Amigos e familiares recordam alegria e disponibilidade
24/08/2016
Érika Augusto
São Paulo (SP) – Quem entrava na igreja São Francisco, construção tricentenária localizada no coração da cidade de São Paulo, na tarde desta terça-feira (23), demorava a entender o que acontecia.
Por volta das 14 horas um grupo de religiosos, religiosas e leigos entoavam belos cantos em japonês. O homenageado era Frei Alécio Broering, de 80 anos, que fez sua Páscoa na madrugada de ontem e estava sendo velado no local. Os cantos expressavam o carinho da comunidade japonesa com o frade, que dedicou tantos anos de sua vida junto aos imigrantes.
Após os cantos aconteceu a missa de exéquias, às 15 horas, e foi presidida por Dom Julio Endi Akamine, bispo auxiliar da Arquidiocese de São Paulo. Frades de São Paulo e de Bragança Paulista estiveram presentes, além de religiosos e religiosas da PANIB – Pastoral Nipo-Brasileira e da comunidade coreana – para a qual ele também prestava assistência. Os familiares, as irmãs e os sobrinhos e sobrinhas vindos de Santa Catarina, também vieram se despedir de Frei Alécio. Eles estiveram presentes em muitas ocasiões, principalmente durante o tempo em que o frade esteve internado no hospital.
Em sua homilia, Dom Julio destacou que o momento era de ação de gratidão pelos bens recebidos de Deus através dos inúmeros dons de Frei Alécio, apesar da tristeza pela despedida. “A morte está inscrita em nossa condição humana, ser homem significa ser mortal”, afirmou o bispo. Apesar da naturalidade, o ser humano ainda experimenta a morte como um drama, segundo Dom Julio, “pois corta as relações definitivamente, tira de nosso convívio as pessoas que amamos, a morte torna definitiva a nossa separação das pessoas”, afirmou.
O bispo ressaltou que a partir da morte e ressurreição de Jesus, recebemos a esperança da vida eterna e que este seria então o dia do natal, dia em que o Frei Alécio nasceria para a vida eterna junto a Deus. Dom Julio convidou então 4 representantes para falarem um pouco de Frei Alécio.
Frei Leonardo Matsuo, OFMConv falou em nome da PANIB. O frade destacou duas características de Frei Alécio: a alegria e a inteligência. Ele recordou que no dia 27 de dezembro de 2015, os dois receberam das mãos de Dom Julio a Comenda Pro Ecclesia et Pontifice, a mais alta condecoração concedida pelo Papa a um religioso, por causa do trabalho dos frades junto aos imigrantes japoneses.
Frei Matsuo, que se revezava com Frei Alécio na presidência e vice-presidência da Pastoral Nipo-brasileira, falou que o frade era uma pessoa que cultivava muitas amizades, e recordou um outro amigo falecido, padre Tanaka, e que certamente os dois se encontrariam na eternidade.
O padre Daniel Koo falou em nome da comunidade coreana da Fraternidade São Boaventura. Ele destacou a presença do frade na comunidade, e do seu esforço em falar coreano. “Ele sempre se mostrou muito amoroso, muito carinhoso com a comunidade”, afirmou. O religioso apontou também a presença franciscana de Frei Alécio nas reuniões, e disse que este seria um legado deixado pelo frade entre a comunidade. “Ele se tornou também coreano entre nós”, concluiu Padre Daniel.
Visivelmente emocionado, Frei Anacleto Gapski falou em nome dos franciscanos, e segundo ele, falou “de cátedra”. Os frades se conheceram em 1964, quando Frei Alécio, recém-chegado do Japão, foi dar aula no Seminário Franciscano em Agudos (SP). A amizade e convivência, de 52 anos, era muito familiar. Frei Anacleto contou que quando os sobrinhos do frade vinham visitar o tio em São Paulo, era ele quem os levava para passear. “Leva minha turma pra lá”, dizia Frei Alécio ao confrade, pois não tinha muita paciência com as crianças.
Um confrade generoso e disponível
“Uma inteligência brilhante, mas um coração maior ainda”, assim o definiu Frei Anacleto. Ele afirmou que Frei Alécio era um bom amigo para aqueles que precisavam, e que não media esforços para atender o próximo. E partilhou com os presentes o início do trabalho do confrade com a comunidade coreana. Ele não sabia falar o idioma e, um dia, ao ver que eles necessitavam de assistência espiritual, foi para a Coréia aprender coreano e contribuir com mais eficácia na comunidade. Ao retornar, toda a fraternidade participava involuntariamente do aprendizado, pois eles assistiam TV coreana duas vezes na semana, brincou o frade.
Salete, a irmã de Frei Alécio, falou em nome da família. Ela agradeceu pelos 80 anos de vida, e afirmou que ele foi um bom irmão e um bom tio para os sobrinhos. Ela agradeceu também ao João, enfermeiro que trabalha no São Francisco, que sempre cuidou do frade nos momentos de necessidade. Ela disse que nas últimas semanas ela ligava para ele muitas vezes, para saber do estado de saúde do Frei. “Muito obrigada por ter sido nosso irmão e ter nascido na nossa família, você nos deu muita alegria”, concluiu a irmã do frade.
Após a missa, o corpo foi levado para o Cemitério Santíssimo Sacramento, onde os frades, amigos e familiares deixaram seu último adeus a Frei Alécio.
A missa de 7º dia acontecerá no Largo São Francisco na próxima segunda-feira (29), ao meio dia.