Dietrich Bonhoeffer, notável teólogo e pastor luterano alemão, foi executado com outros prisioneiros na última guerra mundial. Sua pessoa se tornou uma legenda. Um homem do Evangelho, lúcido e corajoso. A ele é atribuída esta afirmação: “O fardo dos homens foi tão pesado para o próprio Deus que ele precisou com tal peso ir até a cruz. Deus nos carregou e suportou como uma mãe carrega seu filho, como um pastor a ovelha perdida”.
Somos seres misteriosos. Ao longo dos anos da vida vamos nos descobrindo. Ficamos encantados com paisagens que iluminam nosso olhar, agarramos a mão que nos é estendida para sentir as palpitações da mão do outro, cantamos, dançamos, festejamos a ventura de viver. Num determinado momento da vida damo-nos conta que existimos para… Braços, pernas, inteligência, dias ou noites, tudo. Existimos para amar e sermos amados. Nunca aprendemos. Somos sempre noviços na arte de amar. Não temos muito jeito para o dom, salvo exceções. E a desordem, a loucura do pecado nos afasta do amor. Vamos nos banalizando e perdendo a veste nupcial para entramos na sala de festas do banquete de amor.
Ele que nos inventou colocou em nosso interior uma insaciável saudade dele. Fez-nos à sua imagem e semelhança. O sonho de Deus era sempre o de estar perto de nós. Estar conosco, caminhar conosco, mostrar um caminho luminoso para ser percorrido. Ele nos fez livres para que livres respondêssemos aos seus convites.
Os evangelhos e as páginas dos escritos dos apóstolos mostram um Deus compassivo que deixa as noventa e nove ovelhas no cercado e se embrenha nas dores dos espinheiros, que sugere que uma mulher da Samaria beba uma água que ele tem escondida dentre dele, que livra uma mulher pecadora de um apedrejamento, que corre para abraçar seu filho que insensatamente havia se afastado do território do amor, um Deus que para na estrada e pergunta Bartimeu, o cego e lhe devolve a vida.
Bonhoeffer lembra que o fardo foi pesado demais para Deus. Ele, efetivamente nos levou como uma mãe leva seu filho ou como um pastor busca a ovelha perdida.
Frei Almir Ribeiro Guimarães