A primeira grande pesquisa sobre os católicos europeus e a ecologia acaba de ser publicada, lançada pela “Aliança Europeia Laudatto si'” é realizada por seis universidades europeias. Contém uma série de resultados sobre o empenho dos cristãos católicos na “conversão ecológica” encorajada pelo Papa Francisco na sua encíclica Laudatto si’, publicada em maio de 2015.
O que exatamente informa essa investigação? Primeiro, que 95% das organizações europeias que responderam fizeram mudanças após a publicação da encíclica e que, em mais de um terço (36%) essas mudanças foram substanciais. Quase metade de tais organizações planejam permanecer firmemente empenhadas com o processo de “ecologia integral” no futuro. Nunca antes um texto papal teve tanto impacto em apenas nove anos!
Além disso, o “espírito da Laudato si’” determina nas diversas comunidades católicas – associações, dioceses, paróquias e outras – uma abordagem mobilizadora e participativa que alguns não hesitam em definir “sinodal” (lembramos que há dois anos está em curso um processo mundial – um sínodo – sobre o funcionamento da Igreja, que culminará no próximo mês de novembro).
Uma Igreja “aberta”
Finalmente, o próprio “espírito da Laudato si’” está construindo no campo uma Igreja “aberta”, como demonstra o diálogo multidirecional com as outras religiões e com os diversos atores da sociedade civil.
A investigação também destaca a falta de recursos financeiros e de pessoal dedicado às iniciativas ambientais.
Transformadora, responsabilizadora, colaborativa, dialógica. A Laudato si’ com sua difusão tem gerado esses frutos em quase dez anos. Na época da sua publicação, Edgar Morin não hesitou em reconhecer na “mensagem” da encíclica papal o provável “Primeiro Ato de um chamado a uma nova civilização”. O impacto crescente de sua difusão parece dar crédito ao seu discernimento.
De fato, como mostra a pesquisa, esse “apelo” a uma profunda transformação pessoal e coletiva, a uma “corajosa revolução cultural” (Laudato si’ 114) como pedra angular de uma “conversão que nos une a todos” (Laudato si’ 14), é amplamente sentida e traduzida concretamente no campo. Isso contrasta com a visibilidade mediática de alguns discursos antiambientalistas, com a ascensão dos negacionistas climáticos de todos os tipos e com outros fenômenos de “backlash” ou “greenblaming” ecológico.
Um eco além da esfera cristã
O Papa Francisco não prega no deserto. Seu desejo de promover uma Igreja “não autorreferencial” e animado pela “liberdade de sair de si mesma para chegar às periferias” está encontrando um amplo eco na Igreja católica e fora da esfera cristã. “O desafio urgente de salvaguardar a nossa casa comum”, escreve ele nas páginas iniciais da Laudato si’, “inclui a preocupação de unir toda a família humana” (Laudato si’ 13).
Sim, a primeira encíclica do Papa Francisco abre sem dúvida uma nova página não só na história da doutrina social do magistério da Igreja católica, seguindo o exemplo da encíclica Rerum novarum, mas também na história da própria Igreja.
Agora existe um antes e um depois da Laudato si’. Não há dúvida de que a “ecologia integral” almejada pelo Papa Francisco não é uma moda passageira ou um fogo de palha entre os bancos da Igreja.
Algo novo e irreversível está sendo vivido dentro do cristianismo católico. E só se pode constatar que esse “algo” ultrapassa seus limites visíveis.
Nove anos após a sua publicação, muitos cristãos de todas as orientações e humanistas agnósticos encontram na Laudato si’ um recurso espiritual, um dinamismo inspirador para a renovação pessoal e a transformação da sociedade.
Artigo é de Willian Clapier, ensaísta e autor de Effondrements ou révolution? Fin du monde ou fin d’un monde… Un appel au sursaut spirituel (Le Passeur, 2020), e Laura Morosini, advogada ambientalista, e diretora da Aliança Europeia Laudato si’, publicado por Le Monde, 14-06-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.