Conhecendo Clara de Assis
Podemos dizer que sem Clara a experiência de Francisco é incompleta; ela é um testemunho excepcional da herança do ideal evangélico que nasce em Assis e incendeia o mundo há 800 anos. Ela é a versão feminina do ideal franciscano.
Clara e Francisco são arquétipos humanos e protótipos da encarnação do evangelho; uma rigorosa mudança pessoal, uma cordial vivência fraterna, uma conversão de ternura e cuidado, um verdadeiro encontro entre espírito e afeto.
Em Clara, Francisco encontra o seu coração de mãe; em Francisco, Clara encontra o seu coração de irmã.
O conhecimento do espírito e dos projetos do Movimento de Assis permaneceria incompleto sem Clara, ela que seguiu de perto a nova vida e as práticas do início da nossa forma de viver. “Clara assimilou profundamente o espírito de Francisco, conservando em si o estado mais puro deste espírito. O seu testemunho é digno da mais alta consideração” (K. Esser).
Até os inícios do século XX pode-se dizer que a vida de Clara era conhecida somente através de biografias cheias de devoção, baseadas sobre a sua Legenda, ora atribuída a São Boaventura ora a Tomás de Celano. Mas vamos elencar alguns momentos que alavancaram o conhecimento da nossa Mãe fundadora.
• No ano de 1912 comemorou-se os 700 anos da Vocação de Clara e a Fundação das Clarissas. Aí surgiram os estudos sobre as pesquisas de Lemp (1892) e de Lemmens (1902). Com Oliger (1912) e Lazzeri (1912-1920) crescem as novas investigações sobre Clara. Foi muito importante neste período a descoberta e a publicação do “Processo de Canonização”, mérito de Lazzeri. Nos dez anos seguintes vieram os estudos críticos junto com as Fontes Clarianas, como os de Martin de Barcelona (1921) e de Fassbinder (1936).
• No ano de 1953 temos os 700 anos da morte de Clara; aí foram abundantes as publicações de todos os gêneros. Destacaram-se Hardick, Grou, Franceschini e Arnaldo Fortini. As publicações vieram com a grande ajuda do Protomonastero de Assis e com a publicação de “Santa Chiara: Studi e Cronaca”. A partir de então pudemos conhecer as “Cartas para Inês de Praga” que ajudaram muito no perfil da espiritualidade e personalidade da fundadora.
• A partir de 1965 o Concílio Vaticano II determina o retorno às origens e com isso influencia o desejo de aprofundar os escritos pessoais de Clara para colher aí seus ideais em toda a sua autenticidade, como base de renovação do rosto feminino do franciscanismo e a descoberta de uma verdadeira, original e própria espiritualidade.
• No ano de 1994 celebramos o 8º Centenário do nascimento de nossa mãe, irmã e mestra. Novas publicações marcaram a família franciscana e clareana. Aqui no Brasil destacamos a publicação das “Fontes Clarianas”, com tradução e comentários de Frei José Carlos Pedroso e “Clara de Assis, A primeira mulher franciscana”, de Anton Rotzetter, Vozes-FFB. Frei Clarêncio Neotti coordenou a comissão central do 8º Centenário que nos legou os excelentes fascículos: “Recomeçar com Clara e Francisco”, “Caminhar com Clara e Francisco”, “Para celebrar Santa Clara”, “Para Rezar com Clara e Francisco”.
• E finalmente estamos celebrando os 750 anos da morte de Santa Clara. Ano Clariano! Não podemos deixar de ler a excelente Carta do Ministro Geral Frei Giacomo Bini, OFM, “Clara de Assis: um hino de louvor” , na qual ele lembra que “também uma carta pode tornar-se lugar de comunhão, de diálogo fraterno, para descobrir aquele algo novo a respeito do Senhor que Clara pedia a Junípero e que nossos tempos e nossas gerações ainda esperam de nós com urgência”.
Graças a estes momentos celebrativos, muitos valores da grande fundadora chegam até nós. A presença e a mensagem de Clara são parte integrante e imprescindível da espiritu-alidade franciscana. Não se pode falar de Francisco sem Clara de Assis.