Carisma - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Clara cavalheiresca

Frei Vitório Mazzuco Filho

Certamente, essas duas palavras do título sintetizam bem a mãe do movimento de Assis. Quando falamos em Clara, relacionamos a palavra com frágil, alva, feminina; quando falamos em cavalheiro, logo pensamos no homem, projetado, viril, poderoso.

Santa Clara integrou as qualidades masculinas sem perder de vista o seu feminino resplandecente. Ela representa a força da quietude da mulher que, de dentro do seu lar, gera o cavaleiro, antes de tudo, aquele ser que vai à luta, à caça, para prover e conquistar.

É do interior que ela prepara a saída de todos aqueles que deixam a sua casa para enfrentar o mundo. A mulher é responsável pela bem-aventurança daqueles que nos rodeiam. Por isso existe o dito popular: atrás de um grande homem, há sempre um feminino de ternura e vigor.

Assim é que no eremitério de Clara não há reclusão do mundo, porque ela sabia trazer o mundo inteiro para dentro de seu eremitério, explorando cada detalhe da natureza, seus ciclos e viços, motivando as virtudes daqueles que participavam de seu cotidiano.

Antes de qualquer coisa, ela era inteira, inteligente; porém, sua inteligência passava pelo coração. Vivia e experimentava a dimensão da mente e do coração, era uma mulher transparente, porque as pessoas equilibradas são muito claras e são claras porque vão na essência de tudo, e não se apegam no pequeno eu do outro, nem no seu próprio.

Por isso tudo, podemos nomear a mulher como embaixatriz de sua família, ainda que permaneça no interior de sua casa. Muito além das fronteiras dela, nós podemos observar, pelos frutos, a qualidade de mulher que se encontra lá dentro.

Clara confia, e confiar é “fiar-com”. Ela está presente em tudo o que faz, e somente estando presente é possível fiar com alguém, só presente você constrói e transforma. Alguém é capaz de respirar no passado? Respirar no futuro? – O sopro é o instante. E o instante é sempre inteiro. Porém ficar inteira, desperta, é um longo aprendizado.

Quase nunca estamos presentes nas coisas que vamos fazendo em nosso cotidiano, nem mesmo quando comemos. Estamos mastigando ainda um alimento e já vamos preparando no prato a próxima garfada. É preciso abrir a escuta para o presente, a atenção, o estar ereto. Pode ser complexo, mas não é nada difícil.

Era justamente com sua presença que Clara animava com gentileza – isto é muito feminino. Animava o Cristo Bonito (masculino e feminino do Cristo) e sua grande contribuição foi trazer ao Deus masculino da época, suas qualidades femininas.

E é bom lembrar aqui que nós nascemos com o feminino e o masculino em nossa natureza humana, mas eles só podem ser potencializados no encontro, nas pessoas que passam pela nossa vida. É assim que o masculino nos faz mais femininos, integrando o Espelho e o Vigor: “Feliz é você que olha dentro desse espelho todos os dias, rainha, livre na sua vida, e espelha nele, sem cessar, o seu rosto, para enfeitar-se toda, interior e exteriormente, vestida e cingida de variedade, ou seja, ornada de flores e perfume, mas resplandecente em suas roupas de virtudes, esposa caríssima do Sumo Rei. Pois nesse espelho é preciso olhar-se inteira. Preste atenção, considere a humildade e a inefável caridade, O próprio espelho adverte, só nele, inteira, você vai poder contemplar com a graça de Deus!”

Assim Clara vê no espelho o Cristo Total (pai e mãe) e se vê nesse mesmo espelho. Precisamos, também nós, olharmos no nosso espelho interior, assumir o que somos, não podemos fugir do nosso Eu Sou, porque infalivelmente, vamos sempre terminar em frente ao espelho.

Clara sabia quem ela era, qual era o seu desejo, e ela só pôde ser livre porque sabia quem era. Ela tinha o espelho interiorizado nela, não era peça de adorno do seu toucador. Porém, para descobrir-se é preciso questionar-se, pois mesmo Deus não é uma resposta pronta para a nossa pergunta. Deus é uma pergunta constante para as nossas respostas. Por isso Ele é infinito.

Quando oramos demais, talvez não deixemos espaço para essas perguntas, espaço para o vazio que é fecundo, para o vazio onde Deus faz-se obra em nós. E isso Clara entendeu bem. Ela abriu espaço para Deus em sua vida, tirou as quinquilharias, envolveu-se com a história de seu povo e envolver-se é estar dentro das situações, dos sentimentos que envolvem essas situações, é fiar com as pessoas que experimentam conosco essas situações. É não estarmos alienados, confinados em nossas crenças, transbordados de palavras repetitivas que nem entendemos direito!

Por isso é preciso dar um passo a mais… buscar nossos piores defeitos e usar essa força para que nos conduza aos nossos mais nobres dons, sem preconceitos como “o homem não chora”. Por que não chora? Se a lágrima lava, limpa, alivia, porque é transparente, é clara, espelho da nossa emoção. Se a lágrima está ali, por que represá-la? Reprimi-la? É preciso fazer do preconceito uma pergunta: Por que homem não chora? Se aquele que chora é maior que o homem!

Para finalizar, vamos falar da anima e do ânimus de Jung. O lado psicológico, na maioria das vezes, é entendido como o lado da análise, mas a análise pode ser um método de redução, que tenta explicar o todo por uma parte. A análise trata muito do negativo, da sombra em nós, mas nem sempre nos orienta claramente a transformar nossa sombra em luz.

Por outro lado, a religião fala muito do divino, olha muito para o divino, lá no alto de sua luz, mas nem sempre nos orienta a assumir nossa sombra para poder integrá-la e superá-la de vez. No entanto, desde Clara e Francisco, seres ecológicos, femininos e masculinos, nós sentimos que há uma criança sendo parida – é a convocação para a plenitude – a criança plena, embora ainda criança, mas plena.

Clara e Francisco nos chamam a que sejamos terapeutas, porque essa é a tarefa de cada um de nós, facilitar o parto dessa criança plena. Inspirados pelo ideal de que 1+1 nunca seja 2, porém 3. Eu – Você e o Amor. Francisco – Clara e Você… no Espelho! Paz e Bem!

P.S.l – Houve uma dinâmica em que as pessoas se olharam em um espelho que levava Francisco de um lado e Clara de outro, deixando o meio livre para que o espelho refletisse a imagem de quem se olhava.

P.S.2 – Síntese de uma reflexão elaborada por leigos no 27° Encontro de Espiritualidade Franciscana, realizado de 19 a 22 de junho de 2003, no Seminário de Agudos, com grupo que há 13 anos caminha com Frei Vitorio Mazzuco, buscando iluminação das práticas através da mística de Clara e Francisco. Esta síntese foi elaborada por Maria Letícia Martins.

Download Premium WordPress Themes Free
Download Best WordPress Themes Free Download
Free Download WordPress Themes
Download Nulled WordPress Themes
free online course
download mobile firmware
Premium WordPress Themes Download
download udemy paid course for free

Conteúdo Relacionado