Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

O Pacto das Catacumbas vivido pelo Papa Francisco

15/07/2014

 

                                                                                                                                  Imagem ilustrativa (Reprodução)

Leonardo Boff (*)

No dia 16 de novembro de 1965 ao findar o Concílo Vaticano II (1962-1965), algus bispos, animados por Dom Hélder Câmara, celebraram uma missa nas Catacumbas de Santa Domitila, fora de Roma e fizeram um Pacto das Catacumbas da Igreja serva e pobre. Propunham ideais de pobreza e simplicidade,deixando seus palácios e vivendo em simples casas ou apartamentos. Agora, com o Papa Francisco, este pacto ganha plena atualidade. Vale a pena rememorar os compromissos assumidos pelos bispos.

“Nós, Bispos, reunidos no Concílio Vaticano II, esclarecidos sobre as deficiências de nossa vida de pobreza segundo o Evangelho; incentivados unspelos outros, numa iniciativa em que cada um de nós quereria evitar a excepcionalidade e a presunção; unidos a todos os nossos Irmãos no Episcopado; contando sobretudo com a graça e a força de Nosso Senhor Jesus Cristo, com a oração dos fiéis e dos sacerdotes de nossas respectivas dioceses; colocando-nos, pelo pensamento e pela oração, diante da Trindade, diante daIgreja de Cristo e diante dos sacerdotes e dos fiéis de nossas dioceses, nahumildade e na consciência de nossa fraqueza, mas também com toda a determinação e toda a força de que Deus nos quer dar a graça, comprometemo-nos ao que se segue:

         1) Procuraremos viver segundo o modo ordinário da nossa população, no que concerne à habitação, àalimentação, aos meios de locomoção e a tudo que daí se segue.

         2) Para sempre renunciamos à aparência e à realidade de riqueza, especialmente no traje (tecidos ricos, cores berrantes, nas insígnias de matéria preciosa). Devem esses signos serem, com efeito, evangélicos: nem ouro nem prata.

          3) Não possuíremos nem imóveis, nem móveis, nem conta em banco, etc., em nosso próprio nome; e, se for preciso possuir, poremos tudo no nome da diocese, ou das obras sociais ou caritativas.

         4) Cada vez que for possível, confiaremos a gestão financeira e material em nossa diocese a umacomissão de leigos competentes e cônscios do seu papel apostólico, na perspectiva de sermos menos administradores do que pastores e apóstolos.

         5) Recusamos ser chamados, oralmente ou por escrito, com nomes e títulos que signifiquem a grandeza e o poder (Eminência, Excelência, Monsenhor…). Preferimos ser chamados com o nome evangélico de Padre.

         6) No nosso comportamento, nas nossas relações sociais, evitaremos aquilo que pode parecer conferir privilégios, prioridades ou mesmo uma preferência qualquer aos ricos e aos poderosos (ex.: banquetes oferecidos ou aceitos, classes nos serviços religiosos).

         7) Do mesmo modo, evitaremos incentivar ou lisonjear a vaidade de quem quer que seja, com vistas a recompensar ou a solicitar dádivas, ou por qualquer outra razão. Convidaremos aos nossos fiéis a considerarem as suas dádivas como uma participação normal no culto, no apostolado e na ação social.

         8) Daremos tudo o que for necessário de nosso tempo, reflexão, coração, meios, etc. ao serviço apostólico e pastoral das pessoas e dos grupos laboriosos e economicamente fracos e subdesenvolvidos, sem que isso prejudique as outras pessoas e grupos da diocese. Ampararemos os leigos, religiosos, diáconos ou sacerdotes que o Senhor chama a evangelizarem os pobres e os operários compartilhando a vida operária e o trabalho.

         9) Cônscios das exigências da justiça e da caridade, e das suas relações mútuas, procuraremos transformar as obras de “beneficência” em obras sociais baseadas na caridade e na justiça, que levam em conta todos e todas as exigências, como um humilde serviço dos organismos públicos competentes.

         10) Poremos tudo em obra para que os responsáveis pelo nosso governo e pelos nossos serviços públicos decidam e ponham em prática as leis, as estruturas e as instituições sociais necessárias à justiça, à igualdade e ao desenvolvimento harmônico e total do homem todo em todos os homens, e, por aí, ao advento de uma outra ordem social, nova, digna dos filhos do homem e dos filhos de Deus.

         11) Achando a colegialidade dos bispos sua realização a mais evangélica na assunção do encargo comum das massas humanas em estado de miséria física, cultural e moral – dois terços da humanidade – comprometemo-nos:

– a participarmos, conforme nossos meios, dos investimentos urgentes dos episcopados das nações pobres;

–         requerermos juntos ao plano dos organismos internacionais, mas testemunhando o Evangelho, como o fez o Papa Paulo VI na ONU, a adoção de estruturas econômicas e culturais que não mais fabriquem nações proletárias num mundo cada vez mais rico, mas sim permitam às massas pobressaírem de sua miséria.

         12) Comprometermo-nos a partilhar, na caridade pastoral, nossa vida com nossos irmãos em Cristo, sacerdotes, religiosos e leigos, para que nosso ministério constitua um verdadeiro serviço; assim:

-esforçar-nos-emos para “revisar nossa vida” com eles;

-suscitaremos colaboradores para serem mais animadores segundo o espírito, do que chefes segundo o mundo;

-procuraremos ser o mais humanamente presentes e acolhedores;

-mostrar-nos-emos abertos a todos, seja qual for a sua religião.

         13) Tornados às nossas dioceses respectivas, daremos a conhecer aos nossos diocesanos a nossa resolução, rogando-lhes ajudar-nos por sua compreensão, seu concurso e suas preces. Ajude-nos Deus a sermos fiéis”.

Não são esses os ideais apresentandos pelo Papa Francisco?

         (*) Leonardo Boff, teólogo,escritor, é um dos principais autores da Editora Vozes.

 

 

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