Frei José Raimundo será ordenado presbítero
20/08/2018
Frei José Raimundo de Souza será ordenado presbítero por Dom Caetano Ferrari, bispo emérito da Diocese de Bauru, neste sábado, dia 25 de agosto, às 19 horas, na Paróquia Santo Antônio, no Jardim Bela Vista, em Bauru. No dia seguinte, domingo, às 9h30, celebra a sua Primeira Missa na Paróquia Santa Clara de Assis, na Vila Industrial II. Nesta quarta-feira tem início o Tríduo em preparação para a ordenação presbiteral de Frei José .
A sua família hoje reside em Bauru, mas Frei José nasceu em Mariluz (PR), no dia 21 de junho de 1973. É o segundo filho dos quatro de Francisca Maria de Souza e Raimundo Francisco de Souza. Aos cinco anos de idade mudou-se com seus familiares para Bauru (SP), onde conheceu os Frades Franciscanos desta Província. Frei José foi seminarista no Seminário Santo Antônio de Agudos (SP) em 1985. Esteve por um período no Aspirantado em Imbariê, Duque de Caxias (RJ), em 2002. Por fim, ingressou no Aspirantado de Ituporanga (SC) em 2007, e no Postulantado de Guaratinguetá (SP) em 2008. Ingressou no Noviciado de Rodeio (SC) no ano seguinte, onde fez sua primeira profissão aos 3 de janeiro de 2010.
De 2010 a 2012 cursou Filosofia em Curitiba, morando em Rondinha, Campo Largo (PR). Chegou à Fraternidade do Sagrado Coração de Jesus, em Petrópolis (RJ), em 2013 para o tempo da Teologia, onde residiu até 2014. Foi transferido para Imbariê, morando nesta casa nos anos de 2015 e 2016. Ao final de 2016 concluiu o curso de Teologia e foi transferido para Colatina (ES), onde reside atualmente. Frei José fez a Profissão Solene aos 24 de setembro de 2017 e foi ordenado diácono no dia 3 de fevereiro deste ano. Conheça nesta entrevista um pouco mais o futuro presbítero.
CONHEÇA MAIS FREI JOSÉ RAIMUNDO NESTA ENTREVISTA!
Site Franciscanos – Como se deu o seu discernimento vocacional?
Frei José Raimundo – Entendo, a partir da minha história, que discernir a vontade de Deus não é algo simples. Tenho na memória que, quando ainda criança, já falava sobre o desejo de ser padre. Acontece que minha história vocacional é marcada, a partir dos 12 anos de idade, por entradas e saídas do seminário. Apesar disso, poder ser considerado, inconstância ou insegurança proveniente de incertezas e medos, sempre vivi numa inquietação, às vezes mais e em outros períodos menos intensa, sentindo-me atraído para a vida religiosa. Hoje tenho convicção de que o fato de nunca ter desistido definitivamente, de manter esse desejo em mim, tratava-se de um chamado divino. Portanto, o discernimento vocacional foi acontecendo com o passar dos anos, nessas idas e vindas, de modo que as coisas foram, aos poucos, ficando claras.
Franciscanos – Quando resolveu ser frade franciscano?
Frei José Raimundo – Quando entrei pela primeira vez no seminário de Agudos (SP), aos 12 anos, não tinha clareza do ser frade, pois meu desejo era ser padre. Entretanto, o período no seminário e, sobretudo, a convivência com os frades das paróquias Santo Antônio e Santa Clara, em Bauru, possibilitou-me a aproximação da história de Francisco de Assis e do ideal franciscano. Sem desmerecer o valor da presença de outros confrades na minha história vocacional, quero lembrar com gratidão o Frei Ladí, que me encaminhou, pela primeira vez, para o seminário. Lembro, também, o Frei Dito, um amigo que, pacientemente, acompanhou por longos anos meu processo, minhas angústias, muitas vezes dizendo absolutamente nada sobre vocação, mas, ao mesmo tempo, dizendo tudo sobre ser frade franciscano com sua presença simples e fraterna. Desse modo, pude conhecer melhor a radicalidade evangélica de Francisco e a espiritualidade franciscana, o que me encantou. Se no princípio ir para o seminário franciscano foi circunstancial, isto é, por morar e pertencer a uma paróquia franciscana, depois tornou-se uma convicção.
Franciscanos – Depois de tantos anos de estudos, você está prestes a ser ordenado presbítero. Fale-nos como está essa expectativa.
Frei José Raimundo – A sensação que tenho é que vivemos sempre esperando por algo. Vivemos em estado de expectação. Assim foi todo o itinerário formativo, esperando e buscando a próxima etapa, a primeira profissão e a profissão solene. Depois, esperando a finalização dos estudos acadêmicos, e em razão da opção clerical, a espera pela ordenação. Não há como negar que chegar a esse momento iminente da ordenação presbiteral é, como a profissão solene, uma grande realização, a conquista do desejo pessoal que, sendo, quem sabe, resposta a uma eleição divina e do povo de Deus, seja, também, a conquista do desejo de Deus. Entretanto, vale uma consideração no sentido de não tornar esse momento um fim último da realização pessoal, pois se assim o fosse, o depois se tornaria vazio. A vida é marcada por grandes momentos, sendo a profissão solene e a ordenação presbiteral dois desses momentos, os quais me colocam num estado de vida. Em outras palavras, a ordenação é importante, marcante, mas exige que a vida após esse acontecimento seja um prolongamento daquilo que fora celebrado. As ótimas expectativas que tenho para ser ordenado estão acompanhadas das expectativas por exercer o ministério servindo ao povo de Deus, serviço esse caracterizado pelo jeito de ser de Francisco e de Clara de Assis. Serviço alegre, generoso, desprendido e, ao mesmo tempo, exigente, mas que com a graça de Deus será possível, apesar das fragilidades das quais não estou livre.
Franciscanos – O que é o presbítero para você?
Frei José Raimundo – Em poucas palavras poderia dizer que o presbítero, por obra do Espírito que o unge, é um ministro configurado a Cristo. Também aqui me recordo de São Francisco estigmatizado, semelhante a Cristo até no sofrimento, bem como aquilo que se diz a seu respeito de ser um outro Cristo. Francisco, Clara, os frades e todos os cristãos são chamados a configurar-se a Cristo. Entretanto, o presbítero, no exercício de seu ministério, configurado a Cristo, procede como Jesus, agindo com misericórdia, com o olhar compassivo, prolongando no tempo os mesmos gestos e sentimentos do Mestre e Senhor, zeloso no trato com as pessoas. Estou certo de que Deus mesmo confia ao presbítero pessoas e, qual pastor, ele deve interessar-se por elas, guiando-as e ajudando-as a superarem os obstáculos, os dramas que as afligem. No presbítero, através do presbítero, é Jesus mesmo quem age na vida das pessoas, nas famílias, nas comunidades de fé e na sociedade.
Franciscanos – Que desafios você espera como presbítero?
Frei José Raimundo – Certamente surgirão muitos desafios, alguns previsíveis, outros inesperados. Tenho bem presente dois que, talvez, sejam os maiores. O primeiro é manter a lucidez, a fidelidade e a radicalidade evangélicas, imerso neste mundo hodierno tão plural e, muitas vezes, sedutor. É imprescindível a auto-observação, a fim de perceber-me equivocado ou na iminência de equivocar-me. Outro grande desafio é manter o olhar atento na direção do outro que, possivelmente, me será confiado no exercício do ministério ordenado. Tendo em grande consideração a pessoa, com sua humanidade, preocupo-me em ter a dizer a coisa certa para quem vier em busca de ajuda, considerando que, para muitas pessoas, aquele momento pode ser decisivo. É uma responsabilidade muito grande! Há muita gente empobrecida, cuja humanidade precisa ser resgatada. Nesse sentido, mantenho presente os lemas de profissão e ordenação que escolhi. A referência primeira é Jesus, conforme me inspiram as palavras de Francisco escolhidas para a profissão solene: “Guardemos, portanto, as palavras, a vida, a doutrina, e o Santo Evangelho daquele que se dignou rogar a Deus por nós ao Pai” (RnB XXII,41). Tendo Jesus como forma de vida, não se pode agir de modo diferente, a não ser como “Servo de todos” (1Cor 9,19), lema da ordenação diaconal. Por fim, o serviço concreto realizado em favor dos necessitados, daqueles que têm fome, pessoas a quem foi negado ou tirado algo que lhes é imprescindível. Por isso, como presbítero-discípulo de Jesus, permaneço com boa disposição e de ouvidos atentos ao que Ele diz: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9,13).
Franciscanos – Você será presbítero no Pontificado do Papa Francisco. Como vê esse momento e o da Igreja?
Frei José Raimundo – Em muitos ambientes ouve-se falar muito bem da pessoa do Papa. Algumas atitudes dele que vêm a público e o que ele diz e escreve encantam muita gente. Mas o que há de encantador e atraente no Papa? O que há de extraordinário no que ele diz? Em minha modesta opinião, o que atrai e o extraordinário que vem da parte dele são justamente suas atitudes e as palavras evangélicas, originadas em Jesus, o homem do encontro, da acolhida, que percorreu os caminhos se empoeirando, se enlameando, encontrando pessoas e levantando-as de situações desumanas. Jesus é o amoroso misericordioso. Novamente aqui recordo-me de Francisco de Assis quando, na regra, escreve sobre observar o santo Evangelho de nosso Senhor Jesus Cristo. Essa é a forma de vida dos frades, mas não só, é a forma de vida de todo cristão. Tudo o que fizermos nesse sentido está na dinâmica do seguimento fiel de Jesus. Em nosso tempo há desafios, velhos e novos, e é nesse contexto que a Igreja deve atuar evangelicamente, fazendo, de forma misericordiosa, “o óbvio”, no exercício da missão que lhe foi confiada pelo próprio Jesus.
Franciscanos – Deixe uma mensagem vocacional para terminar.
Frei José Raimundo – A todos e de modo especial aos jovens, lembro que aí está nossa vocação. Deus nos convoca ao serviço transformador do mundo, à construção do Reino, e, por consequência, à santidade. Várias são as formas de vida em que é possível responder a esse chamado. Quem sabe você, jovem, encantado pelo Evangelho, não possa responder ao chamado de Deus como frade franciscano. Encantado pelo Evangelho, encante-se pelo genuíno e evangélico carisma franciscano.
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