As reflexões das primeiras sextas-feiras de cada mês sempre nos reconduzem ao mistério de Cristo Jesus. Como é bom pensar nele, partilhar a vida com ele, deixar que sua Palavra nos ensope e que seu Pão nos nutra, olhar o mundo a partir de seu jeito de olhar e, sobretudo, nunca perder o senso de assombro diante de seu Coração aberto. O nosso coração se encanta com seu Coração.
O coração humano é, ao mesmo tempo, centro pessoal e espaço de Presença, lugar de mistério e de comunicação. Entrar em nosso coração, uma interioridade habitada, significa fazer espaço para um Alguém, esse Outro. Entrar no coração é penetrar no santuário do relacionamento e da intimidade amorosa com a Alteridade mais radical, com sua vida que se derrama em nossas entranhas e em todo o nosso ser.
“Eis que estou à porta e bato, se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta entrarei em sua casa e cearei com ele e ele comigo” (Ap 3,20). Esse encontro, esse olhar, essa palavra silenciosa dita ao coração, transforma-nos radicalmente. A interioridade se torna um acontecimento da graça. Um autor afirma: quem está nessa dimensão do interior pode perfurar a realidade, as coisas, as pessoas, os relacionamentos tal como Deus os vê. Os que sabem viver escondidamente sob o olhar do Pai a todos têm como irmãos.
Esse penetrar no mais profundo não acontece com o mera ação de nossas potencialidades. Nem se trata de querer alcançar um especialmente elevado nível de consciência. Depende de abrir caminho. Não pensar-se a si mesmo como merecedor de favores. Sem atos de humildade mentirosos; é questão de ser ter consciência diante de Deus de nossa situação de mendicância. Mendigos, no entanto, com seu mistério pessoal visitado pela graça. Mendigos amados pelo Senhor.
Convém lembrar que esse movimento de interioridade é inseparável da saída, saída pelos caminhos, tendo nos olhos o brilho das visitas do Amado. Sair, sair em missão e para a missão. Isto se torna urgente quando o apelo vem do Coração e atinge nosso coração. Um autor diz que Jesus vive por dentro e por fora. Não somos seres fechados numa interioridade narcisista. Os homens que deixam seu interior ser visitado pelo amor são os melhores missionários.
Frei Almir Guimarães