Encerramento do Tríduo de Santo Antônio na Igreja Bom Jesus dos Perdões, em Curitiba (PR), neste dia 13 de junho de 2012, solenidade de Santo Antônio. Confira sua homilia na íntegra:

UMA FAMÍLIA DE VERDADE

CONVICÇÕES E  CERTEZAS  EM TORNO DO CASAL E DA FAMÍLIA NA SOCIEDADE E NA IGREJA

Comemoramos hoje a solene festa de Santo Antônio, modelo de vida cristã, padroeiro celeste dos namorados,  martelo dos hereges, mestre no conhecimento das Sagradas Escrituras, incessante pregador do Evangelho, mártir pelo desejo,  frade que honra a Igreja e a Ordem dos Menores. Nesta solenidade, queremos  conversar sobre algumas convicções e certezas a respeito do casamento e da família.

Um texto de Lya Luft: “ Um amigo disse no aniversário de sua mulher uma das coisas mais bonitas que ouvi: Todos os dias de nosso casamento  (de uns quarenta anos)  eu te escolhi de novo como minha mulher. O casal mais feliz haveria de ser aquele que não desistisse de correr atrás do sonho de, apesar dos pesares, a gente a cada dia se olharia como da primeira vez, se enxergaria  – e se escolheria novamente”. Casamento e família são realidades que nunca estão prontas, mas em constante estado de construção.

1. O casamento é uma realidade camaleoa. Vai mudando através dos tempos. Vai se transformando.  Uma coisa é o casamento dos primeiros anos, outra coisa quando os filhos chegam, outra ainda quando estes crescem e começam a ter asas fortes. Depois vem o tempo da aposentadoria e das bodas de ouro.  Ao longo do tempo as coisas vão de transformando:  há acertos, há momentos de perdão, há feridas que precisam ser cicatrizadas.

2. Por isso, casamento e família vivem em estado de construção. Há paredes que ameaçam cair. Há fissuras perigosas. Os casados estão sempre vigilantes: revisões periódicas, confabulação, estar perto um da vida do outro. O casal não pode viver em estado de mediocridade.

3. No casamento e na família as pessoas se fazem presentes umas na vida das outras: encontros em torno da mesa, momentos de passeio, gestos que mostram interesse de uns pelos outros, conviver sem sufocar.

4. Uma família cresce na medida em que são comemorados com alegria, na casa de Deus e na sala de comer, os aniversários natalícios e de casamento, as festas dos avós e as comemorações cristãs.

5. Perigoso quando marido e mulher se ocupam quase que exclusivamente dos filhos.  Quando estes saem de casa, eles não têm mais nada a dizer um ao outro.  Sempre de novo será preciso renovar o bem-querer conjugal. Os casados haverão de nutrir a conjugalidade.

6. O que prejudica gravemente um casal e uma família: vidas paralelas, individualismo, investimento exagerado no profissional, encantamento diante da sociedade de consumo. Em nossos tempos as pessoas parecem extremamente imaturas: imaturas na convivência, imaturas porque não leem, não estudam… vivem da cultura da mídia…são seres ocos e pessoas sem nada.

7. Paternidade e maternidade constituem uma vocação.  Ser pai e ser mãe significa ter a consciência de serem cuidadores de uma vida que lhes foi confiada por Deus. Os filhos não são propriedade dos pais. Eles precisam crescer.  Suas potencialidades precisam vir à tona. Eles deverão enfeitar a terra dos homens. Não  podem pautar sua vida pelos ditames de uma sociedade  aproveitadora e medíocre.

8. Lya Luft: “Nosso legado real para nossos filhos  não é a casa, não é a conta bancária, não é nem mesmo estudo, como diziam os nossos avós. O verdadeiro tesouro do qual eles vão se alimentar (ou terão que se libertar) é o recado que lhes passamos diariamente. Não está em palavras escolhidas para momentos especiais. Não consiste nas noites de natal ou festas de aniversário, não está na hora do sermão ou do elogio”.

9. Falamos de um casal cristão e de uma família cristã:

• Importância de uma profunda vivência do sacramento do matrimônio no dia do casamento.
• Renovação alegre do casamento em certos momentos da vida, de modo particular nos aniversários de casamento.
• O casal é casal sempre.  Parece importante que busquem juntos a Deus: uma oração conjugal, missa dominical dos dois, retiros e aprofundamentos, leituras espirituais.
• Os esposos crescem espiritualmente quando carregam juntos os fardos e pesos da vida: um filho especial, pais idosos, filho que se  embrenha pelo mundo das facilidades. Existe uma vivência toda especial do mistério pascal no casal e na família.
• Em casa realizam-se constantemente encontros com os filhos diante da Palavra e momentos de oração.
• Importante levar os filhos a fazerem uma profunda experiência de Deus,  de fraternidade e de aproximação efetiva da miséria  humana.
• Um casal cristão não deixa de se engajar na vida do mundo e colocar-se à disposição das necessidades pastorais da Igreja.

“O processo matrimonial é lento e ambíguo. Precisa superar o comodismo, aguardar e acelerar a cicatrização das feridas e a dificuldade  em  aprender com a própria experiência. O casamento propicia felicidade quando é conquista progressiva e aquisição sempre em estado de crescimento.  É sólido e forte  na medida em que satisfaz os cônjuges, mesmo exigindo luta e sacrifício”  (Bonifacio Fernández).