Dom Sergio da Rocha: “Nós temos muito que aprender com Madre Vitória da Encarnação”
20/07/2021
“Nós temos muito que aprender com Madre Vitória da Encarnação. Ela é sinal daquilo que toda a Igreja busca: a oração, a contemplação, a vida fraterna, a caridade, a pobreza, o despojamento, a simplicidade de vida. Se não for assim, não há espaço para Deus no coração. Não há espaço no coração dos irmãos quando alguém vive para si mesmo”. Assim exortou o Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, Cardeal Dom Sérgio da Rocha, na Santa Missa de Ação de Graças pelos 306 anos da morte da Madre Vitória da Encarnação, celebrada ontem (19/7), às 10 horas, no Convento Santa Clara do Desterro, em Salvador, BA, onde a Serva de Deus passou os últimos anos de vida.
Esta celebração foi preparada com uma Novena envolvendo a cada dia um Mosteiro ou Convento das Irmãs Franciscanas do Sagrado Coração de Jesus, que, juntamente com as Clarissas Capuchinhas, Frades Menores e Frades Capuchinhos, Leigos e Seminaristas, estão empenhados no trabalho de divulgação da causa de Madre Vitória da Encarnação. A mais nova baiana rumo aos altares morreu com fama de santidade em 1715, em Salvador.
Dom Sérgio fez sua reflexão a partir do Evangelho, que os escribas e fariseus pediam um sinal para Jesus, um milagre, para se certificarem de que Ele era verdadeiramente o Filho de Deus Pai. “Mas aqueles que pediam sinais, se recusavam a crer, pois estávamos com os corações fechados. Portanto, pediam sinais não porque acreditavam, mas muito mais para pôr à prova Jesus”, disse o Arcebispo.
Segundo o celebrante, sem a fé não se reconhece sinais. “Sem olhar a fé, não conseguimos reconhecer os sinais de Deus, por maiores que sejam”, ensinou.
Dom Sergio explicou que reconhecemos como grande sinal de Deus a santidade vivida por irmãos e irmãs que estão no céu e são venerados porque foram canonizados, “mas também aquela multidão de homens e mulheres, pessoas santas que está a caminho do altar ou está na glória dos céus, intercendo por nós, ainda que não tenham sido canonizadas”.
Para Dom Sérgio, Madre Vitória, a Serva de Deus, é motivo de louvor. “Olhando para a vida dela nós vemos sinais de Deus, sinais da graça operando na sua vida, no seu coração. Não é só nas coisas extraordinárias, que são constatadas na sua vida, que Deus se manifestava. Assim como não são em momentos extraordinários das pessoas que Deus hoje se manifesta, que o seu amor se faz presente. É no dia a dia da vida. A Igreja, antes de constatar milagres, procura conhecer a vida daqueles que nós propomos para o reconhecimento oficial de sua santidade através da beatificação e depois canonização. Mas Igreja começa pelos milagres do dia a dia, o que significa pelos sinais de santidade no dia a dia. São sinais de santidade, são dons de Deus, graças de Deus, sinal de que Deus está presente naquela pessoa, através daquela pessoa, realizando o seu plano salvador”, explicou o Primaz do Brasil.
Segundo ele, Deus manifestou na vida de Madre Vitória sinais de amor, bondade, misericórdia, mas Ele continua a manifestar o seu amor, sua bondade, sua misericórdia na vida de todos aqueles buscam hoje, que procuram viver na santidade, como ela viveu. “E Deus assim o faz não só em eventos extraordinários mas também no dia a dia da vida, nas situações, no gestos aparentemente simples, Deus se faz presente e revela a sua graça. Nós louvamos a Deus pelo dia a dia vivido por Madre Vitória neste mundo, pela santidade vivida por ela no dia dia, que está sendo cada vez melhor verificada, constatada, confirmada pela nossa Igreja”, disse.
Dom Sérgio lembrou que sua vida foi marcada pela oração, pela contemplação, pela meditação da Palavra, pelos discernimento dos sinais de Deus na sua vida, na da sua comunidade, na vida da Igreja. “Mas essa vida de oração é acompanhada pela vida fraterna, sobretudo pela fraternidade com os pobres, pelos que mais sofrem. Todos os santos e santas compartilham desta virtude de amor fraterno, de serviço para os que mais sofrem”, enfatizou.
“Nós pedimos a graça de imitar a Serva de Deus Madre Vitória da Encarnação. Assim como ela foi santa por graça de Deus, nós também queremos caminhar na graça de Deus”, exortou no final da homilia.
A SERVA DE DEUS
Nascida em Salvador (BA), no dia 6 de março de 1661, Madre Vitória da Encarnação, filha do Capitão de Infantaria Bartolomeu Nabo Correia e sua esposa, Luísa Bixarxe. Teve um irmão e três irmãs. Seu pai desejou que se tornasse religiosa, mas ela disse que preferia que lhe fosse cortada a cabeça a se tornar freira. Contudo, em 29 de setembro de 1986, após algumas experiências místicas, decidiu por si mesma ingressar no Mosteiro do Desterro, onde habitavam as Irmãs Clarissas, acompanhada de Maria da Conceição, uma de suas três irmãs.
Ali passou a se destacar por uma vida pobre, casta e obediente; uma dedicação sem limites à vida fraterna e aos pobres que recorriam ao mosteiro e também uma caridade que comovia as suas coirmãs. Na função de porteira, Vitória teve a oportunidade de praticar a caridade com os pobres, a quem socorria ora com alimentação ora com esmolas. Não podendo sair do claustro, ao tomar conhecimento da existência de algum necessitado na cidade, pedia a seus familiares que o acudissem.
Sua devoção pela Paixão do Senhor e por São Miguel Arcanjo, suas experiências místicas e seu amor às almas do purgatório, seus jejuns e suas penitências contínuas fizeram de Madre Vitória, sem que ela o desejasse, um modelo que atraía as demais religiosas à santidade e edificava a todos.
Faleceu às 15 horas do dia 19 de julho de 1715, com fama de santidade. Ao espalhar da notícia de seu falecimento, muitos fiéis se dirigiram ao mosteiro para reverenciá-la.
Em 2019, as Irmãs Clarissas de todo o Brasil resolveram assumir todo o processo de beatificação da Serva de Deus e escolheram como postulador da causa Frei Jociel Gomes, OFMCap.
Moacir Beggo