “Aqui, tendo diante dos olhos a história do povo judeu marcada por esta trágica e inaudita afronta, sentimos vergonha em admiti-lo: quantas vezes o nome inefável do Altíssimo foi usado para indescritíveis atos de desumanidade! Quantos opressores declararam ‘Deus está conosco’, mas eram eles que não estavam com Deus…”.
“Queridos irmãos e irmãs, a vossa história é a nossa história, os vossos sofrimentos são os nossos sofrimentos. Para alguns de vós, este Memorial da Shoah é o único lugar onde podeis honrar a memória dos vossos entes queridos. Também eu me uno a vós. No Memorial, está inscrito, em hebraico, ‘Zachor – Recorda!’. A memória não pode nem deve ceder lugar ao esquecimento, porque não haverá alvorada duradoura de fraternidade sem antes se ter compartilhado e dissipado as trevas da noite”
Francisco reiterou: “E existem ainda o esquecimento do passado, a ignorância que justifica tudo, a raiva e o ódio”
“Estejamos unidos – repito – na condenação de toda a violência, de todas as formas de antissemitismo, e no empenho por que não seja profanada a imagem de Deus na criatura humana”.”
A luz da esperança
Mas esta praça, queridos irmãos e irmãs, é também um lugar onde brilha a luz da esperança. Aqui vindes, todos os anos, acender a primeira luz no castiçal Chanukiá. Assim, na obscuridade, aparece a mensagem de que não são a destruição e a morte a ter a última palavra, mas a renovação e a vida.
Depois de especificar sobre a partilha e comunicações entre a Igreja Católica e a Comunidade Judaica Francisco falou da importância do “caminho fraterno de purificação da memória para curar as feridas do passado” e a “recordação dos bens recebidos e oferecidos” e disse: “Segundo o Talmud, quem destrói um só homem destrói o mundo inteiro, e quem salva um só homem salva o mundo inteiro. Cada um é importante, como o é também aquilo que fazeis através da vossa preciosa partilha. Agradeço-vos pelas portas que abristes de ambos os lados”.
“O mundo precisa de portas abertas. São sinais de bênção para a humanidade”
Por fim o Santo Padre concluiu: “Aqui, na Eslováquia, terra de encontro entre oriente e ocidente, norte e sul, que a família dos filhos de Israel continue a cultivar esta vocação, o chamamento a ser sinal de bênção para todas as famílias da terra”.
Fonte: Vatican News (texto de Jane Nogara)