Sempre de novo Cristo, Cristo Jesus, o Verbo feito carne, a imagem de Deus, aquele que entrega sua vida para a vida do mundo, a encarnação da bondade, que tem o peito tocado pela lança do soldado que abre uma fresta no seu íntimo mais íntimo. Aquele que queremos seguir.
Deus… muitas vezes o imaginamos em termos de grandeza. Ele é infinito, onipotente, omnisciente, aquele que controla os passos e volteios do homem. Quando lemos o episódio de Elias na gruta do Horeb vemos o contrário. O Senhor não está no vento impetuoso, no terremoto, mas na brisa suave. Certamente, ele é o inefável, o infalível, o portentoso, o criador, mas aparece diante de nós, em Cristo Jesus, sem grandiloquências e para Francisco de Assis um Deus que fez belamente pobre. Vamos ver como David de Azevedo (São Francisco, Fé e Vida, Ed. Franciscana de Braga, p. 74-65) encara o tema:
“Há uma alteza mais sublime na nobreza da alma, do que na imponência de um imperador rodeado de fausto e de cortesãos. A glória da verdade está em sua nudez indefesa. Quando a pretexto de defender a verdade, se faz recurso à propaganda, à pressão e à força – venha de onde vier – do medo, do prestigio, do dinheiro -, a verdade perdeu a sua glória. A glória que era dela, só dela”.
Estamos acostumados sempre a atribuir a Deus predicados no superlativo e em outras áreas. “Para nós teria mais valor que São Francisco curasse o leproso da doença do que chegasse como chegou, ao gesto de o beijar. Seria mais impressionante que Maximiliano Kolbe libertasse todos os prisioneiros de Auschwitz, que desse, como deu a sua vida em troca de um deles. Somos mais sensíveis ao milagre ou a outra manifestação do poder de Deus do que à gloria do seu amor”.
E agora os argumentos definitivos em prol da “fragilidade” de Deus. “O poder de Deus é muito mais assombroso no presépio de Belém do que na criação do universo. A glória do Senhor é muito maior no acontecimento do Calvário do que na imensidade e harmonia das galáxias. A Eucaristia é um prodígio infinitamente maior do que a ressureição de Lázaro. E nestes mistérios, concretiza-se o amor e a ternura de Deus”.
Podemos encontrar Deus pelo caminho da razão, mas há um outro “caminho mais prometedor: a candura da criança, a ternura do coração materno, a bondade humilde da enfermeira, o sorriso de um canceroso desenganado pelos médicos e, sobretudo, a dignidade, a bondade, o amor e a inocência de Jesus.”
Frei Almir Guimarães