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Frei Nilo fala sobre os “desafios da educação a partir de Paulo Freire e Walter Benjamin”

29/10/2019

Entrevistas

Professor, pesquisador, escritor, conferencista, Frei Nilo Agostini nasceu no dia 7 de dezembro de 1957, em Indaial, Santa Catarina. Ingressou na Ordem dos Frades Menores em 20 de janeiro de 1977, onde professou solenemente em 1 de agosto de 1981. Foi ordenado presbítero em 16 de julho de 1983. Pós-doutor em Educação e doutor em Teologia, hoje atua como professor e pesquisador na Universidade São Francisco (USF), de Bragança Paulista SP, integrando o corpo de docentes do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da Universidade São Francisco (USF).

É autor de mais de uma dezena de livros, várias dezenas de artigos em periódicos especializados e bom número de participações em obras coletivas. Tem igualmente publicado matérias em revistas e jornais. Pertence ao corpo editorial das Revistas Caminhos (Goiânia) e Contemplação (Marília), bem como faz parte co Conselho Científico da Revista Eclesiástica Brasileira. Desenvolve o seu trabalho na área da Teologia e da Educação, com ênfase em Ética e Moral, bem como em autores como Paulo Freire e Walter Benjamin.

Nesta entrevista a Natália França, da Coordenação Nacional de Vendas da Editora Vozes Ltda, ele fala dos seus novos lançamentos: “Os desafios da educação a partir de Paulo Freire e Walter Benjamin”, recentemente publicado pela Editora Vozes.

Editora Vozes – Como surgiu a ideia de escrever o livro?
Frei Nilo – A ideia do livro surgiu quando participei do Congresso Internacional de Teoria Crítica, sediado na Universidade Federal de São Carlos, em 2016. O Prof. Michael Löwy, Diretor emérito de pesquisas do CéSor (Centre d’études en sciences sociales du religieux), da EHESS – CNRS (École des hautes études en sciences sociales – Centre national de la recherche scientifique), Paris, França, também estava presente no evento. Segui com muita atenção a exposição do Prof. Löwy sobre Walter Benjamin. Ao final, fiz-lhe em público uma pergunta sobre a convergência deste pensamento com o de Paulo Freire, ao que ele afirmou não saber responder, mas disse que seria um bom tema para um pós-doutorado. Desfeita a mesa, fui falar com ele no sentido dele me acompanhar neste pós-doc, sendo positiva a sua resposta.
Portanto, o presente livro é resultado de meu pós-doutorado em Educação. Após ver as possibilidades de realizar o meu pós-doc, decidi fazê-lo na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com estágio na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris (EHESS). Iniciei o pós-doc na UFSCar em agosto de 2017, onde participei ativamente do segundo semestre letivo, tanto em sala de aula como nas atividades de pesquisa, sob a supervisão do Prof. Luiz Roberto Gomes, do Departamento de Educação de do PPGE – UFSCar. O estágio na EHESS (École des hautes études en sciences sociales) iniciou em meados de fevereiro de 2018 e se encerrou no final de junho seguinte, sob a supervisão do Prof. Michael Löwy.

Editora Vozes – Qual a proposta da obra?
Frei Nilo – A presente obra busca traçar as convergências e as transversalidades do pensamento e respectiva práxis de Paulo Freire e de Walter Benjamin. Ela é um “grito de alerta” sobre a condição humana, especialmente ante o processo de desumanização hoje em curso, especialmente dos pobres, as vítimas da sociedade, tendo presente o processo de “semiformação”. Por meio de uma investigação teórico-conceitual, busca entrever caminhos que apontem para uma transformação “criadora de vida” (expressão de Paulo Freire). Elementos constitutivos da Teoria Crítica da Sociedade se juntam aqui e impulsionam esta obra, em especial o comportamento crítico e a orientação para a emancipação.

Editora Vozes – É um livro abrangente? Para quem os textos são voltados?
Frei Nilo – Sim, é um livro abrangente, mas atrai de imediato a atenção dos Programas de Pós-graduação stricto sensu em Educação de nossas Universidades, bem como dos Cursos de Graduação de Pedagogia e afins que buscam uma leitura crítica da sociedade no viés destes dois Autores. Igualmente, o texto é capaz de levar informação e alimentar a visão de um universo amplo de leitores, sempre que buscarem respostas a altura dos desafios de nosso tempo, no sentido da humanização, da emancipação, aguçando a criticidade na problematização de nosso mundo e alimentando a esperança de livrar a humanidade da catástrofe e fomentar uma humanidade “criadora de vida”.

Editora Vozes – O que o leitor pode esperar deste livro?
Frei Nilo – O leitor pode esperar deste livro um mergulho na vasta obra de Walter Benjamin e Paulo Freire, proporcionando conhecimento e aguçando a criticidade ante a fissura social existente em nossa sociedade e ante as investidas fascistas que danificam o tecido social. E, em meio a uma indústria cultural que dissemina a semiformação, preferindo um espírito alienado e adestrado, o leitor encontrará neste livro um grito de alerta para empenharmos os melhores esforços em favor de uma educação crítica e emancipadora, no sentido da autonomia do ser humano. Cabe exorcizar a barbárie, o horror da servidão, perpetradas pela conformação das consciências. Cabe romper a continuidade da opressão e investir na educação como ruptura emancipadora e, pelo diálogo, realizar uma inserção lúcida na realidade histórica, captando suas contradições e, de forma crítica, “libertar o futuro de sua forma presente desfigurada” (Walter Benjamin). Benjamin e Freire apostam numa revolução “criadora de vida”, “biófila”, engajados no “caminho do amor” (Paulo Freire), por “uma vida mais elevada”, preservando o “espírito criador”, numa “reconstrução integral”, enquanto membros de uma “comunidade de criadores que atua através do amor” (Walter Benjamin), sem que nos ajustemos a reboque ou de maneira mecanicista à sociedade liberal e sua “tendência burguesa, indisciplinada e mesquinha” (Walter Benjamin).

Editora Vozes – Em que esta obra se difere das outras publicações de sua autoria?
Frei Nilo – Esta publicação foi escrita mais no âmbito da educação, enquanto outras foram desenvolvidas no ambiente mais teológico, com destaque para a ética e a moral. Porém, em praticamente todas, há um espírito crítico que alimenta as análises e a busca de horizontes práticos. A obra atual é, em parte, devedora à tese de doutorado, publicada em 1990, sob o título “Nova evangelização e opção comunitária: Conscientização e movimentos populares” (Editora Vozes), para a qual eu já havia estudado a obra de Paulo Freire.