♥ Solenidade do Coração do Redentor, do amor de Deus manifestado através de uma fenda feita por um soldado no lado do Senhor Jesus! Tudo já estava consumado. E do Coração, desse Rochedo de carne e de amor, brotaram águas de vida para saciar a sede do mundo e purificar as suas vidas. Os discípulos do Senhor as recolheram e as transforam em água batismal e vinho rubro no cálice da salvação. Não cessamos de reconhecer que a paixão e morte do Senhor seguidas de sua ressurreição constituem o cerne de nossa fé. Somos profundamente gratos pelas atenções do Senhor jubilosamente participamos de seu mistério pascal. Seu e nosso. Não cessamos de nos purificar e nos alimentar, de modo, particular na Eucaristia de todos os dias.
♥ As leituras desta solenidade nos incitam ao amor. Temos medo de discorrer sobre o tema. Não convém ficar repetindo palavras sobre a caridade, o amor. Importa reaprender a amar e nada mais. O evangelho hoje proclamado tem algumas orientações que podem levar ao âmago do Coração do Redentor.
♥ Jesus se volta para o Pai e exprime uma grande alegria. Louva o Pai porque escondeu estas coisas, ou seja, os mistérios de seu amor e as ternuras de seu coração, aos satisfeitos e acabados e as revelou aos pequenos, aos que vivem histórias menos grandiosas, aos que não andam pegando “carona” até mesmo nas coisas da fé para mostrar-se e exibir-se. O Senhor se revela mulher que vem à missa das 7h todos dias e devora Palavra e Pão. Aos que abandonaram o culto de si mesmos e passaram a usar o avental do serviço. Aos que perderam e conservaram um restinho de esperança. “Sempre é assim: o olhar dos simples é em geral mais limpo. Não há em seu coração tanto interesse torto. Eles vão diretamente ao essencial. Sabem o que é sofrer, sentir-se mal e viver sem segurança. São os primeiros que entendem o Evangelho” (Pagola).
♥ Ninguém conhece o Pai senão o Filho. De tanto convivermos com o Filho fomos nos tornando seus “familiares”. Encontramo-lo nos rostos desfigurados, nas pessoas mais ou menos abandonadas, no semblante desfigurado de doentes e moradores em cantos de miséria. Deixamos que sua Palavra penetrasse lá onde começa nossa história, lá onde começamos a ser o que somos. Vamos conhecendo o Senhor e ele nos leva ao Pai. Esse convívio insistente nos leva ao Pai. Fomos sendo possuídos pelo Senhor.
♥ Jesus pede que aqueles que estão cansados a ele se acheguem. Ele promete ajudar a carregar nossos fardos, já que ele é manso e humilde de coração. “O coração de Jesus é o coração de Deus no mundo. Único lugar em que o mundo descobre a verdadeira natureza de seu Deus, mistério destinado a nos cumular de felicidade, o único lugar onde Deus torna-se o coração de nosso coração de tal forma que nosso ser, podendo tudo abraçar e tudo unir ao mesmo tempo nosso centro de gravidade e de equilíbrio”(Karl Rahner).
♥ “Coração indica o lugar onde o mistério do homem transcende no mistério de Deus; aí, o vazio sem fim que ele experimenta dentro de si clama e invoca a infinita plenitude de Deus. Evoca o coração traspassado, o coração angustiado morto. Dizer coração é dizer amor, o amor inatingível e desinteressado, o amor que vence pela inutilidade, que triunfa pela fraqueza, que morto dá a vida. O amor que é Deus. Com esta palavra se afirma que Deus está onde alguém suplica: “Meu Deus, meu Deus por que me abandonaste?” Com a palavra coração se denomina algo que é totalmente corpóreo, e no entanto, está todo em tudo, a ponto de se poderem contar as pulsações e aí podemos nos deter com lágrimas de felicidade, porque não é necessário ir mais adiante desse o momento em que se encontrou Deus” (cf. Missal Dominical da Paulus, p, 502).
♥ Uma oração: “Faz-nos trilhar, Senhor, a estrada da mansidão. Ajuda-nos a contrariar a ferocidade do tempo, fora e dentro de nós. Que a tua paz seja a fonte secreta que tudo sustenta. Tudo provenha dessa paz sem vencidos e vencedores. Desta paz que acalma as ameaças e os cercos implacáveis. Dessa paz pronunciada ao mesmo tempo com firmeza e doçura. Dá-nos a mansidão nas palavras que tão facilmente se tornam impermeáveis e nos propósitos que a competição empurra para uma agressividade sempre mais dura. Que cheguemos à mansidão das paisagens reconciliadas como pequenos cursos de água, fazendo florir a terra” (José Tolentino Mendonça, Um Deus que dança, Paulinas, p. 115).