A escolha não é casual: no dia em que a Igreja celebra a memória litúrgica de Santa Josefina Bakhita, realiza-se também o Dia Mundial de Oração e Reflexão contra o Tráfico de Seres Humanos.
Santa Josefina “viveu a humilhação e o sofrimento da escravidão”, como recordou o Papa no Angelus deste domingo – uma jovem sudanesa que foi escravizada entre 1800 e 1900 e se tornou freira canossiana.
Em 2021, devido à pandemia, o evento será virtual com uma maratona de oração que envolverá inclusive o Papa Francisco, desde sempre grande admirador e incentivador do trabalho das consagradas que integram a rede internacional “Talitha Kum”.
“Este ano, o objetivo é trabalhar por uma economia que não favoreça, mesmo indiretamente, esse tráfico ignóbil, ou seja, uma economia que nunca faça do homem e da mulher uma mercadoria, um objeto, mas sempre o fim. Peçamos a Santa Josefina Bakhita que nos ajude nisto”, disse o Papa no Angelus de 7 de fevereiro.
Acreditar com coragem
A coordenadora internacional desta rede é a Ir. Gabriella Bottani, italiana que foi missionária no Brasil e ali iniciou seu empenho neste campo contra o tráfico.
Em entrevista ao Vatican News, Ir. Gabriella fala também de como a pandemia afetou o trabalho das consagradas e vulnerabilizou as vítimas. A religiosa destaca ainda a atualidade do testemunho da Santa Josefina Bakhita e como a atenção do Papa Francisco a este tema alargou a participação neste Dia de Oração a fiéis de outras confissões religiosas.
“Santa Josefina Bakhita é uma mulher que nos ensina a ter a coragem de continuarmos esperando e construindo caminhos de confiança. Acreditar de verdade que aquilo que é a dor do tráfico, aquilo que é o trauma que o tráfico causou nas pessoas pode ser curado através ações de solidariedade, de proximidade.”
Participe!
Participe da maratona ao vivo no canal do YouTube do Dia Mundial (www.youtube.com/c/preghieracontrotratta), com traduções em cinco idiomas. O Papa também participará com uma mensagem em vídeo.
VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER
A pandemia da Covid-19 tornou as mulheres “cada vez mais vulneráveis e passíveis de sofrer chantagens e, portanto, vítimas de violência e abusos ainda maiores do que no passado”: o alarme é dado pela Caritas Ambrosiana – órgão caritativo da Arquidiocese de Milão, norte da Itália – em nota publicada em vista do Dia internacional de oração e reflexão contra o tráfico de pessoas, que é celebrado em 8 de fevereiro, na próxima segunda-feira.
“Ao estado de escravidão em que são mantidas – lê-se na declaração – foi acrescentado um nível de miséria material sem precedentes.” Setenta por cento delas, de fato, tiveram que recorrer à “ajuda alimentar, da qual não tinham necessidade antes”.
E tempo de coronavírus, a prostituição cada vez mais online
Além disso, como observa a responsável pelo setor da Caritas Ambrosiana de combate ao tráfico e prostituição, Irmã Claudia Biondi, “o coronavírus deslocou o drama da prostituição cada vez mais online”, tornando as vítimas “ainda mais invisíveis, difíceis de abordar se não por clientes e exploradores, e portanto mais solitárias”, “mais marginalizadas”.
Quanto aos países de origem das vítimas deste tráfico, a organização caritativa da Arquidiocese de Milão informa que em primeiro lugar está a Romênia, com 53% das presenças, seguida pela Albânia e Nigéria, respectivamente com 21% e 17%.
Todavia, em particular para as mulheres africanas, isto não significa que elas estejam seguras, mas que, não tendo conseguido atravessar o Mediterrâneo, “permaneceram prisioneiras nos campos de detenção líbios e lá, para sobreviverem e esperar juntar dinheiro suficiente para continuar a viagem, se oferecem a seus próprios carcereiros”.
Necessidade de um ímpeto de consciência
O mesmo acontece com as meninas no Níger, obrigadas a “vender-se a homens envolvidos na extração de ouro nas minas”. Efetivamente, a demanda de sexo a pagamento jamais diminuiu, a ponto de superar até mesmo o medo do contágio, ressalta ainda a Caritas Ambrosiana.
“É preciso um ímpeto de consciência da parte dos clientes – exorta o diretor do órgão caritativo, Luciano Gualzetti. Não é possível reduzir as mulheres a corpos sem alma, mas devemos aprender a olhar para o drama por trás de suas histórias.”
Ao mesmo tempo, Gualzetti convida a oferecer a estas vítimas não somente um acolhimento, mas também “oportunidades reais de integração no mercado de trabalho”, pois “a crise social que se abriu com a pandemia não pode ser um álibi para esquecer os últimos, mas pelo contrário, deve ser uma oportunidade para recomeçar a partir deles”.
Em preparação para o Dia internacional de oração e reflexão contra o tráfico de pessoas, sábado, 6 de fevereiro, a Caritas Ambrosiana, em colaboração com outras organizações incluindo o Centro PIME (Pontifício Instituto das Missões Exteriores), promove um webinar intitulado “Tráfico, prostituição e escravidão. Novas fronteiras e novos desafios”. Encontro transmitido ao vivo streaming.
Por fim, recorda-se que este Dia de oração contra o tráfico de pessoas, celebrado em 8 de fevereiro, foi lançado em 2015 pelos então Pontifícios Conselhos da Pastoral para os Migrantes e os Itinerantes e para a Justiça e Paz e pelas Uniões internacionais femininas e masculinas de superiores e superioras gerais.
Esta celebração pretende ser uma resposta ao apelo do Papa Francisco a combater o fenômeno do tráfico de pessoas e a cuidar das vítimas. A escolha da data não foi casual: de fato, 8 de fevereiro é a memória litúrgica de Santa Josefina Bakhita, uma escrava sudanesa, libertada e que se tornou religiosa canossiana, canonizada no ano 2000.
Fonte: Vatican News