Vida Cristã - Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil - OFM

Dialogando com o filho ressentido

15/05/2019

                                                       Imagem ilustrativa (Filho Pródigo de Peter Brandl – Domínio Público)

Pe. Ademir Guedes Azevedo, cpEstamos atravessando muitas mudanças nos vários âmbitos da vida. A política sofre uma contundente degradação. O respeito pelos direitos básicos à vida, sobretudo dos mais vulneráveis, não entra no princípio elementar do bem comum. Na verdade, vê-se  a garantia dos interesses dos mais fortes. A religião, por sua vez, assiste a uma errônea interpretação dos seus fundamentos, principalmente no que toca à busca profunda por Deus e o amor ao próximo. Veja-se, por exemplo, as críticas de baixo calão nas redes sociais dirigidas aos irmãos e irmãs que se empenham em viver uma fé inserida na concretude cotidiana. Essa atitude de agressão dos assim chamados conservadores pode ser interpretada como um grito de ressentimento: os outros não merecem mais do que nós. Somos nós, os verdadeiros guardiões da fé, que merecemos a melhor parte, tendo em vista que nos mantemos fiéis ao dogma. Mas será que esses nossos irmãos ressentidos interpretam o dogma com honestidade?

Esse tipo de ressentimento nos remete aquela história dos dois filhos da parábola de Lc 15,11-32. O mais jovem, regressando à casa, foi acolhido sem objeções pelo seu pai que faz festa com o reencontro. O filho mais velho, tomado de ressentimento, não admite isso porque se julga verdadeiro merecedor pelo fato de estar sempre com o pai, considera-se o senhor da verdade. Essa história tem seus desdobramentos. O filho mais jovem aprende com as quedas e decepções. Ele cresce com a vida e amadurece à medida que descobre a misericórdia do Pai quando já está afogado la lama dos porcos. Esse filho mais jovem, na verdade, encontra Deus na kénosis da existência, naquelas experiências mais humilhantes e dolorosas. Mas é só assim que amadure a sua fé.

Por outro lado, o filho mais velho age motivado por certezas abstratas. Como não fez a experiência kenótica, sente-se seguro dentro dos seus padrões dogmáticos, nas suas certezas descontextualizadas. Insiste que a ideia é superior à realidade, ou seja, é seguro que são os outros que estão errados, que são estes que devem adequar-se a uma ideia de Deus preestabelecida. Possuído por um narcisismo dogmático, escolhe permanecer fechado na casa do pai, distanciando-se da cultura. Para ele, o mundo lá fora é cheio de pecado porque não conhece ainda o pai. Como ele está sempre ao lado do pai, mas separado das relações, plasma uma relação meramente vertical – eu e Deus basta – a qual nutre desconfiança para com o mundo do outro. Esse é o pior dos ressentimentos.

Tudo indica que é também esta a causa das confusões eclesiais que estamos testemunhando hoje. Os  esquecidos, invisíveis, abandonados, irmãos e irmãs que eram olhados por baixo, hoje mais do que nunca, são a motivação de uma nova eclesiologia que se baseia no estilo de Jesus. A acolhida, sem aquela cega racionalização que fecha os olhos às necessidades mais urgentes, é a ponte que nos faz experimentar a festa da misericórdia. Sair para procurar o filho mais jovem é a urgência pastoral por excelência que assume o primeiro lugar no discurso do Papa Francisco e daqueles que se deixam modelar pelas experiências fortes da vida, as quais amadurecem a nossa fé.

É justamente a não aceitação deste programa pastoral, contido em Evangelii Gaudium, que está gerando o ódio no coração do filho mais velho, representado hoje sobretudo por teólogos, adeptos de partidos políticos de extrema direita que se agarram a um discurso nacionalista, nutrindo ódio aos estrangeiros e aos pobres. Esses irmãos ressentidos criam canais no Youtube e usam as outras redes sociais para propagar terrorismo com uma hermenêutica equivocada dos documentos do magistério, divulgam notícias descontextualizadas e tentam convencer os internautas que a verdadeira Igreja de Cristo não tem nada a ver com as questões sociais nem com as necessidades urgentes da vida. Enfim, insistem em viver exclusivamente na casa do pai, separados da cultura e da realidade, como o filho mais velho da parábola.

Diante de tanta confusão, a melhor opção é aquela da Misericórdia e do diálogo aberto que curam o nosso ressentimento e aquela presunção diabólica de querermos ser melhores que os outros. Assim, poderemos limpar a nossa alma, nutrindo o nosso coração com os mesmos sentimentos de Jesus e aceitar a festa da misericórdia que o Pai nos oferece cada vez que nos amamos e nos respeitamos.


Pe. Ademir Guedes Azevedo é missionário passionista e mestrando em teologia fundamental na Pontifícia Universidade Gregoriana.

Download WordPress Themes
Download Nulled WordPress Themes
Free Download WordPress Themes
Download WordPress Themes Free
download udemy paid course for free
download samsung firmware
Download WordPress Themes
download udemy paid course for free

Conteúdo Relacionado