Espírito de Assis é celebrado na Paróquia Santa Clara de Imbariê
29/10/2020
Frei Gabriel Dellandrea
Duque de Caxias (RJ) – A beleza na execução de uma música depende de vários fatores: harmonia, cadência correta, instrumentos adequados, boa preparação, afinação… Por isso, pode-se dizer que o Encontro sobre o Diálogo Inter-religioso “Espírito de Assis”, ocorrido no centro paroquial da Paróquia Santa Clara de Imbariê, na última terça-feira (27/10), às 19h30, pode ser comparado a uma bela música! Tudo esteve “afinado”, “numa só voz”, mas não sendo um monólogo, mas a execução da arte da capacidade do diálogo, da partilha e do sonho de um mundo que viva em paz. Por isso, para que o encontro com o outro pudesse acontecer, líderes de presenças religiosas no território da paróquia foram convidados. Este evento possui por inspiração o encontro realizado por João Paulo II, em Assis, no ano de 1986, onde foram reunidos líderes de diversas religiões para buscar um espírito de comunhão e paz.
Um dos atributos que ajudou a tornar o encontro uma “bela canção”, entoada pelos acordes da paz, também foi o ensejo de preparar cada detalhe com carinho e simplicidade. Flores, velas, palavras coladas nas paredes indicavam que o encontro seria um momento de singular significado, onde a ornamentação simples deixava evidente o principal: a beleza dos corações generosos que queriam se abrir ao diálogo. Uma das notas mais afinadas da melodia que perpassou o encontro também foi a iniciativa, logo na chegada, onde cada pessoa recebia um bombom, representando a doçura do abraço que a Paróquia gostaria de dar a todos, mas que no momento fica guardado para o futuro por causa da pandemia da Covid-19.
A celebração iniciou com uma animada acolhida de cada líder religioso, com cantorias e palmas, bem animadas, como é próprio do modo de vivenciar a fé na Baixada Fluminense. Depois, a leitura de um trecho do Evangelho e do parágrafo 203 da Encíclica Fratelli Tutti do Papa Francisco ajudaram a dar um fundamento, uma base para o sentido do diálogo inter-religioso que se queria tratar. O ponto alto da celebração foi a partilha breve de cada líder religioso presente. Confira abaixo um pouco do que cada um falou.
Regina Célia Martins Costa, representando o Centro Espírita Lar de José, da Ilha do Governador, que fez a leitura do Evangelho de Mt 5, 43-48, iniciou as reflexões dizendo: “A nossa vaidade, o nosso orgulho, ainda nos fazem pequenos neste mundo. Nós amamos aqueles que nos amam, mas o difícil e o mais importante é amar aqueles que não nos amam. Aqueles que se dizem nossos inimigos. Aí está a grande proposta de Jesus”. Ela ainda admoestou a todos com as seguintes palavras de encorajamento, explicando o mandamento de Jesus no que se refere ao amor ao próximo: “Este é o caminho que vai nos levar adiante. É para isso que ele [Jesus] veio aqui, é para isso que ele trouxe a sua palavra: é para que nós possamos entender que amar o nosso próximo é a amar a humanidade como um todo!”.
Padre Gabriel (José Luiz) da Paróquia Ortodoxa Antioquina São Cosme e São Damião, do Parque Paulista, em Duque de Caxias (RJ), continuou o momento do diálogo fraterno iniciando o seu momento de fala com uma música que, segundo ele, esteve em seu pensamento quando começou a pensar esta ocasião: “Palavra não foi feita para dividir ninguém, Palavra é a ponte onde o amor vai e vem”. Na sua reflexão ele ressaltou que é muito salutar trazer à tona hoje o espírito franciscano de compreender o outro, levantando uma mensagem de eternidade. Falando sobre a integração das religiões em prol do bem comum, ele lembrou que muitas pessoas recebem mensagens com músicas que são capazes de trazerem bons sentimentos por causa de sua melodia, da letra, mas que nem sempre são do mesmo seguimento religioso que a pessoa professa sua fé: “As letras são cada vez mais interessantes, com uma certa alto-estima que é muito boa, e aquela pessoa que está numa certa depressão, passando por algum problema em casa, de desemprego ou doente, recebe aquele ‘zap’ e fica escutando com certo carinho”. Ele finalizou lembrando do grande legado franciscano sobre esse diálogo entre as diferenças dizendo: “São Francisco de Assis: seja eterna a sua memória!”.
Roberto Almeida da Cruz, mais conhecido como Pai Roberto, representando as religiões afro-brasileiras, ressaltou que era um prazer estar novamente participando deste encontro, dizendo com que tal iniciativa ajuda na renovação no diálogo entre as religiões, constantemente necessária. Fazendo uma pequena retrospectiva histórica ele fez perceber que há movimentos que já fizeram crescer a capacidade do diálogo, porém, mesmo dentro da religião em que ele professa, acaba encontrando divisões e desencontros que ainda impedem um movimento maior de renovação e compreensão do outro. Mas animou a todos dizendo que: “Eu acredito muito na transformação. Deus é o maior de tudo. A gente não pode colocar nada acima de Dele!”.
Finalizando a bonita “canção” que foi esse diálogo fraterno dos líderes religiosos, Frei João Reinert, da Paróquia Santa Clara de Imbariê, ressaltou que no diálogo inter-religioso é preciso valorizar e respeitar a experiência religiosa do outro: “O diálogo religioso, o Espírito de Assis é um momento de aprendizado”. Para ilustrar, ele apresentou diante da assembleia um objeto e recordou que cada pessoa, do lugar onde está, vê o objeto de um modo. É assim que cada um vê o mistério de Deus: a partir de cada ponto de vista é possível ver o mistério. E assim, no diálogo inter-religioso, o ser humano se abre na valorização da religião e da manifestação divina que o outro vivencia. Por isso, momentos como a celebração em questão, para o frade, se tornam uma oportunidade onde: “eu vou aprender a ver o mistério de outra forma que eu não vejo do meu ponto de vista”.
Depois do diálogo fraterno, a celebração continuou sendo uma canção bela e harmoniosa, reunindo a força da oração comunitária com a oração do Pai-Nosso na versão ecumênica. A bênção final foi um gesto de profunda espiritualidade: no silêncio, todos foram convidados a rezarem uns pelos outros, fazendo da ausência de sons a oportunidade de escutar a canção da voz de Deus que com certeza ressoou no coração de cada um com um sentimento: gratidão por este momento oportuno de partilha de vida. Por fim, Frei João agradeceu a presença de todos e os líderes religiosos foram presenteados com flores, numa forma de gratidão pela presença. Durante a celebração buscou-se realizar todos os protocolos de distanciamento e as exigências sanitárias por causa do tempo de pandemia que se está vivendo. Por isso, o centro paroquial contou apenas com alguns representantes das comunidades da paróquia e das religiões convidadas. Para que mais pessoas pudessem contemplar o momento, o mesmo foi transmitido pela página do Facebook da paróquia e, numa parceria franciscana, também a página do Facebook da Paróquia Sagrado Coração de Jesus de Petrópolis compartilhou a live, levando para ainda mais longe esta canção do diálogo e da paz que foi este momento tão importante!