“Louvado sejas meu Senhor, com todas
as tuas criaturas, especialmente o Senhor
Irmão Sol, que clareia o dia e com sua luz
nos alumia. E ele é belo e radiante com grande
esplendor: de ti, Altíssimo é a imagem”
Sol …o centro de nosso sistema planetário, estrela média diante de outras milhares, mas essencial em nossas vidas (cf, Mt. 5,45). Sem o sol não haveria calor, vida, alimentos. Francisco, admirado com a graça que Deus concedeu a todos nós pode exclamar: “Louvado Sejas meu Senhor…” Louva dois sóis… o primeiro refere-se ao astro luminoso fonte de radiação pela fusão de hidrogênio transformado em hélio…mesmo sem saber dessa reação radioativa e diga-se, o que importa é que nos aquece e faz tudo florescer, sabe que é dom de Deus que tudo provê ao ser humano. (tg.1,17)
O segundo sol é Jesus Cristo… o Sol da justiça que ilumina tudo e todos nesse mundo e que deve aquecer os nossos corações com o amor e a misericórdia. Se o astro-rei, o sol é o centro do nosso sistema planetário, Jesus Sol de Justiça, deve ser o centro de nossas vidas, seja pessoal, seja comunitária. De que forma? Usando dos atributos desse Sol de Justiça: amor e misericórdia. O amor leva à comunhão fraterna, devo amar meu irmão, corrigi-lo, admoestá-lo, sempre buscando a comunhão e nunca a divisão. Alguma vez lemos ou ouvimos dizer: S. Francisco se vingou…deu o troco…? Pelo contrário, as muitas e diversas narrativas de sua vida mostram sempre o amor apesar do erro, falha ou pecado. Poderíamos citar muitos textos, mas quero recordar aquele dos ladrões que ao pedirem comida a Fr. Ângelo receberam dura reprimenda …e depois Francisco, ao saber, mandou-o desculpar-se em seu nome. (Fior 26) Exemplo de amor a todos …”Deus não faz acepção de pessoas” (At 10,34). Portanto, não excluamos nenhum confrade de nossas fraternidades, deve haver correção e conversão, sempre…sem vencidos ou vencedores pois, quem vence é o amor ensinado pelo Rei que ilumina tudo e todos. O Evangelho é claro, se não há conversão, permaneço à sombra por escolha pessoal.
Quando Francisco compôs o cântico e também a melodia, que ensinou a seus companheiros, tinha em mente algo precioso: deveria ser declamado para abrir os olhos e o coração das pessoas insensíveis, proporcionando a conversão. (Cf. Vivere il Cantico delle creature pg.33. Ed. Menssaggero, Padova).
Amando aprenderemos a ter misericórdia. Ser misericordioso não é ser bobo, fazer que nada vê e nada sabe. Quantas vezes fingimos não ver esse sol.…vivemos no faz de conta, ao passo que misericórdia (miserere = ter compaixão, e cordis = coração) exige que tenhamos um coração bondoso, compassivo, que perdoa, mas que corrige com amor. (cf.Ad X).
Um verdadeiro pai não pune, ensina e converte através do exemplo, assim entre tantos textos, temos o da parábola do filho pródigo (Lc.15,11-31). Francisco, através sua profunda experiência de oração e conhecimento da Sagrada Escritura sabe que “Deus nos salvará unicamente por sua misericórdia.” (RNB 23,24). A misericórdia divina está na origem da vocação franciscana (1 cel 3) e de seu amor para com os leprosos. “Ele recebe e transmite a misericórdia; de objeto se torna sujeito”: “Eu tive misericórdia com eles” (Test 2. verbete misericórdia in dicionário Franciscano pág. 434) Daí também ser chamado “ sol de Assis”, brilhou e hoje brilha no mundo como um sol que transmite a nós todos, o cântico das criaturas. Nosso desafio pessoal e fraterno é gigantesco: vivermos em profunda sinceridade o amor e a misericórdia, amando o filho que foge, banhando e abraçando o leproso, atendendo o irmão que chora, permitir que o pobre ao menos possa bater em nossas portas e receber algo a comer e conclamando o povo a louvar a Deus nosso Pai por tudo que nos deu, pelo amor e misericórdia e dizer a cada dia como Francisco: Altíssimo, Onipotente e Bom Senhor, Teus são o Louvor, a honra e toda glória. Amém.
Frei Gilberto Marcos Sessimo Piscitelli