A devoção ao Sagrado Coração de Jesus tem origem no ano de 1675, com a religiosa Margarida Maria Alacoque. Segundo a tradição, ela teve uma visão de Jesus mostrando-lhe o seu coração e pedindo que fosse realizada uma celebração em honra ao Sagrado Coração de Jesus, no oitavo dia depois da festa de Corpus Christi, isto é, numa sexta-feira. Nesse dia, todos deveriam comungar e fazer o desagravo do Coração de Jesus com muita piedade. O povo tinha medo de comungar. Havia um sentimento de poder comungar a própria condenação ao inferno.
Essa visão é fruto dos ensinamentos de um holandês, chamado Cornélio Jansênio. Ele pregava um Deus carrasco que punia os pecadores. O pedido de comungar e, mais tarde, de nove sextas-feiras ou o ano todo, em honra ao Sagrado Coração de Jesus foi uma resposta ao jansenismo.
O outro pedido, o do desagravo do Sagrado Coração, é uma devoção, uma piedade popular antiga na Igreja que consiste em fazer um ato de reparação de algo que foi feito de maneira errada. Por exemplo: o Santíssimo foi profanado. Então, era necessário fazer um ato de desagravo do Santíssimo. O desagravo do Sagrado Coração de Jesus se justifica porque segundo o evangelho de João, e somente ele, Jesus recebeu um golpe indevido de lança no seu coração, uma violação (Jo 19,34), seu coração foi dilacerado. O amor não foi amado. E o que é pior, Jesus morreu na cruz sem ser culpado de nada. Esse é o sentido originário da festa do Sagrado Coração, que logo se espalhou pela Europa e pelo mundo cristão.
A devoção ao Sagrado Coração só faz sentido na perspectiva da misericórdia e dos desagravos que assolam o nosso tempo. Coração, a ação do cor, é o da misericórdia, da solidariedade com os empobrecidos de nosso tempo. Misericórdia, como bem definiu o Papa Francisco, é o “ato de sujar as mãos, de tocar, de pôr-se em jogo, de querer se envolver com o outro, de dirigir-se àquilo que é pessoal com aquilo que mais pessoal, não se ocupar com um caso, mas se comprometer com uma pessoa, com sua ferida.” Esse é o sentido hoje da festa do Sagrado Coração de Jesus.
Frei Jacir de Freitas Faria, OFM