Impregnação de valores evangélico-franciscanos
Formação Franciscana
A formação do caráter, a exploração de todas as riquezas que o Senhor colocou dentro de nós é tarefa que nunca acaba. Precisa ser retomada ao longo das estações da vida. Há a formação do discípulo missionário, do cristão, do franciscano. Ensinar, formar, no dizer de Montaigne, não é encher vasos, mas acender chamas.
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
A educação/formação permanente leva a pessoa a se confrontar com sua verdade pessoal, detectar entraves e curar feridas do passado. Mostra caminhos que o levam a plena realização como pessoa, dona de sua história, buscadora do Transcendente, discípula do Ressuscitado e seguidora do jeito franciscano de tudo viver. Comporta ensino, partilha e oração.
Lembramos, à guisa de ilustração, orientações para a formação do discípulo missionário, segundo o Documento de Aparecida ( cf. nn. 276-278): encontro pessoal com Jesus; quem ouve o Senhor entra num processo de conversão; uma catequese permanente faz com que o discípulo persevere na vida cristã; ingresso numa universo de comunhão fraterna; necessidade de experimentar a urgência do ir pelo mundo, da missão.
Trata-se de buscar a sua identidade pessoal e franciscana. Trata-se “personalização”. Trata-se de forjar convicções a partir do interior de cada um. Na formação não se poderá fazer economia de processos de interiorização que permitam as pessoas de entrarem em sua pessoa e extraírem dali a fonte de seu ser. Esse processo formativo exige habilidade no manejo de algumas ferramentas básicas imprescindíveis: conhecimento e domínio no administrar os próprios sentimentos, certo grau de contemplação, capacidade de conviver consigo mesmo, cultivo da dimensão do silêncio. A fundação da pessoa é feita de pequenos e maiores compromissos. O primeiro e fundamental dos compromissos é ser cristão.
Cristãos e franciscanos, em sua formação inicial e permanente, são convidados a fazer três sérias e grandes experiências: descobrir o rosto de Deus e fazer disso realmente uma experiência inolvidável; viver, de fato, experiências de fraternidade; aprender a lavar as chagas dos leprosos.
A formação franciscana vai na linha da impregnação dos valores que marcaram Francisco e seus primeiros discípulos:
– Fascinação diante do Altíssimo e Bom Senhor;
– Reescrever em sua vida o evangelho do Cristo pobre e peregrino;
– Postura geral de simplicidade em tudo e por tudo, recusa de todo tipo de sofisticação;
– Propósito de levar uma vida marcada pelo despojamento e simplicidade;
– Aguçada sensibilidade para com o fraterno: amar o irmão com amor maternal;
– Trabalhar e agir com galhardia, mas sem perder o espírito da santa oração;
– Não querer sobrepor-se aos outros;
– Ir decididamente pelo mundo, ao mesmo tempo com saudade do eremo;
– Exercitar-se na práxis na desapropriação;Saber extasiar-se diante de coisas simples: o desabrochar de uma flor, o sorriso de uma criança e um pedaço de pão;
– Saber levar as coisas ao fundo do coração, como fazia Maria, a Mãe do Senhor;
– Sentir-se convocado a restaurar a Igreja.
Viver o Evangelho em comunhão fraterna: “A vocação franciscana é um chamamento para se viver o Evangelho na Fraternidade e no mundo (…). A fraternidade evangélica encontra seu fundamento em Cristo, primogênito de muitos irmãos, que faz de todos os homens uma verdadeira Fraternidade. A vida fraterna se edifica na medida em que faz kénosis, da Encarnação e da Páscoa, seguindo as pegadas do Cristo Servo. Na verdade, “o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate de muitos” (Mt 20,28). A partir do momento em que Cristo deu a vida pelos outros, o serviço passou a ser marcado pela renúncia, humildade, sacrifício. O serviço se situa na perspectiva da solidariedade, na dor, não na ótica da recompensa e do reconhecimento”
“Manual para Assistência à Ordem Franciscana Secular (OFS) e Juventude Franciscana, OFS Secular do Brasil”, Rio de Janeiro, p. 89-90.