Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

O Evangelho da Liberdade

12/06/2021

                                                                                           Pintura de David Teniers, domínio público (Wikimedia)

Pe. Ademir Guedes Azevedo, cp

A vida cristã necessita de um novo pentecostes. Deve passar por um processo de conversão para reconciliar-se com o essencial de sua fé. Para isso, terá que confrontar-se com uma tradição fortíssima que se consolidou ao longo dos séculos. Desde que fez pacto com Constantino, mesmo pensando que estava crescendo e ficando frondosa porque ocupou os mais diversos territórios e fronteiras, não desconfiava que caminhava para o seu declínio e falta de credibilidade. Aos poucos foi esquecendo-se do que possuía de mais genuíno: o Evangelho da Liberdade. Só esse será a bússola para descobrirmos o movimento do Espírito e mergulharmos na Tradição de Jesus.

A nova era do Espírito emergirá de modo fantástico quando os escravos se derem conta que são chamados à liberdade. E nós somos estes escravos. Pensávamos que seriamos livres com a política, mas essa se corrompeu e não levou a cabo os nossos sonhos. Acreditávamos que a tecnologia nos daria asas de águia, mas essa roubou nosso livre-arbítrio com os seus ritos que seguimos piedosamente, dia após dia, e não sabemos mais como sair desse labirinto.

O mais assustador é que nos tornamos escravos de nós mesmos: das contínuas exigências que nos impomos com a ideia de que devemos produzir. Não conseguimos mais parar e estamos cansados de nós mesmos. Ao final do dia o homem pós-moderno atormenta-se com os seus próprios pensamentos de desempenho e, quando dar-se conta que seu vizinho logrou êxito primeiro do que ele, então entra em depressão e pânico, sentindo-se um fracassado.

Aquelas velhas respostas religiosas da grande tradição parecem não serem mais o suficiente para darem conta do problema da vida do homem de hoje. São eruditas, metafisicamente e logicamente bem articuladas, mas quem as entenderá? O novo movimento do Espírito parece partir de uma forma mais simples de razão. Sem metarrelatos e sem deduções invasivas que atropelam as formas de vidas locais, o novo sopro do Espírito ressoa por outros recantos e só aqueles que almejam ser livres podem de fato detectá-lo.

Na encantadora obra Vocação para a liberdade, Comblin defende que o Evangelho da Liberdade, ou seja, toda a vida de Jesus, é a única luz que poderá iluminar-nos nesta jornada. Temos que entender como Jesus o viveu e, para ilustrar isso, Comblin parte de uma premissa fundamental: “os atos de Jesus não eram políticos, mas sim messiânicos.” Aquele jovem galileu não pensou sua vida a partir da política de seu tempo, pois sabia que essa sempre triunfava quando vencia um outro poder. Não valeu-se do poder. Sua vida se desenvolveu a partir de um universo messiânico e não político. Ele não queria um exército, nem pretendia massacrar ninguém para cumprir a sua missão.

O que significa então dizer que os atos de Jesus não eram políticos, mas sim messiânicos? Ele conhecia bem a história de Israel, a lei e os profetas. Deu-se conta que nenhum personagem anterior a Ele, conseguiu alcançar a mais perfeita de todas as maravilhas: a liberdade. Justo aqui, Jesus não almejou outra coisa senão ser livre. E ele empenhou toda a sua vida nisso, por isso nem mesmo os preceitos da lei conseguiam barrar essa sua paixão. Ele foi tão intenso que em seus três anos de ministério entregou-se a vida e a vida o levou à morte tão depressa que nem sequer teve tempo para pensar. Sua liberdade estava no serviço ao próximo. Ele abriu seu coração ao grito dos escravos: doentes, endemoninhados, rejeitados, leprosos (não somos nós também feitos escravos hoje?). Sendo livre em ajudá-los e amá-los, pois não conseguia pensar em outra coisa, entrou em conflito com as autoridades. Onde a lei colocava um limite, ele era ousado em transgredi-la em nome da vida. Sua liberdade foi até onde o amor podia ir. Sua liberdade não vencia um poder e inaugurava um outro, pelo contrário, subvertia o poder e instalava a compaixão. Jesus não anunciava uma doutrina metafísica forte em seus lábios, como fazem as grandes tradições religiosas. Ele era dócil e acolhedor. Sua razão cordial não feria ninguém, mas oferecia aconchego e esperança a todas as pessoas cuja condição dava testemunho do estado de escravo.

Jesus, liberdade e libertação, lançou um apelo para que cada um se converta e mergulhe no Evangelho da Liberdade. Ele chamou os discípulos a serem livres e tal liberdade só se alcança se, diante do sofrimento dos escravos, nós nos sentimos atraídos para ajudá-los e amá-los. Jesus quis exatamente isso: cada um deve ser autônomo na compaixão que não deixa ninguém passar despercebido. O sacerdote e o levita da parábola não eram livres, deixaram-se conduzir pelas leis da religião. Mas o samaritano, esse sim entendeu o Evangelho da Liberdade, pois era atraído pelo sofrimento dos escravos.

O Evangelho da Liberdade, sinal da nova era do Espírito (novo pentecostes), abre as novas veredas por onde a vida cristã deverá percorrer, se ainda almeja ser uma mensagem relevante para o mundo de hoje.


Pe. Ademir Guedes Azevedocp, é missionário passionista e mestre em Teologia Fundamental na Pontifícia Universidade Gregoriana. Atualmente reside em Camaragibe – PE, no Seminário para a etapa do Postulantado dos Passionistas.

Download Premium WordPress Themes Free
Download WordPress Themes
Download Premium WordPress Themes Free
Download Best WordPress Themes Free Download
udemy paid course free download
download lenevo firmware
Download WordPress Themes Free
udemy free download

Conteúdo Relacionado