Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Mundanismo, funcionalismo e pragmatismo presentes na Igreja

15/06/2022

                                                                                                                                   Imagem: Vatican Media

Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves

Na missa do Crisma de 2022, na Quinta-feira Santa, 14 de abril de 2022, foi possível observar, mais uma vez, a forte crítica que o Papa Francisco faz a todos e todas sobre o mundanismo. Ele não mede as palavras ao falar da nossa falta de fé e critica aqueles que substituem o Cristo por ídolos mundanos.

Com isso, Francisco apresenta três riscos da atualidade: a mundanidade, o pragmatismo e o funcionalismo. A mundanidade se tornou algo cultuado hoje, a cultura do efêmero e da aparência, ou seja, hoje só nos importamos com algo que é cosmético, aquilo que é relativo à beleza humana e não há mais um desejo de se falar do caráter ético do ser humano e sua conduta.

Nesta perspectiva do mundanismo, Papa Francisco assevera ao afirmar que um sacerdote mundano “não passa de um pagão clericalizado”. Entretanto, também recorro aqui à realidade de sermos membros de uma comunidade que só se preocupa com as aparências, longe de se propor uma entrega em prol dos mais fragilizados e feridos da sociedade.

Uma segunda questão apresentada por Francisco é o pragmatismo. No contexto, Francisco apresenta o pragmatismo dos números. Desta forma, as pessoas são reduzidas a números, como foi visível em nossa realidade brasileira com a pandemia da Covid-19. Nesse período da pandemia, infelizmente, as vidas se tornaram mercadorias; o ser humano se tornou descartável diante do capitalismo que consome tudo e todos. A vida foi reduzida a nada, principalmente em uma visão consumista e antiética que só visa o lucro e descuida dos direitos humanos.

Nesse contexto, devemos nos atentar para o que de fato importa: seguir os passos de Cristo. Jesus fez seu caminho; colocou-se no lugar do outro e, acima de tudo, ouvia aqueles que o procuravam. Ele sobe para Jerusalém e, segundo os Evangelhos, desconserta a todos, desinstala as lideranças que se julgavam intocáveis e convoca aqueles que desejava ter por perto para continuar o seu projeto de vida e esperança (cf. Jo 10,10). Por isso, somos convidados a colocar nossos passos nos passos de Jesus.

Um dos grandes desafios dos nossos dias é o funcionalismo que deixa de lado o aspecto salvífico do Pai. Para Francisco, “o nosso Pai é o Criador: não alguém que faz apenas ‘funcionar’ as coisas, mas Alguém que ‘cria’ como Pai, com ternura, ocupando-Se das suas criaturas e agindo para que o homem seja mais livre. O funcionalista não sabe alegrar-se com as graças que o Espírito derrama sobre o seu povo e das quais poderia também ‘alimentar-se’ como trabalhador que recebe a sua recompensa; mas o sacerdote com mentalidade funcionalista tem o seu alimento que é o próprio ‘eu’. No funcionalismo, deixamos de lado a adoração do Pai nas pequenas e grandes coisas da nossa vida e comprazemo-nos na eficácia dos nossos programas, como fez David, quando, tentado por Satanás, obstinou-se em realizar o recenseamento (cf. 1 Cro 21, 1). Estes são os enamorados do plano de rota, do plano do caminho, não do caminho”.

Somos desafiados a abraçar a mesma causa do Reino abraçada por Jesus; nossa vocação é construir pontes e ser presença reconciliadora em situações complexas, colocando-nos ao serviço para criar, alimentar e sustentar os laços humanos. É urgente propagar o amor que Jesus anunciou, um amor sem medida e cheio de misericórdia.

Francisco conclui afirmado que “Jesus é o único caminho para não nos enganarmos no conhecimento do que sentimos e para onde nos leva o nosso coração; é o único caminho para um bom discernimento, confrontando-nos dia a dia com Jesus como se Ele estivesse também hoje sentado na nossa igreja paroquial e nos dissesse que hoje se cumpriu tudo o que acabamos de ouvir”.

Para tanto, Jesus deve ser nosso exemplo a ser seguido pela sua ética e pelo seu comportamento. Jesus assumiu sua conduta em uma sociedade contrária a tudo que ele pregava. Assim, viver essa realidade é se reencontrar com o essencial: a vida no Espírito que é Deus! Como o próprio Papa acrescenta que: “Não há recompensa maior do que a amizade com Jesus. Não há paz maior do que o seu perdão. Não há preço mais elevado do que o seu precioso Sangue: não permitamos que seja aviltado com uma conduta indigna”.

Para tanto, é necessário observar que Jesus veio transformar o mundo, a começar com a sociedade de sua época, desejava fazê-la refletir e mudar seu posicionamento frente ao legalismo exacerbado. Assim, tratar o próximo com respeito é fazer valer o amor criador de Deus e sua proposta de vivência para o ser humano.

Deste modo, frente aos problemas apresentados por Francisco, devemos nos colocar como ouvintes da palavra, atentos às realidades, comprometidos com os menos favorecidos e sua condição em nossa sociedade! Assim, somente nos despojando de nossas vestes e da nossa prepotência é que conseguiremos seguir adiante e não ter receio de anunciar o Reino de Deus.


Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves é mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em BH, professor de teologia no Instituto Teológico Franciscano (ITF), em Petrópolis (RJ) e membro do Conselho Regional de Formação (CRF) – LESTE II do CNLB.

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