O Cuidado do Meio Ambiente e o Diálogo Ecumênico e inter-religioso
27/02/2019
Celebrando os 800 anos do Encontro de São Francisco de Assis como Sultão Malik al-Kamil, o Curso de Justiça, Paz e integridade da Criação (JPIC) promovido pela Cúria Geral da Ordem dos Frades Menores procurou aprofundar a questão do ecumenismo e do diálogo inter-reglioso como forma de unir forças no enfrentamento das ameaças sofridas pela nossa Casa Comum.
Realizado de 18 a 27 de fevereiro, na Pontifícia Universidade Antoniana, de Roma, o Curso contou com a presença de frades de diversos países: Japão, Taiwan, Paquistão, Índia, Vietnã, Marrocos, Espanha, Itália, Áustria, Israel, Eslováquia, Estados Unidos, México, El Salvador, Honduras, Brasil, Equador, Chile e Peru. De nossa Conferência Brasileira, estávamos somente eu, Frei Diego Melo, da Província da Imaculada, e Frei Irwin Couto, animador do JPIC da Província de Santa Cruz. Além dos frades, participaram alguns leigos (as) italianos.
A primeira semana do curso foi dedicada ao aprofundamento teórico e bíblico da experiência criativa presente nos textos dos Gênesis, bem como dos textos franciscanos acerca do cuidado com a criação.
Dentre os inúmeros conferencistas, vale destacar a importante reflexão feita por Frei Silvestro Bejan, OFMConv, Delegado Geral para o Ecumenismo e o Diálogo Inter-religioso e que vive há anos no Sacro Convento de Assis.
Partindo da sua experiência de longos anos em Assis, o frade conventual destacou alguns aspectos que tornam essa pequena cidade da Úmbria um verdadeiro símbolo universal de paz, diálogo, respeito e oração. Para ele, a maneira como São Francisco e Santa Clara viveram são ainda hoje o grande atrativo dessa cidade. “Embora cada pessoa tenha uma experiência espiritual diferente, cada um tenha um modo próprio de relacionar-se com Deus, em Francisco acontece algo de totalmente inusitado. A sua experiência de fé se tornou comunicável, compreensível por qualquer pessoa. Francisco, como místico, identifica-se com toda pessoa que tem essa sede de mística. E aqui está o segredo de Assis atrair tantas pessoas das mais diversas religiões. Através dessa linguagem universal e comum, Francisco consegue comunicar-se com todos, pois quem atinge uma grande experiência com o divino consegue entender a experiência mística de qualquer pessoa e de qualquer religião”, destacou o assessor.
Também foi dado destaque à visita do Papa Francisco ao Oriente, realizada há poucas semanas. Como forma de se construir um verdadeiro caminho de diálogo inter-religioso e ecumênico, foram pontuadas as três etapas apontadas pelo Papa Francisco em Abu-Dabi:
1) Estar seguro da própria identidade: para quem está empenhado no diálogo, não se deve esconder a própria identidade ou diminuir-se.
2) Coragem de alteridade, que se traduz na capacidade de entender que o outro é diferente e que deixa de lado qualquer sentimento de superioridade.
3) Sinceridade de intenção, que não é simplesmente uma estratégia para se alcançar os próprios ideais, mas o desafio de se transformar a competição em colaboração.
Não obstante toda a reflexão acerca do ecumênico e diálogo-interreligioso, o Curso também proporcionou uma série de reflexões de São Boaventura sobre diferentes compreensões do homem como dominador, consumidor ou administrador da criação. Temas como desenvolvimento, crescimento, economia, sociologia, sustentabilidade e ecologia integral também foram abordados a partir da ótica franciscana. Com intuito de facilitar a criação de laços e a aproximação com os parceiros do JPIC, também estiveram presentes os diretores e representantes da MissionsZentrale, da Franciscans International, da Fundraising e da Secretaria Geral para a Formação e os Estudos.
Além disso, outro momento marcante foi a presença do Ministro Geral, Frei Michael Perry. De modo simples e interativo, Frei Michael destacou que o JPIC faz parte do ‘DNA’ da nossa identidade franciscana, lembrando que para Francisco existe uma intersecção entre o ‘espiritual’ e o ‘social’: “Crucifixo e lepra se tornam dois elementos fortes na conversão de Francisco. O seu encontro com Cristo crucificado – plena expressão da ‘caritas’ – é compreendido melhor quando Francisco faz o encontro com os feridos e putrefatos pela lepra. Francisco encontra o pleno significado da ‘caritas’ que pode ser realmente compreendido somente com quem se encontra em uma experiência interpessoal profundamente humana, de solidariedade, amor e justiça”, destacou o Ministro Geral. Após sua explanação, ele mesmo escolheu alguns confrades de diferentes países para partilhar um pouco dos próprios desafios e avanços no serviço do JPIC de suas Províncias.
Por fim, retorno desse curso com a missão de transformar tudo o que foi vivenciado e aprendido em atitudes concretas em nossa realidade. Que possamos, como Fraternidade Provincial, composta pelos confrades, irmãs, leigos e leigas, jovens, formandos e vocacionados, assumir juntos uma sincera e profética conversão ecológica.
Deixo aqui minha gratidão pela fraterna acolhida de toda a Fraternidade do Antoniano, especialmente aos confrades brasileiros de nossa Província, Frei Gilberto Silva, Doutorando em Espiritualidade Franciscana, Frei Estevão Ottenbreit, Guardião, e Frei Plinio Ghandi, que está a serviço da Fraternidade.
Frei Diego Atalino de Melo
Animador do JPIC