Susin: Ser irmão é um carisma, não uma identidade
08/09/2017
Vila Velha (ES) – Os irmãos leigos, reunidos desde ontem (7), em Vila Velha (ES), para o II Encontro Nacional de Irmãos Leigos Franciscanos continuaram nesta sexta-feira (8) sua reflexão a respeito dos desafios da vida consagrada. O dia foi marcado pela assessoria de Frei Luiz Carlos Susin, Capuchinho, mestre e doutor em Teologia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma.
Na parte da manhã, o frade fez um resgate histórico da vida religiosa consagrada na tradição cristã, destacando 4 momentos principais: vida monacal, vida fraterna, vida apostólica e comunidades educativas e assistenciais. Ele falou também sobre o fenômeno das novas comunidades, o que classificou como um desafio para os religiosos de comunidades tradicionais. Ele convidou os presentes a terem um olhar mais positivo para estas novas comunidades, que possuem uma forte experiência comunitária, mas são muito instáveis por diversos motivos.
Um dos temas tratados por Frei Carlos Susin foi o clericalismo e o tradicionalismo, elementos que estão voltando à realidade eclesial, sobretudo nos mais jovens. Para o frade, o problema do clericalismo é que ele cria uma hierarquia que não deveria haver dentro da vida religiosa consagrada. “A gente começa a achar que não só somos melhor que os outros, mas também que a gente é o único meio que detém todas as mediações de graça e de salvação para os outros. Sem o clero não há salvação. É uma absorção de todas as mediações de salvação, bênção, ensinamento, saber, nesse grupo, nessa porção eleita”, afirmou, ressaltando que este não é um problema apenas dos padres, mas de todo movimento ou cristão que acredita ser mais santo, mais perfeito que o outro.
Toda crise é oportunidade
Falando sobre as transformações na Igreja, o assessor afirmou que a cultura moderna gera mudanças na forma das pessoas se relacionarem com a comunidade e com o sagrado. Citando o italiano Antonio Gramsci, Susin animou os presentes a fazerem do tempo de crise um momento de oportunidade. “No caos algo se cria”, afirmou o frade.
Frei Susin falou sobre a mudança das relações, destacando o “network”, onde as redes de relação se tornam mais importantes, causando uma mudança no modelo social. Se antes acumular dinheiro era sinal de sucesso, hoje as experiências e conexões são mais significativas para os jovens.
Refontizar, regenerar, relançar e requalificar
Estes foram os 4 verbos que conduziram a fala de Frei Carlos Susin na parte da tarde, que continuou sua fala a respeito da vida consagrada. Para ele, estes 4 verbos necessitam de conjugação contínua.
Ele destacou que a Ordem Franciscana, desde as origens, nasce a partir do desejo de uma vida fraterna. “O fato do grupo se chamar irmãos menores, é colocar o relacionamento no caminho. Não é ser devoto de Maria, não é ser um pregador. O que vai nos ocupar não vai caracterizar a ordem. O importante é ser irmão”, assinalou.
Francisco de Assis é irrepetível
Falando sobre a vida e a experiência de São Francisco, Susin foi enfático ao afirmar: “Francisco é irrepetível”. Ele destacou ainda a liberdade de Francisco diante das coisas e das pessoas, citando a mediação que o santo fez entre o bispo e o prefeito de Assis e entre o lobo e a população de Gubbio. “Ele faz aliança dos dois lados porque ele não tem interesse próprio, ele pode estar inteiramente junto do lobo e inteiramente junto da cidade. É isso que faz ele ser absolutamente fraterno em todas as direções. Por isso a capacidade de conciliação, de fraternização. Isso é fecundidade da fraternidade”, afirmou.
O frade destacou que todas as pessoas possuem dons específicos, mas que quando estes dons são colocados a favor da comunidade, eles passam a ser carismas, que são marcas da gratuidade e da entrega. Para ele, é este carisma que marca a vocação do irmão leigo. “O carisma se espalha na gratuidade, se torna uma fecundidade. O carisma se transforma num ministério”, concluiu.
Na parte da tarde, os religiosos fizeram um plenário com perguntas ao assessor. Após o jantar, houve um painel de experiências missionárias, com partilha das missões em Marrocos, Angola, Mato Grosso e Amazônia. Sobre sua experiência no Marrocos, Frei Augusto Lessa, OFM falou da concretização da fraternidade e da minoridade franciscana através da missão: “Lá vivemos de fato a minoridade. Um lugar onde as pessoas questionam a todo o momento a nossa presença e não há um posicionamento social, ali nos sentimos realmente menores. Por não termos outras oportunidades de convívio, a fraternidade é vivenciada inteiramente”, partilhou.
O encontro acontece até domingo (10). Amanhã os frades se reunirão por obediências e após o almoço visitarão o Convento da Penha e participarão de missa no Santuário Divino Espírito Santo, em Vila Velha (ES).
Confira o vídeo do 2º dia:
Comunicação da Província da Imaculada Conceição