Quando percorremos a vida dos amigos do Senhor, desses que chamamos de “santos”, temos diante dos olhos pessoas normais (mas corajosas!) que cavaram nelas amplo espaço para a ação do Mistério. Deixaram-se tocar pelo Evangelho e suas solicitações. Experimentaram, como Elias, o Deus da brisa que lhes acariciavam o rosto. Fascinação, encantamento, assombro.
Com São Francisco Assis vemos que a pessoa de Cristo surge imediatamente diante de seu olhar límpido e extasiado. A essência do cristianismo não é uma doutrina, mas uma pessoa, Cristo vivo e ressuscitado. No caminho espiritual de Francisco está precisamente a pessoa de Jesus, em primeiro plano: grande, linda, iluminadora, encantadora. Tudo o mais, mesmo as coisas importantes e as solicitações do Evangelho, não estão no primeiríssimo lugar. Sempre o encanto por Jesus. Sem ele, não se entende Francisco de Assis.
Frei David de Azevedo, OFM, brilhante frade português, assim escreve: “Diante da pessoa de Jesus, a atitude de Francisco é toda de amor. Poderia ser de curiosidade, de interesse, de temor. Mas não. É toda gratidão, assombro, encanto. Quando depois da proeza de beijar o leproso, Cristo lhe aparece na capelinha de São Damião, crucificado, mendigo, pedindo-lhe ajuda, a alma de Francisco fica verdadeiramente e para sempre “colada” à pessoa de Jesus. Toda a sua vida foi um processo de enamoramento. Progressivo em intensidade, mas a qualidade da relação, essa ficou definida desde aquele momento: era amor, só amor. Não queremos dizer que não entrassem nele outros sentimentos: o que queremos acentuar é que nunca houve uma involução egoísta sobre si mesmo, nem um diversão distrativa para áreas laterais, mesmo apostólicas, que desfocassem o seu olhar. A pessoa de Jesus como ponto de mira, e o enamoramento, como forma de relação, definem a sua atitude. Esta referência enamorada pertence ao cerne da espiritualidade franciscana. É a fibra mais íntima e mais fina da alma de Francisco” (São Francisco. Fé e Vida, Frei David Azevedo, OFM, Ed. Franciscana, Braga, p. 22).
Terminamos com uma citação de Tomás de Celano, primitivo biógrafo do Poverello: “Os irmãos que viveram com ele, sabem com quanta ternura e suavidade, cada dia e continuamente, falava-lhes de Jesus Sua boa falava da abundância do coração e gente teria dito que a fonte do puro amor, que enchia sua alma, jorrava de sua superabundância. Quantos encontros entre Jesus e ele. Levava Jesus e seu coração, Jesus em seus lábios, Jesus nos ouvidos, Jesus nos seus olhos, Jesus em suas mãos, Jesus em toda parte. Durante as viagens também, muitas vezes de tanto meditar e cantar Jesus, esquecia-se de caminhar e convidava todos os elementos a louvar Jesus com ele” (1Celano 115).
Na Primeira Sexta-feira de cada mês contemplamos a beleza, o comprimento, a largura e a profundidade desse Coração que nos amou até o fim. Que ele continue nos fascinando e encantando.
Frei Almir Guimarães