Carta aos frades assistentes da Ordem Franciscana Secular
(Assistentes da Província da Imaculada)
Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Estimados confrades,
Paz e todos os Bens!
Dirijo estas linhas a todos os confrades da Província da Imaculada que estão encarregados da assistência local e regional da Ordem Franciscana Secular. É uma palavra de estímulo e de agradecimento e, ao mesmo tempo, expressão de um desejo de que vocês se façam o mais densamente presentes na vida dos franciscanos seculares. A dedicação de muitos de vocês ajuda muitos a serem seguidores diretos de Cristo Jesus à maneira de Francisco.
Não quero aqui evocar todas as dificuldades vividas por muitas de nossas fraternidades seculares. Sei também que em muitas delas há pessoas admiráveis que são muito gratas pelo carinho e a atenção de todos os vocês.
1. Muitos frades foram nomeados assistentes locais e regionais e desempenham sua missão com galhardia. Alguns se sentem vocacionados para esse ministério. Outros foram nomeados assistentes, mas no fundo não experimentam um fogo interior. Sei que muitos dos conselhos, mesmo querendo uma maior presença de vocês em suas vidas, compreendem o assoberbamento e, quem sabe, aguardam que o coração de vocês os busquem com alegria e ardor.
2. Somos membros da família franciscana. Somos todos originários de Francisco, de sua saga, de sua história, de sua força, de sua garra, do carisma que Deus lhe deu. Os frades da Ordem Primeira sentimos que a mesma seiva que circula em nós está presente na irmã corajosa que é santa em sua família. Em São João de Meriti, no irmão que trabalha numa loja de material de construção, em Piracicaba ou na irmã que é professora em Bragança Paulista. Aquele entusiasmo que nos passa o Ministro Geral em seus escritos tão contundentes passamos para essa gente toda que acompanhamos com nossos trabalhos e nossas orações. Somos uma só família. Eles nos enriquecem e nós os enriquecemos. E juntos, nesses tempos de jubileu das clarissas, somos enriquecidos por elas. Repito: uma só família.
3. Não há dúvida: os frades nomeados para este serviço são pastores. Da mesma forma que animamos grupos de catequese, celebramos o matrimônio, alguns de nós fomos, pela obediência, nomeados servidores de vidas franciscanas. Sei, meus irmãos, sei muito bem que muitas fraternidades estão envelhecidas. Sei que nem sempre dirigimo-nos às reuniões com o entusiasmo que gostaríamos de ter. Ali, no entanto, por obediência, exercermos o nosso ministério: anunciamos a Palavra, quando possível celebramos a eucaristia, a reconciliação e a unção dos enfermos. Somos a presença do Bom Pastor e, de alguma forma, do próprio Francisco.
4. Acompanhamos vidas que buscam a santidade. A Regra dos franciscanos seculares, cheia de vigor e de atualidade, nos fala da autonomia dos leigos, mas ao mesmo tempo nos pede que os incentivemos a buscar a santidade, a perfeição da caridade no estado secular. Nosso coração bate com o coração desses homens e dessas mulheres que se casam bem, ou se casam mal, que têm filhos dóceis ou crianças rebeldes, irmãos casados com um cônjuge intransigente, pessoas que foram chamadas pelo Senhor a seguir o evangelho à maneira de Francisco. Precisamos ter uma visão de fé em nosso ministério. Do contrário não nos entusiasmaremos em nosso serviço. Por vezes sentimos também meio desmotivados em nosso trabalho em cursos de noivos que vão se casar e desaparecerão, em jovens que serão crismados com “pompa e circunstância” e depois nos deixarão. Nada é pequeno para com quem ama. Nada vale a pena quando nosso coração não bate mais com o coração de Deus. Insisto, queremos acompanhar histórias que estão buscando a santidade. Esses irmãos fazem mesmo uma profissão de seguir o evangelho no meio do mundo à maneira de Francisco.
5. Falamos muito em privilegiar o laicato em nossos dias. E nós, franciscanos, em nossa família temos um exército de leigos. O tema do laicato é complexo. Vemos em nossas paróquias se multiplicarem atividades realizadas por eles e elas. Desde sempre o ministério da catequese é exercido por mulheres. Muitos leigos, maduramente, assumem seu laicato. Sabemos perfeitamente que não se trata apenas de pedir aos leigos que assistam aos matrimônios ou outros sacramentos. Queremos e desejamos que os leigos estejam em tarefas leigas. Ora, nem sempre conseguimos formar uma laicato maduro em nossas paróquias. A Ordem Franciscana Secular é constituída de leigos. Visitando o país tenho tido a alegria de ver homens e mulheres das ciências, casais líderes, pessoas simples do interior do Paraná ou de São Paulo, outros mesmos que trabalham em instituições financeiras. Ora, a Ordem Franciscana Secular pode fornecer a esses leigos, aos cuidados de vocês, frades, elementos para que venham a se tornar pessoas transformadoras da realidade. Sem a preocupação de fazer deles apenas colaboradores das obras de nossas paroquias, na OFS, teremos o cuidado de ajudá-los a crescer humana, cristã, franciscana e missionariamente. A OFS é uma escola de santidade e plataforma da ação cristã dos leigos na sociedade e no mundo. Fico muito feliz em ver frades estudantes de Petrópolis se interessando por este ministério. Eles poderão, aos poucos, renovar o grupo dos assistentes de nossa Província com competência e garra.
6. Parece importante a presença dos frades assistentes nas reuniões do Conselho da Fraternidade. Vocês sabem que muitas coisas funcionam bem e outros funcionam menos bem em nossas fraternidades concretas da OFS. A Ordem secular, dos leigos, é regida por um ministro local, seu conselho e o assistentes. O Conselho forma um todo. A presença do assistente na reunião do Conselho é fundamental. Os conselheiros precisam crescer humana e espiritualmente. Quanta ajuda podem prestar os assistentes com sua experiência, sua espiritualidade, sem senso de discernimento! Na reunião do Conselho é preparada a reunião, são examinados os problemas da fraternidade, são tomadas decisões a respeitos dos irmãos e das irmãs que vão professar. O Assistente não pode alhear-se a tudo isso.
7. Sem ser o dono da reunião geral, o Assistentes se faz presente, se possível, o tempo todo, com os olhos atentos a cada parte da reunião, a cada irmão que fala, a cada momento da reunião que é sacramento da fraternidade. Assistentes que apenas “passam” para cumprimentar os irmãos não criam laços e, aos poucos, vão se sentir sobrando. Não poderão gozar da estima profunda dos irmãos e não serão os pastores que deveriam ser.
8. Sabemos que precisamos renovar. Renovar ou morrer… A OFS precisa transformar-se. Nós, frades menores, de nossa parte, também precisamos ser fiéis ao passado mas com uma fidelidade criativa. Conhecemos o pensamento do Ministro Geral que está sempre nos convidando-nos, em nossa vida consagrada e franciscana, à renovação: “Agarrar-nos ao passado, chorá-los nostalgicamente, levar-nos-ia a uma inevitável decadência. Não se trata de sermos aventureiros, mas também não nostálgicos. Não há alternativa para a vida consagrada e franciscana senão a de abrir-nos ao Espírito. Só a força do Espírito evitará que existam vidas pela metade, sufocadas pela rotina e pela inércia, sujeitas ao funcionamento das estruturas. Só assim poderemos abrir-nos com confiança ao futuro” (Com lucidez e audácia… n. 118). Participando alegre e intensamente da vida dos franciscanos seculares, os assistentes podem ajudá-los inventar o novo na vida de suas fraternidades, na ação corajosa no meio do mundo (ver, julgar e agir), na qualidade de jardineiros da criação e como menores e simples nesse mundo de ostentação, de consumismo, de poder e de ganância.
9. Espero que todos vocês ajudem os franciscanos seculares a celebrarem as grandes festas franciscanas e que os ajudem a compreender o que significa viver hoje o carisma de Francisco e de Clara. Muitos desses seculares estão desejosos de aprenderem a rezar mais densamente e esperam muito de nós, que somos amigos da contemplação e missionários na ação.
Que esta carta mereça toda a atenção de seu coração de frade menor,
(*) Frei Almir Ribeiro Guimarães, OFM
Assistente Nacional da OFS pela OFM e Assistente Regional do Sudeste III