Parece engraçado, mas é verdade: Papai Noel deu um “chega” em Jesus, colocou-o de “escanteio” e domina o Natal de ponta a ponta. Diríamos que é um “sequestro” light, aparentemente, inofensivo. Ele não é brasileiro e quem o idealizou foram os países do hemisfério norte. Por isso, usa roupa de frio e vem montado num trenó, deslizando sobre a neve (… e nós, aqui, num calor danado!).
É um velhinho de barbas brancas, distribuindo simpatia e sorrisos, oferecendo-se para tirar foto com crianças; em troca, as presenteia, quase sempre com balas ou outro doce. A cor de sua roupa é vermelha e branca, as mesmas do marketing da Coca-Cola.
Por dentro, porém, traz um voraz e insaciável apetite de vender tudo o que o capitalismo produz, com o slogan “realize seus sonhos e seja feliz!”.
O governo colabora com o décimo terceiro salário e, os políticos, mais o décimo quarto e quinto. O “deus-mercado” comemora, juntamente, com seus correligionários shoppings, bancos e catões de crédito; muita comilança e troca compulsiva de presentes.
Vale a pena enfrentar este dragão?! Que perspectivas a Igreja nos apresenta?!
Na maioria das vezes, também nós nos rendemos ante o espetáculo capitalista, enfeitando os locais da celebração com presépios luxuosos e românticos e, nos contentamos em proclamar “glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade” (Lc 2,14).
A Igreja poderá e deverá semear o fermento de um “Jesus Humano”. Deus encurtou a distância entre Ele e nós: se “fez carne e armou sua tenda entre nós” (Jo 1,14). Ele é dos nossos. Ele é Javé, isto é, “presença libertadora no meio do povo” (cf. Ex 3,13-15).
Sem deixar de ser Deus, Ele é um ser humano que precisou do corpo de uma mulher para nascer e de seus seios para se alimentar; que chorou e precisou de colo; que teve família e precisou de um casal pobre para mostrar que Ele é dos pobres.
Pode acontecer que deturpamos o Natal de Jesus, não só com o consumismo, mas também quando nos apegamos mais aos anjos, às estrelas, às auréolas em sua cabeça e que, já, na primeira noite, sorria e era feliz, escondendo, assim, o que há de mais precioso no Natal: a Encarnação (= nossa carne com todas as suas consequências)!
Jesus está sequestrado e não é a polícia que o procurará. Somos nós, os da sua família, os cristãos. O Papa Francisco nos propõe sairmos de nós mesmos e irmos ao encontro dos “socialmente excluídos, dos religiosamente afastados e dos moralmente discriminados”.
Sejamos uma sementinha do Natal de Jesus!
Frei Luiz Iakovacz