Frei Almir Ribeiro Guimarães
Gostamos de fazer uma pausa nas coisas que se repetem, muitas vezes com cinzenta monotonia, e contemplar, nas primeiras sextas-feiras de cada mês, o Coração imenso do Redentor, o Coração de Jesus, com renovado vigor. Damo-nos conta de que então o amor parece arder mais intensamente dentro de nós. Quantos e tantos amaram o Senhor Jesus de todo o coração!
Santo Anselmo assim escreveu:
“Ó bom Senhor Jesus Cristo, quando eu estava na escuridão, sem nada pedir ou esperar, tu me iluminaste como um sol, e me mostraste como eu era. Retiraste o chumbo que puxava para baixo e o fardo que por cima me esmagava. Afastaste os que me atacavam e, por minha causa, te opuseste a eles. Tu me chamaste por um nome novo, formado de teu próprio nome, e a mim que prostrado estava, ergueste-me perante tua face, tem confiança, dizendo: “Tem confiança, eu te resgatei (Is 43,1); eu te dei minha vida por ti. Se te unires a mim, escaparás ao mal no abismo onde te precipitavas Eu te levarei para o meu Reino e farei de ti herdeiro de Deus e meu co-herdeiro” (Lecionário Monástico III, p. 711).
♦ Pode acontecer que as pessoas, mesmo as que nasceram numa família cristã, que tenham sido batizadas na infância, pratiquem um religião mais ou menos rotineira, de fórmulas e leis e não de amor pelo Amado. Pessoas em si boas. Até certo ponto boas. Pessoas que poderiam ter um viço mais forte pelo fato de se dizerem cristãs. Outras nunca tiveram gosto por Cristo Jesus. Este não lhes foi apresentado. Ou foi mal apresentado. Foram vivendo sua vida aos trancos e barrancos. E mergulharam no não sentido de viver.
♦ Pode ocorrer uma inesperada mudança no coração das pessoas. Através de uma leitura, do encontro com pessoas que trazem no semblante os traços de Cristo, devido a um denso sofrimento, à morte de um ente querido, à chegada de um filho, tais pessoas começam a sentir, dentro de si, uma força nova. Nesses momentos Cristo vivo pode irromper nessas vidas. Anselmo diz que estava na escuridão e Cristo apareceu como uma luz. A claridade de Deus mostra o que pessoa é. Seus projetos de vida pequenos. Sua indiferença para aquilo que enobrece e engrandece o ser humano. Essa força de Cristo é convite a que se tenha confiança… uma porta se abre… uma vida nova pode borbulhar.
♦ Estes momentos se constituem como um novo nascimento, uma ressurreição. E aquele que é tocado pelo Senhor se torna seu amigo, mensageiro de seu amor. A pessoa se sente soerguida. Nada mais lhe resta senão entregar-se ao Senhor. Sente desejo de amorosamente se unir a ele e agir à sua maneira.
♦ Ora, quando contemplamos a cruz do Senhor e o peito aberto do Amado tudo pode recomeçar: deixar de lado os caminhos da mediocridade, deixar de girar em torno do seu pequeno universo, desejo de dizer ao mundo inteiro que o amor precisa ser amado.
♦ “Peço-te, meu Deus, faze com que eu te conheça e te ame, para encontrar em ti minha alegria. E se não o posso plenamente nesta vida, que ao menos me vá aproximando, dia após dia, dessa plenitude. Cresça agora em mim o conhecimento de ti, para que chegue um dia ao conhecimento perfeito; cresça agora em mim o amor por ti a fim de que chegue um dia à plenitude do amor; seja agora minha alegria grande em esperança, para que um dia seja plena mediante a posse da realidade” (Sto. Anselmo, Lecionário Monástico III, p.707).