Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Eu queria falar de Natal

27/09/2008

Frei Hipólito Martendal

1. Introdução – No artigo anterior, de número 15 deste Boletim, escrevi sobre o fascínio que São Francisco exerce sobre a humanidade. Como motivo de tão grande admiração apontava o fato de ele haver encarnado a essência do cristianismo. A seguir desenvolvia a idéia de que existe uma convergência entre aquilo que é autenticamente humano e cristão. Tendo São Francisco sido um cristão completo, acabou revelando-se um ser humano encantador.

2. O Irmão Ladrão – No final do artigo escrevi: “Até o assaltante era chamado de ‘irmão ladrão’, a quem o guardião devia dar alimento quando batesse em sua porta” e não sermão mal-humorado.

Na verdade, não havia mais espaço para contar o episódio atribuído a São Francisco e ladrões. Conta-se que três gatunos chegaram à portaria de um conventinho paupérrimo dos frades para pedir comida. Naquele tempo até assaltantes tinham fome. O guardião ficou indignado. Passou-lhes um sermão-descompostura e os despachou sem nada. São Francisco também se indignou, mas com a rudeza de coração de seu confrade. Deu ordens para que os ladrões fossem localizados e conduzidos de volta ao conventinho. O guardião teve de pedir perdão aos larápios e servir-lhes em refeição o pouquíssimo alimento de que dispunham os frades.

Não pretendo fazer mais considerações sobre esse episódio, quiçá lendário. Mas o texto que virá deverá torná-lo mais claro e significativo.

3. Luta por Mudanças – Em nossos dias as denúncias de desvios, abusos e gravíssimos crimes contra os direitos humanos são tão freqüentes que muitas pessoas já não suportam mais noticiários para não se angustiarem. Por outro lado, nunca na história existiram mobilizações em tão grande escala de Ongs, movimentos e instituições tradicionais pelos direitos humanos, contra toda sorte de abusos. Há muitos elementos positivos em tais mobilizações, pois o pior de tudo é a ignorância e a indiferença diante de nossos problemas.
Mas, o perigo não está nas intenções, nem nos objetivos propostos. O perigo é a forma como tais objetivos são procurados. Fala-se demais em luta. Luta-se por tudo como se fosse a única forma de se conseguir qualquer coisa. Ora, o termo luta provoca necessariamente associações de idéias de antagonismos, ódios, violência, destruição, morte. Sinto certa ojeriza só em ouvir falar em luta na maioria das situações. Admito perfeitamente a necessidade de luta no interior de cada ser humano pelo seu próprio aperfeiçoamento moral e espiritual, principalmente para controlar todos os defeitos e más inclinações que comprometem uma sadia convivência fraterna. Em todas as situações onde ocorrem conflitos, choques de interesses e de necessidades, devem prevalecer a negociação leal e honesta e o diálogo.

4. Antes do diálogo, porém, precisamos identificar vários antecedentes e pressupostos. Em primeiro lugar, os dialogantes necessitam de convicção de que toda a forma de luta que envolve disputas sempre gera violência. Todos precisam renunciar a qualquer forma de trapaça, de manipulação e de chantagem. Há ainda muitas coisas que dificultam ou impossibilitam o diálogo e que são difíceis de serem observadas num pequeno escrito como este. Acredito, contudo, que ambições e desejos exagerados, principalmente os de posse e poder, incapacitam muitas pessoas para o diálogo.

5. Jesus em relação às pessoas em geral não se coloca em posição de diálogo, porque sua situação era única. Tratava-se de anunciar algo tão extraordinário e novo, destinado a gerar tal impacto que levasse as pessoas a mudar todo o seu modo de ser e de atuar frente aos outros seres humanos e Deus. Ele chama a isso de Evangelho (=Boa Nova) de Conversão. Jesus qualifica o conteúdo de sua pregação, o Reino de Deus, de Tesouro escondido, de Pérola de grande valor. Quem encontra tal Tesouro, vai, vende tudo e… Então escutamos Francisco ouvir a narração evangélica do envio dos apóstolos totalmente desprovidos de dinheiro e recursos: “É isso que quero, é isso que procuro, é isso que desejo de todo o coração”.

Jesus não dialoga porque seu papel é anunciar. Mas Ele está tranqüilo porque todo ser humano autenticamente convertido ao Reino de Deus tem as melhores qualidades e condições para o Diálogo.

6. São Francisco conseguiu melhor do que ninguém compreender a natureza do Reino de Deus e vivenciá-lo dia a dia. Embora não falasse em diálogo, teve um rico conjunto de atitudes geradoras de diálogos: pobreza, minoridade, renúncia a desejos pessoais, total respeito a qualquer ser humano e radical disposição de servir a todos. Aqui está em resumo o que ele entende por viver o Evangelho. Feito o menor de todos na escala social, pôs-se a serviço de qualquer ser humano, independente de qualquer condição ou impedimento. Por isso, o ladrão era o irmão a ser acolhido e alimentado. O sultão do Egito, inimigo declarado dos cristãos, precisava ser visitado, servido e não combatido.

Francisco entendia que essa era a única forma de chegar realmente ao coração dos seres humanos e leva-los a Deus e à convivência fraterna entre si. Pregação, exortação e palavras de incentivo podem mover pessoas. Mas o serviço humilde e desinteressado, o lava-pés, constitui o único acesso ao coração de pessoas mais difíceis, magoadas, ofendidas, revoltadas e inimigas!

7. Eu queria falar de Natal. Já estou quase no fim do espaço e nada falei de Natal. Mas se você reler o que foi escrito até aqui e procurar entender o que vem a ser o tão falado Espírito do Natal, perceberá que tudo tem a ver com nosso tema.

Do que a humanidade mais necessita hoje? De paz, convivência em harmonia de todos com todos, de garantir vida digna a todo ser humano.

Ora, quem foi que inventou essa de perdoar sempre e servir interminavelmente até aos inimigos? Foi Jesus, cujo Nascimento em nosso meio celebramos. Tenho certeza de que o Espírito de Jesus, do Verbo que renunciou à sua condição divina para nascer tão frágil e precariamente na pobreza da periferia do mundo de 2000 anos atrás, é e será sempre a resposta para qualquer convivência humana decente e feliz.

Você quer viver bem o seu Natal? Esqueça um pouco seus anseios, desligue-se de si próprio, olhe para o Menino de Belém que se esqueceu que era Deus, pense em São Francisco totalmente embriagado de alegria na noite de Natal de Greccio… pense em cada uma das pessoas com as quais convive e pergunte o que você pode dar de si para cada uma delas, principalmente para aquelas que tornam seus dias às vezes mais difíceis. “Natal é vida que nasce”. Natal é seu coração de gelo que se faz abrigo de calor e ternura para quem dele precisar. Natal é o AMOR que triunfa.

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