Alverne, cume de um itinerário da cruz de São Damião aos estigmas
Se em São Damião Francisco se encontra com o Cristo que na cruz lhe pede “Vai e restaura a minha Igreja que, como, vês está em ruínas”, no Monte Alverne, que é cume de seu itinerário, Francisco, o servo sofredor, faz a experiência da “noite escura”. Na gruta que tem a maior das fendas por ele encontrada e que lhe recorda a hora da paixão e morte do seu Senhor na cruz, quando a terra tremeu e se abriu de dor, ele penetra no mais íntimo de si mesmo e perpassa por todas as vias que o seu Senhor lhe deu a caminhar. Francisco contempla e é visitado pelo seu Senhor. Sente a sua doçura inefável e, como Clara, com amor e sabedoria, “… reza vigilante e incansavelmente, para recolher o veio do sussurro furtivo de Deus…”. Na dor de sua humanidade teme não ter respondido ao amor do seu Senhor e chora pelo amor que não é amado. Ele, que foi um homem paciente e caridoso, pleno de amor feito misericórdia pelos seus, teme não ser compreendido pelo seu Senhor. Vive momentos de trevas e é tentado. Reza para que Deus, o Altíssimo e Glorioso, ilumine as trevas do seu coração. E, por entranhar-se no mais profundo de si mesmo, vê na sua humanidade uma resposta ao Deus Criador. Descobre que o Amor de Deus por ação de seu Santo Espírito o quis e o iluminou no caminho a seguir. E, assim, gratificado pela gratuidade d’Aquele que o escolheu, pede duas graças: “Sentir a mesma dor daquele que tanto ama, na hora em que está na cruz e não ter menor amor do que ele teve, por aqueles que seu Pai e nosso Pai lhe confiou quando nos enviou”. O amor nos torna igual à pessoa amada, e com Francisco não foi diferente. Graça pedida, graça alcançada. Com os estigmas, o seu Senhor o abençoou e o iluminou, e ele se torna único naquele que já era único nele.
Frei Marco Antonio dos Santos, ofm