Franciscanos se reúnem para o tradicional ‘Transitus’ no Largo São Francisco
04/10/2019
Érika Augusto
São Paulo (SP) – Há mais de oito séculos, no dia 3 de outubro, franciscanos de todo o mundo celebram o derradeiro encontro de São Francisco com a irmã morte. O fato, ocorrido há 793 anos, continua sendo lembrado ano após ano. Na noite deste mesmo dia, a comunidade do Convento e Santuário São Francisco, em São Paulo (SP), reuniu-se para participar da celebração do Transitus de São Francisco.
Os frades das três Fraternidades locais, religiosas, membros da Ordem Franciscana Secular (OFS), Juventude Franciscana (Jufra), leigos e muitos devotos do Pobrezinho de Assis dirigiram-se ao centro da capital paulista para, juntos, revisitarem o momento da morte de São Francisco.
A pregação do ato litúrgico foi feita pelo mestre em espiritualidade franciscana, Frei Fidêncio Vanboemmel. Atualmente, o frade é moderador da Formação Permanente da Província da Imaculada e vigário paroquial do Santuário São Francisco. Em sua homilia, ele denunciou a globalização da indiferença, que banaliza a vida em todas as suas expressões.
O frade recordou que a morte foi um tema recorrente da vida de Jesus, não somente em seu momento de entrega máxima na cruz, mas nos encontros ao longo de sua vida pública. Para Francisco, a morte era considerada sua irmã. “Ao saudar a morte como irmã, Francisco nos lembra que ela é uma realidade da qual ninguém pode escapar. Em vida, ele entendeu a necessidade da vivência penitencial como condição salvífica”, afirmou Frei Fidêncio.
Assim como a morte, a vida também era irmã para São Francisco. Mais do que isso, a vida é a manifestação do grande amor de Deus, como recordou o pregador. Durante sua existência, Francisco experimentou as dores da guerra e suas consequências. Com isso, o santo aprendeu que na batalha não existem vencedores e vencidos, mas somente perdedores.
A vida é dom maior
Em sua homilia, Frei Fidêncio denunciou os danos causados ao meio ambiente, que degradam as criaturas e exterminam a vida. “As criaturas todas merecem respeito, não podem ser pisoteadas pela arrogância e pela ganância humanas. A vida que envolve a Mãe-Terra está doente”, criticou o frade, recordando o desmatamento, a poluição dos rios e mares, o aumento no uso dos agrotóxicos e a exploração mineral – que vitimou centenas de pessoas no Brasil nos últimos anos.
Ao criticar a globalização da indiferença, Frei Fidêncio recordou a pergunta de Deus a Caim: “Onde está o teu irmão?”. É esta mesma pergunta que os cristãos são chamados a responder também hoje, rompendo com a cultura da indiferença.
O pregador recordou que São Francisco foi um homem enamorado pela vida em todas as suas manifestações, através de sua identificação com a encarnação de Jesus, a Cruz, a Ressurreição e a Eucaristia. “A morte é bem-vinda quando a vida e a morte se unem no mistério pascal”, explicou Frei Fidêncio. Ele indicou caminhos que ajudam nesta vivência: conversão aos verdadeiros valores da vida, ter presente a cultura do encontro e doação da própria vida.
Dois anos antes do final de sua vida, Francisco é martirizado, assinalado pelos estigmas da cruz, onde alcança o cume da perfeição.
Cânticos e dramatização
Segundo Frei Daniel Grigassy (1993), os primeiros registros do Transitus surgem no início do século XVIII ou final do século XVII, na França. Parte da celebração consiste na tradição dos cantos e na dramatização da morte de São Francisco.
No Largo São Francisco, após a pregação, um grupo – composto por leigos e vocacionados – encenou os últimos momentos da vida do santo que, rodeado de seus irmãos, reza, partilha o pão e entrega sua alma para Deus. O coro de vozes masculinas, composto por frades e leigos, entoou os cânticos em latim, entre eles “O sanctissima anima”. As vozes femininas, representando as Clarissas, entraram em cena enquanto o grupo carregava o corpo do santo pelo corredor central.
Ao final da missa, Frei Mário Tagliari, guardião e pároco do Convento e Santuário, agradeceu os presentes e, após a bênção final, convidou-os para uma confraternização.
Nesta sexta-feira, 4 de outubro, dia de São Francisco, haverá missa às 7h30, 9h, 10h30, 12h, 13h30, 15h, 16h30, 18h e 19h. Durante todo o dia, haverá bênção às criaturas e barracas externas com comidas e itens religiosos.
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