Íntegra da homilia de Frei Fidêncio no primeiro dia do Tríduo de Santa Clara
TEMA: “CLARA DE NOME, PALAVRA E VIRTUDE”
“Mulher admirável por seu nome, Clara de palavra e virtude, natural de Assis, de família muito preclara, foi concidadã do bem-aventurado Francisco na terra e, depois, foi reinar com ele na glória” (LSC 1).
1ª Dia – 08 de agosto de 2019
Tema: “CLARA, MULHER ADMIRÁVEL POR SEU NOME”
A palavra de Deus que acabamos de ouvir, neste dia da festa de São Domingos (fundador da Ordem dos Pregadores – Dominicanos), convidou-nos a sermos “sal da terra e luz do mundo” (Mt 5,13-15). Sal e luz, dois elementos importantes que indicam o que devemos ser na nossa vida cristã. Ser sal e luz para desempenharmos, como nos recordou São Paulo em 1Tim 4,1-5, o nosso serviço de pregadores do Evangelho, e cumprir com perfeição o nosso ministério como: São Domingos, São Francisco, Santa Clara.
Hoje iniciamos a nossa preparação para a Festa de Santa Clara de Assis. O Tema que escolhemos – CLARA DE NOME, PALAVRA E VIRTUDE – se inspirou na primeira frase da Biografia de Santa Clara, escrita logo depois após a sua canonização (15/08/1255).
Frei Tomás de Celano, o autor desta biografia ou legenda, assim escreveu: “Mulher admirável por seu nome, Clara de palavra e virtude, natural de Assis, de família muito preclara, foi concidadã do bem-aventurado Francisco na terra e, depois, foi reinar com ele na glória” (LSC 1).
Hoje, no primeiro dia do Tríduo, vamos procurar permanecer focados na primeira expressão: “CLARA, MULHER ADMITÁVEL POR SEU NOME”.
A mulher, quando pela primeira vez recebe a notícia da sua gravidez, enche seu coração de alegria, não diferente da alegria cantada pela Virgem Maria, no seu encontro com Isabel: “Minha alma engrandece o Senhor e exulta meu espírito em Deus meu Salvador”. Contudo, ao lado da alegria que ela vive, também ocorrem inquietações e até medos. Quantas perguntas silenciosas não se passam no coração de uma mãe? Como vai ser? Como será? A criança vai nascer com saúde? Questionamentos naturais.
Com a mãe de Santa Clara, D. Hortolana, não foi diferente no contexto da época, na Idade Média, sem os recursos da moderna medicina. Quantas e quantas mães morriam com os filhos no parto. Clara foi a primeira filha e depois vieram outras duas filhas: Inês e Beatriz. O biógrafo de Santa Clara afirma: “A mãe, grávida, próxima de dar à luz, estava orando ao Crucificado diante da cruz, na igreja, para passar saudavelmente pelos perigos do parto, quando ouviu uma voz que dizia: ‘Não temas, mulher, porque, salva, vais dar ao mundo uma luz que vai deixar a própria luz mais clara’. Instruída pelo oráculo, quis que a filhinha, ao renascer pelo sagrado batismo, se chamasse Clara, esperando que se cumprisse de algum modo, pelo beneplácito da vontade divina, a claridade da luz prometida”.
Clara é seu nome!
E assim que Clara, desde o seu nascimento e confirmado no Sacramento do Batismo, passa a ser identificada como Clara. Ela recebe um nome sagrado. Nome que ela procurou honrar e qualificar ao longo de toda a sua vida. Por isso, a Bula que a canonizou vai dizer esta expressão tão bonita: “Esta Clara é clarificada no alto pela luz divina” (BC 5). E ainda diz: “O mundo recebeu de Clara um claro espelho de exemplo: por entre os prazeres celestiais, ela ofereceu o lírio suave da virgindade. E na terra, sentem-se os remédios manifestos do seu auxílio” (BC 7).
Sacralidade do nome
Nós sabemos o quanto é sagrado o nome que recebemos. Não gostamos muito quando usam nosso nome para nos difamar ou usam para outros pejorativos. Nós sofremos porque sabemos da sacralidade que está por trás do nosso nome próprio. O nosso nome não é um rótulo de garrafa de cerveja. O nosso nome não é um título qualquer. O nosso nome é tudo aquilo que nós somos, tudo o que queremos ser. Aquilo que somos na nossa verdade. O nome nos torna conhecidos. Ele representa tudo que somos e fazemos. E quando pronunciamos o nome de uma pessoa, pensamos a totalidade daquela pessoa: a sua origem, a sua história, o seu temperamento, o seu caráter, os seus valores/virtudes, as suas fragilidades/limitações, a sua reputação, etc. O nome sempre é sagrado, como é o sagrado o nome de Clara. Aliás, tão sagrado que aprendemos, no segundo mandamento, a “não chamar o nome de Deus em vão”, porque Javé é sagrado, Deus é sagrado. E esta sacralidade existe no nome próprio de cada um, como essa sacralidade se faz presente e se fez presente na vida de Santa Clara.
Clara, mulher admirável por seu nome!
A Bula de canonização de Santa Clara de Assis, emitida pelo Papa Alexandre IV (em 1255), após a conclusão do Processo de Canonização de Santa Clara, afirma categoricamente: “Ó Clara, dotada de tantos modos pelos títulos da claridade! Fostes clara antes da tua conversão, mais clara na tua conversão, preclara por teu comportamento no claustro, e brilhaste claríssima depois do curso da presente existência” (v. 3).
São os 4 pontos fundamentos que analisaram a vida de Santa Clara no processo de canonização:
- Mulher admirável por seu nome na casa paterna
A primeira coisa que nos vêm à mente é a família. Antes de ser monja, ela foi formada no meio de uma família nobre. Por isso Clara, desde o começo, procurou honrar o seu nome. É muito bonito quando lemos no processo de canonização de Santa Clara as diferentes testemunhas falando como era Clara na sua vida familiar. Como ela viveu sua vida familiar. Não vou usar todo o processo, mas escolhi alguns exemplos do processo:
Irmã Beatriz (12ª testemunha) – Foi virgem e permaneceu virgem, vendeu sua herança e parte da herança dela.
Hugolino (16ª testemunha) cavaleiro – Na casa do pai era honestíssima no comportamento, graciosa e bondosa para com todos.
Bona de Guelfúcio (17ª testemunha) – Conheceu Clara na casa da família. Mandava para os pobres os alimentos que dizia ter comido (ela mesma muitas vezes levou).
Rainério (18ª testemunha) – Disse que conheceu a referida Clara quando era criança na casa do pai. Virgem e começou muito cedo a cuidar das obras de santidade, como se tivesse sido santificada no seio de sua mãe. Sendo ela bonita de rosto, tratava-se de dar-lhe marido. Então, não era a mulher que escolhia seu parceiro, mas a família que escolhia o parceiro conforme os interesses.
Pedra Damião (19ª testemunha) – Era vizinho e conheceu o pai e as virtudes de Clara e ele também testemunha que Clara vendeu toda a sua herança e deu aos pobres.
João de Ventura (20ª testemunha) – Disse que era empregado familiar da casa: “A menina era tão honesta nos costumes”. Da fartura de uma casa grande, mandava alimento para os pobres. Usava uma estramenha branca (veste comum para fazer penitência) sob os outros vestidos. Clara fez honrar esse nome a partir do lugar onde esse nome foi cultivada esse nome.
- Mulher admirável por seu nome na ousadia da conversão
Por ela ser clara na família, ela também foi clara na conversão. Mesmo fugindo de noite, foi clara na sua decisão, ao fazer o tríplice despojamento: a) matrimônio; b) segurança da casa e dos muros; c) nobreza para abraçar a pobreza. Professa, perseguida pelo tio (São Paulo da Bastia), outro mosteiro mais pobre no monte Subásio (Santo Ângelo em Panzo) e, finalmente, junto à Igrejinha de São Damião.
- Mulher admirável por seu nome, pois fez do seu nome, Clara, uma Palavra.
Palavra dada e honrada no propósito de vida que abraçou, no seguimento do Filho de Deus se fez para nós caminho. Clara de Palavra (tema do 2º dia).
- Mulher admirável por seu nome, Clara de Virtude – Porque continuou a brilhar depois da morte. As Virtudes de Clara foram para além do mosteiro, e não terminam na morte. A vida virtuosa a tornaram santa. Por isso, Clara de Virtude (tema do 3º dia).
Que Santa Clara possa nos ajudar a dar sempre claridade, clareza, santidade ao nosso nome, que é santo, Amém!
Para concluir a nossa meditação de hoje, mais uma frase extraída da Bula de Canonização de Santa Clara:
“Ó admirável clareza da vem aventurada Clara…. Brilhou no século e resplandeceu na religião. Em casa foi luminosa como um raio, no claustro teve o clarão de um relâmpago. Brilhou na vida, irradia depois da morte. Foi clara na terra e reluz no céu” (BC 8-10).
FREI FIDÊNCIO VANBOEMMEL