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Frei Lauro restaura órgão de 100 anos com alunos da UFPR

02/06/2017

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Este texto é de Rodrigo Choinski, publicado no site da Universidade Federal do Paraná (http://www.ufpr.b). 

Estudantes do curso de Tecnologia em Luteria da Universidade Federal do Paraná estão participando do processo de restauro de uma preciosidade musical guardada na igreja Bom Jesus dos Perdões, localizada na Praça Rui Barbosa, em Curitiba. É um órgão de tubos que foi montado no início da década de 20 pela firma alemã Laukhuff e hoje ocupa o centro do balcão principal. O restauro está a cargo do frei Lauro Both, organeiro formado na Escola Oscar Walcker Schule, e Ludwigsburg, Alemanha, que concilia o trabalho na igreja com as atividades de professor convidado do curso da UFPR – uma oportunidade aproveitada pela universidade para passar aos alunos a vasta experiência de Both neste tipo de instrumento.

O órgão de tubos em que o frei trabalha  traz o nome do seu construtor, Johannes Speith, que em 1926 veio ao Brasil especialmente para acompanhar o final da montagem desde e de outros instrumentos vendidos para o País. Além dos reparos e da afinação, o processo de restauro devolverá as características originais do instrumento, que foram modificadas devido a reparos e adaptações feitas nos seus 93 anos de história.

O professor reveza suas atividades entre as aulas que acontecem no Setor de Educação Profissional e Tecnológica da UFPR (SEPT) e o trabalho na Igreja Bom Jesus dos Perdões. Both, explica que já foram concluídos o restauro do fole, a lustração com a remoção das várias camadas de verniz que escondiam a ação do cupim, a instalação do novo motor, também importado da Laukhuff, nova pintura das flautas construídas em zinco. Aplicação de cupinicida em todas as madeiras. Também está em andamento a entonação para a afinação geral.

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Até o final do processo serão reinstalados os canos originais de chumbo que levam o ar das válvulas até as flautas do instrumento, que são os conjuntos de tubos que produzem o som por meio da liberação do ar comprimido. O instrumento possui desde tubos de alguns centímetros até o maior de seis metros, cada conjunto produz um certo timbre e são de madeira e metal.

freilauro03Também a bomba manual que alimentava o fole originalmente será recuperada. O fole é uma grande bolsa de ar com pesos que mantém a pressão constante, ao acionar a tecla uma válvula conectada às flautas libera a passagem do ar para produzir o som. Atualmente o teclado funciona com comandos elétricos, substituídos na década de 90 durante a última manutenção do aparelho, mas o instrumento voltará a ter seus sistemas mecânicos.

Segundo Both, “o órgão chegou a Curitiba em maio de 1924, montado pelos freis Tito e Inocêncio, sob a orientação de Carl Essenfelder, filho do Florian Essenfelder, e inaugurado aos 13 de junho de 1924, com Missa Solene do Bispo Diocesano Dom João Francisco Braga”. Tendo sido terminada a montagem em 1926 pelo próprio construtor do órgão, Johannes Speith, que passou um tempo no Brasil, para a montagem de outros instrumentos, inclusive o da Igreja Santo Estanislau, em Curitiba.

O organeiro explica que após a Segunda Guerra Mundial os órgãos voltaram a ser construído com comandos mecânicos, substituindo os sistemas elétricos e pneumáticos. O motivo é buscar a sonoridade original do instrumento, que é prejudicada pela abertura imediata no caso de sistemas elétricos.

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Both conta que na década de 1980 o órgão foi “barroquizado” seguindo a tendência de reproduzir a sonoridade de aparelhos construídos antes do século XIX. Alguns conjuntos de flautas do órgão foram cortados na altura do tom, característica dos instrumentos barrocos. A flauta original, romântica, era mais comprida mantendo uma maior reverberação, enquanto no tom havia apenas uma abertura, chamada de janela. Essas flautas agora serão substituídas para que o instrumento retorne às suas características originais

freilauro06Aprendizado

Os estudantes têm participado do processo, que serve como um laboratório para as aulas. Amilly Bárbara é um exemplo. Ela é especializada em lustração de madeira e foi responsável por renovar a parte externa do instrumento.

O frei mostra o manual de organaria que tem como referência, escrito por um monge beneditino no ano de 1777, mas afirma que nem todo conhecimento necessário está nos livros e que é a experiência na construção, manutenção e reparo que ao longo dos anos forma o organeiro. Ao final do curso cada estudante produzirá um Portativo, que é o menor tipo de órgão existente, e pode ser carregado pelo músico. O instrumento possui todas as partes constitutivas dos órgãos maiores e é operado manualmente pelo músico ao tocar.

Formação

A história de Both como organeiro começa em 1987. Ele explica que não era um instrumentista de nível avançado mas que, ao órgão, acompanhava canções em celebrações religiosas. Algumas vezes surgiam problemas com o instrumento e não era fácil achar alguém que pudesse fazer o conserto. Então sugeriu ao seu superior que o mandasse para a Alemanha, onde estão localizadas as principais firmas de construção e restauração destes objetos.

freilauro07A ideia de uma estadia de um ano se transformou em três anos e meio entre estudo na escola em Ludwigsburg e aprendizado na firma Gebrüder Stockmann Orgelbau, na cidade de Werl, que durante a sua passagem completaria 100 anos. O frei figura na foto comemorativa junto aos trabalhadores e outros aprendizes.

O professor explica que o curso é composto por duas fases, cada semestre inicia com um período intensivo de seis semanas de aulas, onde se aprende a parte técnica e teórica sobre o instrumento, em seguida os estudantes passam a atuar como aprendizes na firma de construção e manutenção de órgãos. Em 1992 o religioso, que também é físico, recebeu oficialmente o título de organeiro após concluir seus estudos.

Sonoridade

Convidado por Both, o professor aposentado da UFPR, Ricardo Herrmann, mostra a robustez do instrumento, em uma rápida apresentação de um trecho de uma composição de Johann Sebastian Bach para nossa a reportagem e para os fiéis presentes na igreja. Herrmann é filho do organista Rodrigo Herrmann, que foi mestre-capela na Catedral de Curitiba, com quem iniciou o aprendizado do instrumento.

Para o dia 10 de junho está programado o primeiro concerto após o restauro feito por Both, ocasião em que o órgão será reinaugurado.

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