Carisma Franciscano – XII
Cultivar espírito de não-apropriação
“A vida de comunhão fraterna exige que os irmãos observem unanimemente a Regra e as Constituições; tenham um modo de viver semelhante; participem dos atos da vida da Fraternidade, sobretudo a oração em comum, da evangelização e dos trabalhos domésticos; e ponham à disposição da Fraternidade todos os emolumentos que a qualquer título tenham recebido” (CCGG 42,2).
Somos irmãos e irmãos menores lá onde estivermos: ouvindo confissões numa capela do interior, na qualidade de ministro dos irmãos em casa, na administração do Santuário da Penha, no atendimento do Convento do Largo de São Francisco em São Paulo, nos livros que escrevemos, nos sucessos obtidos e nos fracassos acontecidos. Estimamo-nos como irmãos, diletos irmãos, queridos irmãos, diletíssimos irmãos, prezados irmãos. Menores: irmãos sem qualquer indício de superioridade em relação aos outros. Os “maiores” revelam superioridade, juízos demasiadamente fáceis dos outros, palavras altaneiras. Vivemos uns em dependência dos outros e isto alegremente. Viver como menores é viver sem apropriação de coisas e de pessoas. Aceitar tudo com espírito de gratidão.
O nome de Frades Menores que usamos exige fraternidade é claro, mas também serviço e serviço humilde. Colocaremos de lado toda vontade de poder e de domínio. “Em relação a todos, submissos a qualquer criatura, por causa de Deus, devemos apresentar-nos, em comunidade e individualmente, como pequeninos, como servos que ninguém teme, porque servos esforçam-se por servir e não por dominar, ou por se impor, sobretudo para fins espirituais. Uma semelhante atitude exige o espírito de infância, a pequenez, a simplicidade, um otimismo decidido perante os homens e os acontecimentos. Há que aceitar a insegurança no plano das instituições e as ideias, a incerteza em relação ao futuro. Há que reconhecer que somos fracos e vulneráveis, servos inúteis e que ninguém é forte senão Deus. Contribuiremos assim, pelo nosso lado para fazer resplandecer o rosto da comunidade cristã, que é também o rosto do Senhor, o qual veio “para servir e não para ser servido” (Doc. OFM: A Caminho rumo ao Capítulo Geral Extraordinário, 2004, p.21).
Ser menores com relação aos nossos co-irmãos: Não há dúvida de que isso pode significar coisas diferentes e em Fraternidades distintas: mas certamente significa comportamento que tenha indícios de “superioridade” em relação aos outros. São várias as atitudes que revelam um sentido de superioridade: os juízos demasiadamente fáceis sobre os outros, talvez acompanhados de gestos sarcásticos; as expectativas ou os pedidos explícitos dirigidos aos frades, pretendendo que a ajuda que os outros nos dão ou o serviço que nos prestam seja um “direito”, em vez de aceitar tudo com espírito de gratidão e de reconhecimento.
cf. Todos vós sois irmãos – Doc. OFM, 2004, p. 123-124
No final desta meditação podemos pedir que venha em nosso auxílio reflexões de Giacomo Bini, nosso ex-ministro geral:
♦ A minoridade é um dos critério na escolha de um serviço ou de um trabalho?
♦ A vida fraterna em minoridade caracteriza realmente nossa identidade, nossas relações com as pessoas que contactamos? Existe um estilo franciscano bem conhecido e bem caracterizado que muitos irmãos nos transmitiram e do qual o mundo está sedento.
♦ O modo de evangelizar remete imediatamente para nosso estilo vida em fraternidade e minoridade? Muitas vezes não somos críveis, apesar da generosidade de nosso esforço; nossa palavra ressoa no vazio porque não corresponde à nossa atitude interior, ao nosso comportamento, às nossas estruturas que, ao contrário, exprimem poder, grandiosidade, eficiência.
Relatio Ministri Generalis, Capítulo de 2003, p. 83
Frei Almir Guimarães