
“Louvado sejas, meu Senhor,
pelo irmão Vento, pelo ar, ou nublado
ou sereno, e todo o tempo pela qual às
tuas criaturas dás sustento”
Pelo vento, São Francisco percebe a ação do Senhor, invisível e suave, mas marcante. O Deus transcendente se torna sensível no vento e assim manifesta a São Francisco a presença do Altíssimo.
Pelo vento, ar, nuvens e sereno, Deus dá o sustento às criaturas. O vento é colaborador do Criador e nos dá sustento. Ligado à significação bíblica, o vento é expressão da presença ativa de Deus que continua a criar por meio do ser humano, seu colaborador e do vento, na irmandade do racional e irracional que se completam. Há também uma colaboração do vento e o ar para o bem da vida do ser humano. O ar e o vento são a simbologia do Deus invisível que sustenta a vida do ser humano e de toda a Criação. Não só no passado, Deus criou, mas continua criando e sustentando o hálito de vida do ser humano e de toda a Criação. O Espírito (ruah) que pairava sobre as águas (Gn 1,2), continua sendo o irmão que acompanha o Criador e as criaturas na aventura e no dom que é a vida.
São Francisco celebra com o irmão vento a itinerância, a criatividade, a liberdade e o eterno recomeçar, de quem vive a experiência mística da desapropriação, mendicância e caminha sobre o impulso do Espírito do Senhor, pois “sopra onde quer” (Jo 3,5). Ele é um peregrino guiado pela ação do vento. Por isso, é todo disposição à escuta do Espírito do Senhor, que é o suporte fraterno da Criação e dos que como ele se colocam no caminho do Senhor.
São Francisco se dedica ao pobre e aos irmãos que com ele seguem o Senhor, a partir de uma escuta atenta com o objetivo de servir ao Senhor nos irmãos e irmãs que vivem com ele. E ao perceber a presença invisível do Criador no irmão e na irmã, ele se coloca em sintonia com o Criador, buscando ser como o vento, suporte para os irmãos e irmãs: não negando sua presença e seu tempo a eles. Com a mesma intensidade que busca o Senhor em longos períodos de silêncio e oração, se dedica também à escuta e ao cuidado dos confrades, dos enfermos e das pessoas mais necessitadas. Por isso, ele exorta a todos os frades a seguirem no mesmo caminho: “Como a mãe ama e nutre seus filhos, devem os irmãos cuidar uns dos outros”.
Por fim, a linguagem simbólica do vento se converte em expressão daquilo que a alma do ser humano procura profundamente. “O irmão vento não é celebrado simplesmente como artífice de uma tarefa cósmica, mas como expressão de uma presença atenta e ativa de Deus em toda a Criação. Eloi Leclerc caracteriza e reconhece que Francisco celebra com o irmão vento a substância fraterna. Na realidade, o vento, como substância fraterna é dinâmico e expressão simbólica daquilo que a própria alma encerra de mais forte e divino no fundo mais profundo de suas energias e que continuamente se oferece a ele: o próprio Sopro do Criador”.
O irmão vento é colaborador para o sustento das criaturas de Deus. E nós, em sintonia com aquele que nos dá o sustento contínuo e sustenta toda a Criação, somos vocacionados a ser também essa presença na vida dos irmãos e irmãs. Presença suave, que respeita e reconhece a liberdade do outro, mas que está em contínuo diálogo, escuta e serviço, como o Criador que sustenta a Criação.
Frei Jorge Paulo Schiavini
Bibliografia: Brás José da Silva. A Fraternidade Cósmica na Perspectiva do Cântico das Criaturas – https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/37870/37870_6.PDF. Pág.: 316-318.


